Em 2013, o nigeriano Harrison Okene precisou sobreviver cerca de 60 horas no mar depois que a embarcação em que se encontrava naufragou.
'Eu tinha acabado de ir ao banheiro. Fechei a porta e estava sentado no vaso sanitário quando o barco virou para o lado esquerdo', lembrou o homem, em uma entrevista recente à rádio BBC.
Okene trabalhava como cozinheiro em um barco rebocador conhecido como Jascon 4. A embarcação era responsável por auxiliar nas manobras de navios na área portuária.
O incidente ocorreu a aproximadamente 32 quilômetros da costa da Nigéria, quando o navio naufragou devido a uma falha inesperada.
O naufrágio ocorreu de forma tão abrupta que nenhum dos 13 membros da tripulação conseguiu emergir à superfície antes de o navio ser inundado completamente por água.
'A próxima coisa que vi foi o vaso sanitário sobre o qual estava sentado, que de repente estava sobre minha cabeça', contou o nigeriano.
'A luz se apagou e eu ouvi as pessoas gritando. Consegui abrir a porta e sair, mas não consegui encontrar ninguém. A força da água me empurrou para uma das cabines e fiquei preso lá', continuou narrando.
Segundo o homem, um jato de água que o empurrou foi um elemento de sorte. Isso porque ele acabou ficando em um lugar próximo a uma bolha de ar que o permitiu sobreviver por quase três dias.
Okene contou ainda que não tinha muita experiência como cozinheiro e que seu primeiro trabalho a bordo de um navio havia sido em 2010, três anos antes do fatídico incidente.
Ele relatou que não tinha medo de viver sobre o mar, nem mesmo depois de ter tido um pesadelo em que o barco afundava. 'Eu ri quando acordei, pensei: 'Não foi real'', contou.
Ainda sobre o momento da tragédia, ele se lembra que estava em pânico e ouvia as pessoas gritando e chorando muito. Segundo ele, por ser de manhã, alguns colegas ainda estavam dormindo.
“Eles gritavam por socorro. Você podia ouvir a água borbulhando enquanto entrava nos diferentes compartimentos e depois, silêncio', lembrou.
Quando o navio finalmente afundou e chegou ao fundo do mar, a uma profundidade de cerca de 30 metros abaixo da superfície, Harrison estava sozinho como o único sobrevivente.
Ele estava preso em um espaço apertado, com água chegando até sua cintura e, segundo o cozinheiro, lá embaixo estava escuro e muito frio.
O homem contou que peixes começaram a morder suas feridas depois de um tempo. 'Eu estava vestido apenas com cuecas', disse Okene.
Sem comida nem bebida por 60 horas, o nigeriano lembrou que só conseguia pensar na mãe e na esposa: “passei o tempo cantando louvores”.
Enquanto isso, em terra firme, as famílias dos tripulantes receberam a notícia de que todos haviam perdido a vida, e a empresa dona do Jascon 4, a West African Ventures, contratou especialistas para resgatar os corpos.
A empresa de mergulho neerlandesa DCN Global enviou três mergulhadores para o local do acidente. Eles foram coordenados por um supervisor que podia observar tudo por meio de uma câmera instalada em um barco na superfície.
Para chegar ao fundo do mar, os mergulhadores usaram uma câmara pressurizada. Enquanto eles quebravam as portas para entrar no navio, Harrison podia ouvi-los. Ele começou a bater nas paredes da cabine para chamar a atenção dos mergulhadores.
Quase sem ar, o nigeriano viu o reflexo de uma lanterna: 'eu mergulhei debaixo d'água para tentar seguir aquela lanterna e, quando vi a água borbulhando, sabia que era um mergulhador'.
O mergulhador lembrou da sensação de encontrar Okene: 'foi o momento mais aterrorizante de toda a minha carreira, embora obviamente o terror tenha sido rapidamente substituído pela adrenalina e emoção de encontrar alguém vivo'.
Segundo o nigeriano, a surpresa por ter sido resgatado era tão grande naquele momento que ele nem tinha certeza se o mergulhador “era humano”.
Encontrar o homem vivo era apenas o início do resgate. Isso porque, segundo os socorristas, ainda era necessário descomprimi-lo antes de leva-lo à superfície.
Quando Okene entrou na câmara pressurizada e percebeu que era o único que havia sobrevivido, ele começou a chorar.
Depois de três dias no fundo do mar, Okene teve que passar mais três dias em uma câmara de descompressão no navio, para normalizar seus níveis de nitrogênio, que sob alta pressão se acumulam nos tecidos e podem causar um ataque cardíaco.
Após ser resgatado, o nigeriano foi informado de que sua família havia recebido a notícia de que ele estava vivo, causando um susto em sua esposa, que precisou ser levada ao hospital.
Tempos depois, o cozinheiro ainda sofreu um outro acidente, no qual seu carro caiu de uma ponte e afundou em um lago. Dessa vez ele conseguiu sair e ainda salvou seu acompanhante.
Tudo isso o levou a tomar uma decisão surpreendente: ele se tornou um mergulhador profissional! 'É meu destino, é como Deus quis que fosse', disse Okene.