Luiz Carlos Azedo
postado em 25/03/2016 07:16
O PMDB do Rio de Janeiro, o mais influente do partido no país, anunciou ontem que votará a favor do desembarque do governo federal, no que aparenta ser uma tendência crescente nas seções estaduais da legenda. O apoio à proposta na reunião do colegiado da legenda, marcada para terça-feira, sinaliza apoio ao impeachment da presidente Dilma Rousseff. Quem lidera a mudança de posição é o ex-governador Sérgio Cabral ; aliado de primeira hora do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ;, para quem a situação de Dilma se tornou insustentável em razão do agravamento da crise econômica e do grande descontentamento popular que toma conta das ruas do Rio e de outras cidades fluminenses.A situação do PMDB fluminense se complicou, principalmente por causa da doença do governador Luiz Fernando Pezão, que vai se licenciar por 30 dias para tratar um câncer na medula. O diagnóstico foi confirmado ontem. Quem mais resiste ao desembarque é o prefeito do Rio, Eduardo Paes, por causa da realização das Olimpíadas, em agosto. O presidente da Assembleia Legislativa fluminense, Jorge Picciani, será o fiel da balança na decisão. Com dois votos, ele deve acompanhar Sérgio Cabral, mas está sendo pressionado pelo filho, o líder da bancada do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani, que tem compromisso com Dilma. Seu irmão Rafael, deputado estadual, porém, seguirá a orientação do pai.
O ex-governador Moreira Franco; os prefeitos de Nova Iguaçu, Nélson Burnier, e de Macaé, Dr. Aluízio; o deputado estadual Paulo Melo e os deputados federais Washington Reis, Fernando Jordão e Marco Antônio Cabral (licenciado) são a favor do desembarque. Estão indecisos o ministro da Ciência e Tecnologia, Celso Pansera (deputado licenciado), e o deputado federal licenciado Pedro Paulo, aliado de Eduardo Paes.
Retaliação
Ontem, Dilma mandou demitir o presidente da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Henrique Pires, aliado do vice-presidente Michel Temer. A exoneração foi publicada no Diário Oficial e encarada como uma retaliação ao fato de a reunião do diretório não ter sido adiada, como havia solicitado o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ex-presidente José Sarney e ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Ambos tentaram articular o adiamento, mas Temer foi inflexível, embora estivesse com viagem marcada para o exterior.
Temer não pretendia comparecer à reunião do diretório, mas cancelou a viagem a Portugal. Não vai mais participar de um evento promovido pelo Instituto de Direito do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, com a presença dos tucanos Aécio Neves (MG) e José Serra (SP). Os ministros do PMDB, que resistem a deixar os cargos, pediram para que Temer ficasse e acompanhasse as negociações da reunião para tentar um acordo entre as duas alas da legenda.
A corrente favorável ao impeachment de Dilma no PMDB hoje é majoritária na legenda. Governistas, a exemplo do ministro da Saúde, Marcelo Castro, porém, defendem a permanência da sigla no governo. Ainda tentam convencer Temer a adiar a reunião. A chance é remota. A saída será evitar uma resolução a favor do desembarque já. O movimento para evitar o rompimento é comandado por Renan. O mais provável é que Temer tente um acordo no decorrer da reunião, mas a decisão de afastar Pires do cargo pode ter dificultado a negociação.
No Palácio do Planalto, a avaliação é a de que o próprio Pires estava medindo forças com Castro e tentava forçá-lo a deixar o governo. A situação foi tema de conversas entre a presidente Dilma e o ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini. Assessores do vice-presidente afirmam que ele não foi informado anteriormente da decisão e só soube pelo Diário Oficial da União. Pires também não teria ficado a par da exoneração, embora tenha dito a interlocutores que já sabia. No DOU, não consta o termo ;a pedido; na publicação do termo de exoneração. Oficialmente, o Ministério da Saúde informou que havia na Funasa conflitos internos sobre a própria gestão do órgão. O Planalto e o Ministério teriam tentado solucionar o impasse, mas o governo optou por exonerá-lo.