Um deles será a 24ª edição das Satyrianas, que vai acontecer das 10h da manhã do dia 12 de outubro até meia-noite do dia 15, em vários pontos da cidade de São Paulo.
O outro evento que presta tributos ao dramaturgo é a 17ª Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte, que começou na terça-feira (26/09) e vai até o dia 1º de outubro.
Três filmes estão sendo exibidos: “Prata Palomares” (1970), escrito em parte pelo dramaturgo, “O Rei da Vela” (1982), único filme dirigido por Zé Celso, em parceria com Noilton Nunes; e o documentário “Fédro” (2021), que mostra o escritor ao lado de Reynaldo Gianecchini.
Um dos nomes mais importantes da dramaturgia brasileira, José Celso Martinez Corrêa morreu em julho de 2023, em São Paulo, aos 86 anos.
Ele havia sido internado dias antes, na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital das Clínicas de São Paulo, depois de um incêndio atingir seu apartamento no Paraíso, Zona Sul da capital paulista.
Zé Celso, como era conhecido popularmente, chegou a ficar com 53% do corpo queimado.
O imóvel onde vivia o dramaturgo é motivo de uma longa batalha judicial envolvendo ele e o apresentador e empresário Silvio Santos. O FLIPAR mostrou e republica para quem não viu.
A disputa entre os dois começou em 1980, quando Silvio comprou um terreno em volta do teatro. Na época, ele queria erguer um arranha-céu para seu grupo empresarial.
Ao perceber que o prédio poderia prejudicar o espaço cênico, o dramaturgo decidiu ir para a Justiça.
Quando se casaram, em junho deste ano, Zé Celso e Marcelo Drummond ganharam uma muda de ipê das atrizes Fernanda Montenegro e Fernanda Torres e os dois decidiram plantar a árvore no terreno em disputa.
O projeto de Silvio Santos previa o levantamento de três torres no local, sendo que duas delas impediram a vista de uma janela lateral do teatro.
Poucos dias depois, o dramaturgo foi surpreendido com uma decisão judicial temporária que o impedia de realizar o plantio da árvore nas proximidades do teatro.
Uma curiosidade é que Zé Celso chegou a convidar Silvio Santos para seu casamento e até sugeriu o presente inusitado: ficar com o terreno.
Um mês depois da morte do dramaturgo, em agosto, Marcelo Drummond, que passou a administrar o terreno, se manifestou sobre a briga pelo local.
Segundo o viúvo, era sonho de Zé Celso que fosse construído o “Parque do Rio Bixiga” ao lado do teatro. “Não espero que o Silvio Santos mude de opinião. O negócio com ele e a família é 'pagou, levou'”, comentou.
“Eles não estão contra a gente, eles querem grana. Topa tudo por dinheiro é um quadro dele mesmo', ironizou Marcelo.
Em outra fala, o viúvo de Zé Celso foi além e chegou a dizer que Silvio Santos é 'um escroto que conseguiu uma concessão de televisão durante a ditadura militar”.
Apesar de tudo, Drummond disse que houve pouco avanço na questão do terreno desde a morte de Zé Celso.
Enquanto esteve internado, Zé Celso precisou ficar sedado, entubado e com a ajuda de ventilação mecânica.
Além de Celso, Marcelo Drummond também estava no apartamento na hora do incêndio, além de outras duas pessoas: Ricardo Bittencourt e Victor Rosa.
O corpo do dramaturgo foi recebido sob aplausos no Teatro Oficina, em São Paulo. O velório foi aberto ao público.
Até a manhã da sexta-feira (07/07), muitos fãs, amigos e familiares ainda se aglomeraram em multidões para dar o último adeus ao dramaturgo.
Nascido em 1937, em Araraquara, São Paulo, Zé Celso é tido como uma das figuras mais influentes e controversas do teatro brasileiro contemporâneo.
O dramaturgo foi fundador e diretor do Teatro Oficina, uma companhia teatral em atividade há mais tempo no Brasil, desde 1958.
Localizado no bairro do Bixiga, em São Paulo, o Teatro Oficina foi tombado como patrimônio nacional em 1982 e já foi chamado pelo jornal britânico “The Guardian” de 'o teatro mais bonito do mundo'.
Ao longo de sua carreira, Zé Celso se destacou por suas abordagens revolucionárias e experimentais, mesclando diferentes linguagens artísticas e explorando a interação entre atores e público.
Sua obra é marcada pela investigação de temas sociais e políticos, pela busca de uma teatralidade intensa e pela fusão de elementos da cultura brasileira, como o teatro popular e a música popular.
Zé Celso é conhecido por suas encenações ousadas e provocativas, que frequentemente geravam polêmica e debate público.
Algumas de suas obras mais famosas incluem 'O Rei da Vela' (1967), de Oswald de Andrade, e 'O Banquete' (1992), adaptação da obra de Platão.
Zé Celso também dirigiu várias peças de autores consagrados, como William Shakespeare e Bertolt Brecht.
O dramaturgo recebeu vários prêmios e reconhecimentos ao longo de sua carreira, incluindo o Prêmio Shell de Teatro e o Prêmio Molière de Melhor Direção, entre outros.
Desde junho, Zé Celso era casado com Marcelo Drummond. Os dois estavam juntos há 40 anos e resolveram oficializar a relação em uma cerimônia no Teatro Oficina Uzyna Uzona, sede da companhia teatral criada pelo dramaturgo.