Quando algum problema acontece com um estudante, é comum questionar a responsabilidade do colégio na questão - a exemplo do que se passa na série 13 reasons why, da plataforma de streaming Netflix, em que, após o suicídio de uma jovem, a mãe entra na Justiça contra a escola por entender que a instituição foi omissa. Mestre e doutora em educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Andrea Ramal destaca que não é incumbência dos colégios fazer nenhum tipo de diagnóstico ou terapia, mas eles têm, sim, uma função importante nesse sentido. "Não é vocação das instituições oferecer tratamento. O papel da escola é perceber sinais e entrar em contato com a família", alerta. Um obstáculo nesse sentido é o fato de os cursos de formação de professores dificilmente abordarem a saúde mental. "Os educadores são treinados para identificar outros transtornos, como dislexia e TDAH (Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade). Esses são mais facilmente descobertos porque o resultado aparece imediatamente na capacidade de aprender", analisa.
"É mais complicado com distúrbios ligados ao emocional", compara ela, que deu aulas de português, literatura e redação ao longo de 20 anos. Outra barreira são turmas cheias, ás vezes, com 30, 45 ou mais alunos. "é difícil detectar transtornos diante de superlotação. Mas isso não é desculpa para que o professor se limite a dar a matéria. Há problemas de relacionamento que se apresentam em aula que vale a pena parar e discutir", orienta. Unidades de ensino que adotam metodologias de ensino ativas, em que atividades de interação são valorizadas, têm mais facilidade de conhecer os estudantes e, assim, dar apoio aos que precisam. "O modelo de ensino tradicional, onde o professor é apenas transmissor do conteúdo, não é ideal. Hoje em dia, ele deve muito mais ser um orientador, um dinamizador, um motivador", recomenda a fundadora da ID Projetos Educacionais. "Se o professor não fica só explicando e explicando consegue fazer uma observação comportamental melhor", argumenta. A dica de Andrea Ramal é que educadores fiquem atentos a qualquer sinal de mudança ou nervosismo nos alunos.