Politica

Deputado confirma que pagou dinheiro a grupo que acompanhava votação

Depois de negar conhecer pagamentos a manifestantes, Nelson Marquezelli diz que notas de R$ 20 e R$ 50 eram de sindicato. Mas, ao ser confrontado com versão de assessor, o parlamentar muda o discurso pela terceira vez: "Se ninguém assumir, eu assumo"

postado em 02/05/2014 06:55
Marquezelli: três versões sobre dinheiro entregue nos corredores da CâmaraUm dia depois de alegar desconhecimento em relação ao pagamento em dinheiro vivo de uma claque para aplaudir deputados favoráveis à nova lei dos caminhoneiros, aprovada terça-feira na Câmara, o deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP) assegurou que as notas de R$ 50 e R$ 20 foram repassadas pelo Sindicato dos Cegonheiros de Minas Gerais. ;Qual o problema disso? O dinheiro é dele. Ele oferece a quem quiser. Quem pagou foi o presidente do Sindicato dos Cegonheiros de Minas Gerais. Ele se chama Carlos (Roesel). Ele estava no meu gabinete;, afirmou.



O parlamentar declarou que o dinheiro distribuído na chapelaria do Congresso Nacional e depois na frente do seu gabinete seria destinado ao pagamento do lanche do grupo que ocupou as galerias do plenário. ;Era para tomar um lanche. Um grupo pequeno. Não acho nada disso estranho. No mundo inteiro é assim. Quem tem dinheiro faz o que quer com ele. Estranho é vocês insistirem numa reportagem ridícula como esta. Acho que vocês não têm o que fazer;, disse Marquezelli, que é ouvidor da Câmara.

Depois de negar conhecer pagamentos a manifestantes, Nelson Marquezelli diz que notas de R$ 20 e R$ 50 eram de sindicato. Mas, ao ser confrontado com versão de assessor, o parlamentar muda o discurso pela terceira vez:
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A pedido do próprio deputado, o Correio entrou em contato com um servidor do gabinete dele para detalhar o que ocorreu na noite de terça-feira. O funcionário contradisse Marquezelli ao responder que os recursos não tinham sido repassados pelo Sindicato de Cegonheiros de Minas Gerais. ;Tenho certeza de que não foi o sindicato que pagou;, disse. O mesmo funcionário informou que outro sindicalista havia assumido ter pagado o grupo de pessoas, no entanto, até o fechamento desta edição, o servidor não havia entrado em contato com o Correio. Momentos antes, o assessor afirmou que não sabia quem tinha dado o dinheiro e negou que as duas funcionárias da Câmara que aparecem no vídeo fazendo o pagamento trabalhassem com o deputado.

Duas investigações serão pedidas

A distribuição de dinheiro vivo nos corredores da Câmara dos Deputados a pessoas que se fizeram passar por caminhoneiros para pressionar a aprovação de um projeto de lei, noticiada ontem pelo Correio, será alvo de dois pedidos de investigação. Integrante do Ministério Público do Trabalho, o procurador Paulo Douglas Almeida de Moraes informa que vai, por meio do Fórum Nacional em Defesa da Lei n; 12.619, representar formalmente a Câmara dos Deputados, para que averigue eventual quebra de decoro parlamentar, e a Procuradoria-Geral da República, que poderá apurar a prática de improbidade administrativa.

Formado por juízes e procuradores do Trabalho, além de entidades sindicais de empregados do setor de transportes, o fórum tem o objetivo de implementar a Lei n; 12.619 ; também conhecida como lei do descanso ;, que o projeto aprovado pela Câmara na última terça-feira, com o uso dos manifestantes pagos, pretende modificar. Caso o texto passe pelo Senado e se transforme em lei, Moraes promete questionar a constitucionalidade da norma no Supremo Tribunal Federal. Ele cita o aumento de mortes nas rodovias e de gastos públicos com as vítimas como consequências inevitáveis da proposta. (Renata Mariz)

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