Ele fica localizado nas areias do deserto, em um lugar conhecido como o "Vale da Paz". Lá, mais de 6 milhões de pessoas repousam, homenageadas por flores, fotografias e bandeiras religiosas.
Entre os mortos do Wadi-us-Salam, estão pessoas que foram vítimas de guerra, doenças, acidentes e velhice.
Anualmente, peregrinos de outros lugares viajam para visitar o cemitério, que abriga os restos mortais de profetas, nobres árabes, cientistas, entre outros.
Nesse lugar escuro, cheio de túmulos, abóbadas e catacumbas, as lágrimas e as orações são como a moeda da vida cotidiana.
A área foi construída perto do mausoléu do respeitado Imam Ali, uma figura central no Islã xiita.
Um homem que viajou 180 km de Bagdá, compartilha seus sentimentos: "Estou triste, é claro. Mas também estou feliz. Sei que, quando chegar o Dia do Juízo, meu pai estará com o Imam Ali."
Segundo um historiador local, para os xiitas, que formam a maioria religiosa no Iraque, é de grande importância ser enterrado próximo ao Imam Ali.
No cemitério histórico, também repousam sultões, soldados, sacerdotes, profetas e também muitos cidadãos comuns.
Desde a morte de Ali em 661 d.C., e seu enterro próximo a este local, as pessoas optaram por não sepultar mais seus entes queridos em outro cemitério senão no Wadi-us-Salam.
Najah Marza Hamza, gerente de uma empresa funerária, explica que cavar uma sepultura no Wadi-us-Salaam custa 150 mil dinares (cerca de R$ 238 mil), e as lápides têm preços entre 250 mil e 300 mil dinares (equivalente a R$ 397 mil a R$ 476 mil).
Estima-se que mais de 6 milhões de pessoas repousem neste cemitério, sendo predominantemente xiitas iraquianos, mas também incluindo iranianos e paquistaneses, de acordo com alguns historiadores.
Para Hakim, ex-presidente da vizinha Universidade de Kufa, o número de enterrados pode ser muito maior, mas é impossível quantificar.
Em 2011, o Iraque apresentou à Unesco uma estimativa de que o cemitério cobre uma área de 917 hectares, equivalente a mais de 1,7 mil campos de futebol, e o descreveu como "o mais antigo e maior cemitério do mundo".
Não existem mapas para guiar os visitantes pelo cemitério, que pode se tornar um enorme e complexo labirinto.
Uma curiosidade é que o próprio Guinness Book reconheceu o Wadi-us-Salam como o maior cemitério do mundo.
Por conta do volume de visitantes, não é incomum encontrar congestionamentos quilométricos nas imensas avenidas que cortam o cemitério.
Muitas das pessoas enterradas em Wadi-us-Salam foram vítimas da violência que afetou o Iraque, especialmente nas últimas décadas marcadas por ditadura, guerras e conflitos sectários.
Uma das lápides, por exemplo, exibe a foto de um jovem sorridente em uniforme do Exército iraquiano, identificado como "o mártir Ahmed Nasser al-Mamouri, falecido em 7 de abril de 2016".
Outros indivíduos enterrados perderam a vida durante os períodos anteriores de tristeza e tragédia no Iraque, incluindo a guerra de 1980-1988 com o Irã durante o governo de Saddam Hussein.
Outro soldado, chamado Hassan Karim, foi registrado em uma tumba de mármore como falecido "mártir" em 1987, ao final do conflito com a República Islâmica, que durou cerca de oito anos.
Abu Mehdi al-Mouhandis, tenente iraquiano do influente general iraniano Qassem Soleimani, também está enterrado no cemitério Wadi al-Salam – ambos perderam a vida em um ataque de drone dos Estados Unidos em janeiro de 2020..
Recentemente, a pandemia de Covid causou um aumento significativo na mortalidade dos iraquianos. "Durante a pandemia de coronavírus, tivemos 5 mil a 6 mil corpos a mais ao longo de um ano", relatou o coveiro Thamer Moussa Hreina.
Ainda de acordo com o coveiro, eles chegaram a ter que enterrar mais de 200 corpos por dia.