A reduflação – como é chamado esse fenômeno – acontece quando as mercadorias nas prateleiras mantêm seus preços ou até mesmo ficam mais caras, mesmo quando os fabricantes diminuem o tamanho dos produtos.
A prática não é novidade no Brasil e já acontece há algum tempo. Muita gente já reclamou da prática nas redes sociais…
Uma pesquisa, feita pela empresa de consultoria Horus em parceria com o g1, examinou as 30 principais categorias de produtos que os consumidores costumam comprar.
Comparando o período de janeiro a agosto do ano anterior, o sabão em pó foi o produto mais afetado pela redução de quantidade com aumento de preço nos supermercados.
Durante esse tempo, o tamanho do produto diminuiu quase 10%, de cerca de 1,1 kg para 1 kg, enquanto o preço aumentou de R$ 15,31 para R$ 19,18, em média.
O chocolate ficou em segundo lugar na lista dos produtos mais afetados.
Na mesma comparação, o tamanho do chocolate caiu de 167,6 gramas para 143,7 gramas, ao mesmo tempo em que o preço subiu de R$ 15,85 para R$ 16,78.
Além do sabão em pó e do chocolate, biscoitos, molho de tomate, sabonete e sucos de caixa também sofreram deflação no mesmo período. Mas por que isso acontece?
De acordo com especialistas, as empresas têm duas razões principais para adotar a redução de quantidade com aumento de preço. Uma é o possível aumento nos custos de transporte devido ao aumento dos combustíveis.
Segundo o professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Ulysses Reis, as empresas precisam buscar maneiras de diminuir o impacto dos aumentos nos preços dos combustíveis.
Isso ocorre porque, à medida que o combustível fica mais caro, as empresas precisam destinar mais dinheiro para transportar seus produtos, o que diminui seus lucros.
Por exemplo, se há um ano uma empresa gastava R$ 1.000 nesse processo, agora ela precisa gastar cerca de R$ 1.205, o que é aproximadamente 21% a mais.
Para enfrentar essa situação, as empresas costumam resolver o problema aumentando os preços dos produtos para compensar esses custos adicionais, de acordo com o especialista.
Já o segundo motivo que explica a reduflação tem a ver com a sazonalidade. Segundo o professor de economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Josilmar Cordenonssi, as condições climáticas podem influenciar a produção de muitos produtos.
As plantações de trigo no Rio Grande do Sul tiveram sua capacidade de produção reduzida devido às tempestades ocorridas no início de setembro, por exemplo.
Dado que esta região é responsável por cerca de 90% da produção de trigo no Brasil, isso pode causar prejuízos para as empresas de biscoitos – item que consta na lista de produtos que sofreram reduflação em 2023.
De acordo com especialistas, a estratégia da redução de quantidade com aumento de preço é uma “saída fácil” para as empresas.
Os consumidores que se sentirem prejudicados pela redução de quantidade com aumento de preço devem procurar o Procon equivalente à sua cidade.
De acordo com as leis brasileiras, as empresas têm a obrigação de informar se houve alterações na quantidade de um produto.
Por exemplo, em 11 de setembro, o supermercado Carrefour anunciou que colocaria adesivos nos produtos que sofreram redução de quantidade em suas lojas na França. A empresa não se pronunciou informando se a prática será replicada no Brasil.
No Brasil, a portaria nº 392/2021 do Ministério da Justiça e Segurança Pública do Brasil estabelece regras para informar ao consumidor sobre mudanças na quantidade de produtos embalados.
Algumas obrigatoriedades são: uso de letras maiúsculas, uso de negrito e uso de cores que contrastem com o fundo.
O professor da FGV também observa que a reduflação não se limita apenas a diminuir o tamanho dos produtos. “As empresas mudarem os itens de fabricação, como o chocolate ser feito achocolatado, ou trocarem o leite por produtos lácteos também se encaixa nessa situação”, relata.
“O efeito só vai mudar quando o consumidor perceber esse truque. Enquanto isso não acontecer, o cliente continuará sendo enganado”, disse Josilmar Cordenonssi, da Universidade Presbiteriana Mackenzie.