Ao fazer a defesa do réu Thiago de Assis Mathar, julgado por participação no ataques golpistas de 8 de janeiro em Brasília, Kattwinkel declarou que o ministro Alexandre de Moraes 'passa de julgador a acusador'.
'É um misto de raiva com rancor contra patriotas. Patriotas que na concepção maior são aqueles que amam seu país', completou em seu ataque a Moraes.
Ao fim da sustentação oral do advogado, Moraes pediu a palavra e lamentou a postura de Kattwinkel: 'É patético, medíocre, que um advogado suba à tribunal do Supremo Tribunal Federal com um discurso de ódio, com um discurso para postar nas redes sociais, que veio aqui agredir o Supremo Tribunal Federal'.
Luís Roberto Barroso foi outro integrante da corte alvejado pelo advogado: 'Ato antidemocrático é quando um ministro da Suprema Corte deste país fala que eleição não se ganha, se toma. Isso é preocupante. Isso nos causa medo e insegurança.'
Nesse momento, foi Barroso que pediu a palavra para retrucar o criminalista: 'Eu jamais disse que eleição não se ganha, se toma. Essa é mais uma fraude que se pratica online'.
Outro trecho do pronunciamento do advogado virou tema por um erro de referência tido como crasso ao confundir as obras 'O Príncipe', de Nicolau Maquiavel, e 'O Pequeno Príncipe', de Antoine de Saint-Exupéry.
'Diz 'O Pequeno Príncipe', os fins justificam os meios', declarou o advogado.
Moraes não deixou a gafe passar batida e comentou: 'Realmente é muito triste (...) confundiu 'O Príncipe', de Maquiavel, com 'O Pequeno Príncipe', de Antoine de Saint-Exupéry, que são obras que não têm absolutamente nada a ver',
O ministro, que é relator nos julgamentos dos atos golpistas, considerou que Kattwinkel preferiu fazer 'discursinho' para viralizar em redes sociais em vez de fazer a defesa de seu cliente.
Diante da repercussão do fato, o advogado criminalista se manifestou em seu Instagram em que diz ter se confundido graças ao 'calor do momento'.
'É uma questão tranquila e natural pra qualquer pessoa, uma vez que sei do potencial jurídico de nosso escritório e se trata de um erro meramente formal frente ao calor do momento, corrigido logo em seguida', diz o comunicado.
O pronunciamento ainda expressa tristeza por considerar que o erro teve mais importância do que 'inúmeras violações de garantias constitucionais de um cidadão brasileiro'.
Horas depois da performance do advogado no STF, o partido Solidariedade anunciou a expulsão de Kattwinkel de seu quadro de filiados.
'O Sr. Hery Waldir Kattwinkel Júnior ocupou a tribuna do Supremo Tribunal Federal para protagonizar um grotesco espetáculo de ataques aos Ministros do Supremo Tribunal Federal, verbalizando e endossando o discurso de ódio, não raro permeado de fake news, que contaminou parte da sociedade brasileira', diz o comunicado do Solidariedade.
O Solidariedade ainda informou que acionará o Conselho de Ética da OAB contra o advogado.
O advogado declarou em nota que respeita a decisão do partido e salientou ter observado com o tempo que o Solidariedade tem diretrizes diferentes das que ele defende.
Kattwinkel mora em Votuporanga, no interior de São Paulo, e foi candidato a deputado estadual nas eleições de 2022. Em suas redes, ele aparece em uma foto ao lado do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Thiago de Assis Mathar, réu defendido por Kattwinkel, foi condenado pelo STF a 14 anos de prisão.
Mathar, de 43 anos, foi preso em flagrante dentro do Palácio do Planalto durante os atos de 8 de janeiro. Ele é morador de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo.
Além dele, já foram condenados pelo STF por envolvimento nos atos Aécio Lúcio Costa Pereira (foto) e Matheus Lima de Carvalho Lazaro. Ambos receberam pena de 17 anos de prisão.