Mohammadi é a 19ª mulher a ser reconhecida com este prêmio, que historicamente foi concedido 90 vezes a homens.
Apesar de ter ganhando o importante prêmio, a ativista encontra-se detida no Irã. Ela recebeu uma sentença combinada de mais de 30 anos de prisão e 154 chibatadas.
Mohammadi já foi detida seis vezes, sendo a primeira delas há 22 anos.
A premiação ocorre na mesma semana em que uma adolescente iraniana de 16 anos entrou em coma após um encontro com a 'polícia da moralidade'.
Esse termo é usado para identificar uma unidade do governo iraniano encarregada de monitorar as rigorosas restrições impostas às mulheres no país.
Armita Geravand foi espancada em uma estação de metrô da capital Teerã porque estava sem o véu. A mãe dela foi presa.
Esse tipo de prática não é incomum no Irã. Em 2022, uma mulher de 22 anos morreu depois de ter sido atacada pela mesma “polícia”.
Mahsa Amini foi detida sob a acusação de 'uso inadequado' do véu, de acordo com as autoridades policiais iranianas, que alegaram que ela estava mostrando 'um pouco de cabelo'.
Dois dias depois, Amini foi hospitalizada em estado grave com ferimentos na cabeça. Ela não resistiu e morreu no hospital.
Logo após a morte de Mahsa Amini, um dos maiores movimentos contra o regime iraniano tomou conta das ruas. O líder supremo do país, Ali Khamenei, foi acusado de oprimir as mulheres.
Embora o Irã tenha um presidente, de acordo com as leis locais, é o líder supremo que detém a autoridade final.
Desde que começou o movimento, estima-se que mais de 500 pessoas perderam a vida em protestos contra a repressão.
Nos últimos anos, Mohammadi se tornou um dos principais nomes da revolução que teve início com a morte de Mahsa Amini.
Apesar de ser agora uma das principais figuras do movimento atual, Narges Mohammadi, agora com 51 anos, tem uma longa trajetória de ativismo.
Há vinte anos, ela se destaca como uma das principais defensoras dos direitos das mulheres e da abolição da pena de morte no Irã, um dos países com maior índice de aplicação desse método.
“Nós queremos apoiar sua luta corajosa e reconhecer milhares de pessoas que se manifestaram contra o regime teocrático de repressão e discriminação que tem como alvo as mulheres no Irã', declarou a presidente do Comitê do Nobel, Berit Reiss-Andersen, que fez o anúncio do prêmio.
O Prêmio Nobel da Paz existe há 122 anos. A última mulher premiada havia sido a jornalista filipina Maria Ressa, em 2021.
Apesar de estar presa, Mohammadi atualmente ocupa o cargo de vice-diretora no Centro de Defensores dos Direitos Humanos do Irã, uma ONG liderada por Shirin Ebadi (foto), que ganhou o Nobel da Paz em 2003.
Mesmo presa, Narges Mohammadi conseguiu escrever um artigo para o “The New York Times” no qual afirmou que 'quando mais nos prendermos, mais forte estaremos'.
Até esta sexta-feira (06/10), o governo iraniano ainda não havia emitido qualquer declaração em relação ao prêmio concedido a Mohammadi.
No entanto, a agência de notícias estatal iraniana, Fars, declarou que 'o Ocidente optou por premiar a prisioneira Narges Mohammadi por suas atividades contra a segurança nacional do Irã'.
O Prêmio Nobel da Paz, no valor de 11 milhões de coroas suecas, será entregue em Oslo, capital da Noruega, no dia 10 de dezembro.
A data marca o aniversário da morte do sueco Alfred Nobel. Ele estabeleceu esses prêmios em seu testamento de 1895.
Em 2022, o Prêmio Nobel da Paz foi concedido ao ativista bielorrusso Ales Bialiatski (foto), à organização russa de Direitos Humanos Memorial e ao Centro ucraniano para as Liberdades Civis.