postado em 17/04/2011 09:00

A cronologia da invasão é relatada em documento confidencial do gabinete do Ministério da Aeronáutica datado de 4 de setembro de 1968, uma semana depois do confronto no câmpus. ;A UnB vem vivendo momentos de grande agitação e balbúrdias até por decorrência da falta de solução a diversos problemas, alguns surgidos no decurso da atual administração;, observou o analista da Aeronáutica, em referência à gestão do médico mineiro Caio Benjamin Dias na reitoria, definida pelos militares como ;duas faces;: uma para os estudantes, outra para o governo.
No relatório de 12 páginas, que integra o acervo do Centro de Informações da Aeronáutica (Cisa), aberto na semana passada pelo Arquivo Nacional, os militares avaliam que os universitários pretendiam tornar a instituição ;um território sagrado;. Isso, conforme o relatório, tinha como finalidade trazer para as cidades o que era feito pela esquerda na zona rural: ;A criação de áreas livres ou liberadas para a montagem de bases de operações. (;) A transferência do trabalho das esquerdas dos operários para o meio estudantil está perfeitamente caracterizada por grande número de panfletos distribuídos aberta e acintosamente;, relata o documento, que faz referência específica à Federação dos Estudantes da UnB (Feub), presidida por Honestino Guimarães. O líder estudantil é definido no texto como ;agitador decidido, que tem encontrado encorajamento na cobertura que alguns deputados da oposição lhe têm dado;. Honestino acabaria preso e morto nos porões da ditadura em 1973.
Inimigo
Na conclusão, o analista avalia que, até aquele momento, início de setembro de 1968, o governo não havia solucionado a questão. ;Traduzido em uma série de medidas tomadas, não surtiram os efeitos almejados, como se vê na situação atual, em que se configuram nitidamente ações de guerra revolucionária em pleno curso.;
O analista reconhece que ;muito terreno já foi perdido; e ressalta que seria necessário usar todos os meios na contraofensiva. ;Caso o inimigo não seja combatido com todas as armas, a todo momento, por todos os meios e em qualquer terreno, as posições que já conquistou ficarão fortalecidas. E, assim, mais livre lhe ficará o caminho para a conquista de seu objetivo: a queda do regime;, conclui. No acervo do Cisa há centenas de informes relatando reuniões de alunos ou professores e até espionagem de discussão sobre o preço do bandejão.