Enquanto o Egito possui 138 pirâmides, o território sudanês conta com cerca de 255. Aliás, o lugar ideal para vê-las é na antiga cidade de Moroë, onde estão concentradas cerca de 200 pirâmides sudanesas.
As pirâmides no Sudão foram erguidas pela nação cuxita, que ocupou uma região chamada Núbia,entre 1.070 a.C e 350 d.C. Essa área abrange o atual território sudanês e o sul do Egito. A propósito, representava um dos povos mais poderosos do mundo na época.
O antigo império egípcio com os faraós e o Reino Cuxe (foto) se desenvolveram em momentos diferentes, mas coexistiram durante um certo período. E chegaram a entrar em guerra: os cuxitas conquistaram o Egito no século 8 a.C e o governaram por quase um século.
Assim, especula-se que ao ficarem encantados com as obras do território anexado, os dominadores passaram a replicá-las. No entanto, com um atraso de quinhentos anos.
Desde os anos 590 a.C., as pirâmides passaram a ser construídas de uma maneira mais distribuída pelo Sudão até 300 d.C, quando o Reino Cuxe entrou no seu período de derrocada.
Há uma semelhança entre as pirâmides dos dois países. Ambas foram construídas para abrigar os túmulos de seus líderes políticos e religiosos. Se as egípcias acolhiam os restos mortais dos monarcas e seus familiares, as sudanesas protegiam os sarcófagos dos faraós negros.
As construções no Egito são mais altas, podendo alcançar até os 138 metros. Já as sudanesas ficam entre cinco e 30 metros, e são mais íngremes.
Além disso, as pirâmides do Sudão são mais pontiagudas e têm bases mais estreitas. Por outro lado, as situadas no Egito são mais largas.
Um dos principais fatores que atrapalham a popularização das pirâmides sudanesas e o turismo no país é a frequente crise política. Em três momentos distintos houve guerras civis, o que gera insegurança.
As mudanças climáticas que provocam fortes chuvas e o aumento do volume do rio Nilo - a ponto de transbordar - também dificultam o turismo. Inclusive, parte das pirâmides do Sudão foi afetada, principalmente com alagamentos de suas bases.
Tal cenário prejudica até o trabalho de arqueólogos que desejam explorar essas estruturas para pesquisas. Num deserto ao norte do Sudão, por exemplo, estudiosos precisaram mergulhar para entrar numa pirâmide.
Esses pesquisadores foram as primeiras pessoas a obterem sucesso ao tentar acessar a pirâmide em mais de cem anos. Dr. Pearce Paul Creasman, da Universidade do Arizona, e companheiros ainda tiveram que descer uma escada de 65 degraus.
Apesar de toda dificuldade, Paul Creasman (foto) classificou o êxito na missão como espetacular: “É um ponto notável que poucos conhecem. É uma história que merece ser contada”.
No local fica o sarcófago de pedra que preserva o corpo do faraó Nastasen, o último governante a ser enterrado nas pirâmides do reino Kush. Ele esteve na liderança entre 335 a.C. e 315 a.C. Apesar da invasão da água, a sua tumba não foi danificada.
Esta pirâmide tem três câmaras ‘com belos tetos arqueados, do tamanho de um pequeno ônibus’, segundo os pesquisadores. Um detalhe comum em estruturas sudanesas é que, diferentemente das pirâmides egípcias, não há um sistema de túneis para o acesso às tumbas.
As entradas para o espaço onde estão situados os sarcófagos ficam camufladas no lado de fora das pirâmides do Sudão, com degraus íngremes que dão acesso aos túmulos.
Objetos encontrados dentro das tumbas sudanesas revelam um comércio pulsante entre o país e regiões da Ásia e da Europa. No interior das câmaras funerárias foram encontradas, por exemplo, peças de cerâmicas oriundas da China e de Roma, na Itália.
No caso da estrutura que abriga o túmulo de Nastasen, a equipe de arqueólogos achou folhas de ouro, um artefato que foi desfigurado pela invasão da água, e estatuetas de cerâmicas. Segundo Paul Creasman, tais itens teriam sido oferendas ao líder kushita.