A identificação de Bob Marley com a Jamaica é tão forte que diversas excursões pelo país levam o nome do músico. E um dos lugares visitados é a casa dele (foto), na vila de Nine Mile, em Saint Ann.
Vamos, então, lembrar da vida e da carreira desse cantor, compositor e guitarrista especial, que eternizou seu nome na história. Marley morreu precocemente, aos 36 anos, e teve apenas 18 anos de atividade profissional, mas deixou um legado inesquecível.
Robert Nesta Marley nasceu em 6/2/1945, filho de pais jamaicanos: Norval, capitão do Exército inglês, branco, e Cedella, jovem pobre e negra, nascida em Nine Mile, a mesma vila onde ela deu à luz Bob.
O pai de Bob abandonou a mulher grávida e foi para a Inglaterra. Não conheceu o filho que se tornaria famoso. Aos 10 anos, Bob, a mãe e o padrasto foram para a capital Kingston. Moraram na favela mais miserável do país: Trenchtown (foto). A comunidade é citada na música 'Alagados', dos Paralamas do Sucesso.
Desde a infância, Bob tinha uma forte ligação com a música. E ele decidiu montar uma banda, em 1962, com os amigos Peter Tosh (cantor que também tornou-se famoso) e Bunny Wailer. Eles formaram o grupo Wailing Wailers. Diziam que, nascendo no gueto, tinham motivos para lamentos, e wail significa lamentar.
Em 1966, Marley se casou com a jovem Rita Anderson. Ela passaria a integrar um trio de backing vocals dos Wailers. Rita Marley (foto) seguiria carreira após a morte de Marley e hoje tem 75 anos.
Em 1967, Bob passou a compor músicas mais voltadas para temas sociais e espirituais. Ele simplificou o nome do grupo para Wailers. Bob ganhava projeção em todo o Caribe com letras de paz, protesto e engajamento social que destoavam do que era produzido no cenário do rock da época.
Marley e seus parceiros fizeram shows nos Estados Unidos e em Londres, lotando casas noturnas. O talento de Marley atraiu a atenção e o lendário Eric Clapton (foto) gravou 'I Shot the Sheriff', projetando o nome do jamaicano no topo das paradas.
Em 1976, ano de eleições parlamentares, a Jamaica estava em convulsão. Marley anunciou o show 'Smile, Jamaica' ('Sorria, Jamaica'), pela paz. Ele foi baleado no braço (e Rita foi atingida de raspão). Mesmo ferido, Marley fez o show: 'Quem tenta destruir o mundo não tira folga. Como posso tirar, se faço o bem?'
Na época, o reggae - cuja maior expressão era Bob Marley - já havia se transformado numa espécie de grito pela paz do povo jamaicano e o cantor era visto como um líder espiritual de boa parte da população. Suas músicas denunciavam o racismo, a desigualdade social, o colonialismo e a guerra.
Após o concerto 'Smile Jamaica', Marley mudou-se para um apartamento em Londres (foto). E na Inglaterra gravou o disco 'Exodus'. O sucesso dos Wailers não parava de crescer.
Em 1978, Marley voltou para a Jamaica e foi pela primeira vez à África, onde visitou o Quênia e a Etiópia, país de referência para o movimento rastafári, simbolizado pela bandeira imperial etíope (foto), considerada sagrada.
Marley foi uma das vozes mais potentes do movimento rastafári, que cultuava Haile Selassie I (foto - 1892-1975), o último imperador da Etiópia, como a reencarnação de Jesus Cristo ou como a representação de Deus (Jeová). O movimento combina Cristianismo, Judaísmo e defende a união de toda a África.
A fé rastafári ditava o comportamento de Bob Marley. Ele defendia o consumo da planta cannabis (maconha) por razões religiosas. Na capa do disco 'Catch a Fire', ele fuma a chamada 'ganja'. O uso espiritual da maconha, característico do Movimento Rastafári, é mencionado em algumas de suas músicas.
Da mesma forma, Marley mantinha cabelos com dreadlocks - que não podem ser cortados ou aparados. Para os rastafári, os cabelos representam a força espiritual e a ligação com Deus, cujo fundamento é descrito no Antigo Testamento.
Em maio de 1980, foi lançado 'Uprising', sucesso instantâneo no mundo inteiro com hits como 'Could You Be Loved' e'Redemption Song'. Os Wailers fizeram sua maior turnê europeia, incluindo o legendário show em Milão, Itália, com público estimado em 100 mil pessoas, recorde para qualquer banda do mundo na época.
Depois da Europa, Marley e os Wailers fizeram excursão pelos EUA, mas o cantor passou mal durante um show no Madison Square Garden, em Nova York.
Bob Marley estava com câncer de pele no dedão do pé. Médicos aconselharam a amputação, mas, por considerar o corpo humano um templo (na filosofia rastafári) e com receio de ter dificuldade para dançar, Marley não aceitou. O câncer se espalhou e ele tentou se tratar com um médico na Alemanha.
Bob Marley morreu num hospital em Miami, quando tentava voltar da Alemanha para a Jamaica para morrer em casa, pois já estava desenganado pelo médico. Mas ele não conseguiu completar a viagem. Morreu em 11/05/1981
Até hoje, fica a dúvida: será que, se tivesse amputado o dedo, Marley sobreviveria por muito tempo? A doença seria de fato eliminada?
Bob Marley teve 11 filhos biológicos e adotou duas enteadas. Após a morte de Bob, Ziggy Marley (foto) foi apontado como sucessor natural do pai, embora outros irmãos também seguissem carreira artística. Bob o ensinou cedo a tocar guitarra e bateria.
Ziggy, 53 anos, se chama David Nesta Marley, mas adotou o nome artístico em homenagem a David Bowie (foto), seu ídolo, que havia lançado o álbum 'The Rise and Fall os Ziggy Stardust and The Spiders From Mars' em 1972.
A coletânea Legend, lançada três anos após a morte de Marley, reúne algumas das músicas menos militantes do artista e é o álbum de reggae mais vendido da história (mais de 20 milhões de cópias).
Estátuas de Bob Marley eternizam a figura lendária do maior artista do país, mito mundial do Reggae. A da foto fica em Kingston, capital do país.
No Brasil, Gilberto Gil foi o grande divulgador da obra de Bob Marley ao gravar a versão de um grande sucesso do jamaicano: 'No Woman, No Cry'. No Brasil, a música gravada por Gil se chama 'Não Chores Mais'.
Bob Marley mantinha laços com artistas brasileiros. Em 2012, a obra do fotógrafo Walter Firmo foi tema de exposição em São Paulo e uma das atrações era o encontro de Chico Buarque com Bob Marley em 1980, no campo do Polytheama. O time foi criado por Chico para peladas na Barra da Tijuca e Marley prestigiou.
A figura de Bob Marley, pelo talento excepcional, pela dimensão de seu legado cultural e pela morte precoce, está entre as mais propagadas na arte. Marley estampa camisetas, objetos e inspira a criação de pinturas e grafites por toda parte. É um ícone até hoje reverenciado pelos fãs.