Politica

Acervo com documentos secretos mostra plano para matar Médici

postado em 14/04/2011 07:07
O ex-presidente Emílio Garrastazú Médici, que governou o Brasil entre 1969 e 1974, poderia ter sido vítima de um atentado no Rio de Janeiro, durante a visita de seu colega argentino, Alejandro Lanusse. Um documento secreto produzido pelos militares brasileiros mostra que o plano estava sendo orquestrado por um grupo esquerdista chileno, auxiliado por brasileiros no exílio. O informe, que também foi repassado para a Polícia Federal da Argentina, está entre os mais de 35 mil papéis que o Centro de Informação e Segurança da Aeronáutica (Cisa) doou ao Arquivo Nacional, em Brasília.

A primeira informação sobre o suposto atentado foi dada pelas autoridades argentinas em 2 de março de 1972. ;Grupo de bandidos e asilados brasileiros no Chile estaria empenhado na perpetração de um atentado terrorista (sequestro ou atentado à bomba) contra o presidente Médici. Tal atentado teria lugar antes da viagem do presidente Lanusse ao Brasil;, diz a mensagem enviada de Buenos Aires. O alerta foi dado pelo coordenador de operações do II Exército à chefia do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) de São Paulo e depois difundido para as áreas mais estratégicas do governo.

O suposto atentado seria executado por uma pessoa que estava asilada ou refugiada no Chile, segundo documentos secretos do Cisa. Ele só retornaria ao Brasil para praticar a ;missão terrorista seletiva;, como classificaram os agentes da área de informação do governo. O grupo estrangeiro que daria apoio seria o Movimento de Izquierda Revolucionário (MIR), do Chile. Não há entre os papéis referências ao desfecho do caso ou se algum dos envolvidos chegou a ser preso. Os nomes constam no informe secreto, mas estão tarjados, ilegíveis, uma prática adotada pelo Arquivo Nacional.

O acervo do Cisa entregue esta semana tem mais de 35 mil documentos, ou cerca de 150 mil papéis que mostram vários momentos da vida brasileira. Contempla o período entre 1964, depois do golpe militar, e os anos 1990. Um relatório da Secretaria de Inteligência da Aeronáutica, por exemplo, faz elogios ao então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, que pouco depois seria eleito presidente da República. ;O sociólogo tem um currículo invejável, todo construído na esquerda e na oposição aos governos pós 1964;, indica um documento produzido em 12 de janeiro de 1994. O relatório ; que deveria ser entregue ao então ministro da Aeronáutica ; também faz um contraponto sobre as contradições de FHC como senador e como integrante do Executivo.

Monitor

Outros documentos mostram o monitoramento de grupos esquerdistas do regime militar. Todos os nomes de integrantes estão tarjados. Um dos casos é uma avaliação dos documentos apreendidos em um dos ;aparelhos; (sedes) da Var-Palmares ; organização a qual a presidente Dilma Rousseff pertencia ;,no Rio Grande do Sul, em agosto de 1970. Outro arquivo, mais robusto, explica como o grupo agia, mas não há a revelação de nomes. Também constam do acervo arquivos incompletos ou mensagens sem relevância que estavam guardadas há décadas.

Telegrama informa a possibilidade de que Médici sofresse ataque de grupo chileno aliado a exilados brasileiros

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