Ele trabalhou como comissário de bordo na United Airlines, uma das maiores companhias aéreas do mundo.
Só tem um detalhe: ele nunca foi, na verdade, Eric Ladd. O comissário era o brasileiro Ricardo Cesar Guedes, nascido em São Paulo.
Ricardo havia assumido a identidade de William Ericson Ladd, que morreu aos 4 anos, num acidente de carro em 8/8/1979.
O "Domingo Espetacular", da TV Record, contou essa história em 2022. Martin de Luca, especialista em Direito Internacional, disse que "roubos" de identidade costumam acontecer nos EUA para viabilizar a imigração. Mas a história de Ricardo foi duradoura e surpreendeu os colegas de trabalho.
O mecânico de aviões e youtuber Lito Sousa trabalhou na United Airlines e disse que "Eric" era "muito educado, muito cortês e apaixonado por aviões". Lito afirmou que as pessoas jamais poderiam imaginar que ele usava identidade falsa.
Tudo começou em 1996, quando, após entrar nos EUA com o nome verdadeiro e visto de turista, Ricardo conseguiu emitir o documento de seguridade social (equivalente ao CPF no Brasil), em nome de William Ericson Ladd.
Depois disso, Ricardo tirou o passaporte e arrumou emprego na United Airlines. O comissário de bordo viajou a trabalho para vários países e conseguiu renovar o passaporte americano seis vezes.
As autoridades americanas só começaram a investigar uma possível fraude em 2020, quando o comissário entrou com um pedido para incluir o sobrenome do marido nos documentos. Ele queria que o companheiro (brasileiro) conseguisse o greencard (visto de permanência nos EUA).
Ao pesquisar a documentação de Eric Ladd, os funcionários do governo americano estranharam que ele só tivesse número de seguridade social a partir da idade adulta.
Eric foi investigado durante mais de um ano até que, pelas redes sociais, os policiais identificaram uma mulher no Brasil que parecia ser a mãe dele.
Com ajuda do governo brasileiro, eles conseguiram as impressões digitais do filho dessa mulher e... bingo: eram as mesmas do homem que se passava por Eric Ladd.
Ricardo foi preso em setembro de 2021 no aeroporto de Houston.
A United Airlines disse que Ricardo deixou de ser funcionário e que a empresa seguia um processo rigoroso para as contratações, de acordo com as leis federais.
A polícia abriu investigação sobre a forma como Ricardo conseguiu tornar-se Eric, oficialmente, obtendo documentos fundamentais da cidadania americana.
O especialista em Direito Internacional Martin de Luca acha que a descentralização da emissão de certidões nos anos de 1990 pode ter facilitado. Cada estado cuida dos documentos na região e pode ter faltado comunicação: "Hoje isso não ocorre mais".
Ricardo foi indiciado pelos crimes de declaração falsa, roubo de identidade, falsidade ideológica e entrada fraudulenta em áreas de segurança de aeroportos.
E você? O que acha dessa história mirabolante?