Ele possui um acervo de mais de 150 mil fotos, que mostram parte da trajetória do Rio de Janeiro desde o final do século 19 até os anos 1980.
Na edição de sábado (10/02) do The New York Times, um artigo deu destaque à coleção do brasileiro, destacando principalmente o Carnaval carioca, que é justamente o tema mais presente em suas fotos.
Ao jornal, o brasileiro contou que tudo começou em 2018, quando ele encontrou uma pilha de negativos no chão, em uma feira de antiguidades do Rio de Janeiro.
Desde aquele dia, Rafael Cosme juntou milhares fotos e negativos de filmes, praticamente todos feitos por amadores de um período que vai de 1890 a 1980.
Os registros vão desde de impressões de 100 anos com tonalidade sépia até slides Kodachrome saturados de 60 anos.
Ele destaca que as imagens são um importante registro da história do Rio, revelando tendências da moda, libertação sexual e humor do povo.
“Percebi que há inúmeras histórias que eu poderia contar sobre esta cidade. Porque dentro de cada casa, dentro de cada armário, existe uma caixa com revelações”, destacou Cosme.
Além de tê-las em papel, Rafael Cosme compartilha parte das imagens histórias nas redes sociais.
'Dentro de um envelope de negativos que encontrei recentemente, havia uma série de fotografias do carnaval de 1954. São cenas dos blocos e cortejos pela Cinelândia e Rio Branco. A fotografia amadora conta a história do país', escreveu.
Em uma postagem, ele mostra uma série de fotografias do Carnaval de 1954. As cenas mostram pessoas curtindo as festas de rua na tradicional Avenida Rio Branco, no centro da cidade.
Cosme explicou ao The New York Times que começou a coleção em 2018, quando se interessou por fotografias antigas que haviam sido esquecidas e ignoradas.
O cuidadoso trabalho de Cosme serviu para resgatar uma parte importante da história visual do Rio do esquecimento ao longo de quase cem anos.
O Carnaval brasileiro, como é conhecido hoje, é resultado de uma rica mistura de influências, com raízes que remontam a diferentes culturas e momentos históricos.
Festas africanas, portuguesas e italianas tiveram forte influência no que se tornou o Carnaval do Brasil.
Foi no fim do século 19 que surgiram os primeiros blocos e cordões carnavalescos, que desfilavam pelas ruas com muita música, fantasias e dança.
Antes de ganhar um aspecto popular, era a elite que desfilava em carros abertos pela cidade. Segundo Maria Clementina Pereira Cunha, uma historiadora que estudou o Carnaval do Rio, era uma forma de eles mostrarem sua riqueza.
No entanto, quando as pessoas dos subúrbios também começaram a juntar dinheiro para alugar carros e desfilar, essa moda começou a ganhar novos adeptos na camada mais pobre da população.
“As mães costuravam e bordavam para que os filhos ficassem bem apresentados no Carnaval. É por isso que eles queriam que sua fotografia fosse tirada”, explicou a historiadora ao The New York Times.
As fantasias muitas vezes referenciavam elementos da cultura popular da época, o que nem sempre dá para ser decifrado com os olhos de hoje.
Outra fantasia bem comum era de palhaço, que foi se tornando mais “aterrorizante” ao longo do tempo. Quem se vestia assim, tentava assustar outros foliões; foi assim que nasceram os “bate bolas”.
O acervo de Rafael Cosme também guarda parte do início da história das escolas de samba, no fim dos anos 1920, e da criação da Marquês de Sapucaí, em 1984, que se tornou o grande palco dos desfiles das maiores agremiações Rio.