Na próxima quinta-feira, celebram-se mitos das culturas de dois países diferentes: Estados Unidos e Brasil. O famoso Halloween, ou Dia das Bruxas, é uma comemoração tipicamente norte-americana, que você já deve ter visto em filmes e programas de televisão. Em contraposição, foi criado o Dia do Saci, um dos mais tradicionais seres do nosso folclore.
Em algumas cidades brasileiras, a data é oficialmente dedicada ao menino de uma perna só. Entre elas, Vitória (capital do Espírito Santo), Poços de Caldas e Uberaba (em Minas Gerais), Fortaleza e Independência (no Ceará) e municípios paulistas como São Luiz do Paraitinga, São José do Rio Preto, Guaratinguetá e Embu das Artes.
Não é que seja errado participar do Halloween, mas ; cá entre nós ; o Saci-Pererê tem muito mais a cara do Brasil. As duas comemorações podem ser de pura diversão e crianças de Brasília vão dizer o que pensam, o que sabem e o que costumam fazer neste período do ano.
Halloween
A celebração homenageia as pessoas que fazem a mediação entre vivos e mortos: os feiticeiros. Surgiu como um ritual celta para invocar as almas dos antepassados. A festa chegou aos Estados Unidos com imigrantes irlandeses e se alterou ao longo do tempo. A onda é se fantasiar de criatura mágica e sair de casa em casa dizendo ;gostosuras ou travessuras;. Se a pessoa não entregar uma guloseima, as crianças têm direito de fazer bagunça. Normalmente, as residências ficam enfeitadas durante todo o mês de outubro com bruxas, esqueletos, fantasmas e abóboras (que são uma oferenda pela boa colheita).
Personagem brasileiro
Fantasiar-se de bruxa e pedir doces é legal, mas a comemoração importada não tem muito a ver com as tradições brasileiras; Enquanto isso, o Saci-Pererê é uma mistura de índios, negros e brancos. Este sim se relaciona com a história nacional. Fã de brincadeiras e travesso que só ele, pode trazer transtornos para bichos e pessoas. No começo, era descrito como um indiozinho atentado, moreno e com um rabo. A mitologia dos povos africanos trazidos para o Brasil o transformou num negrinho que perdeu a perna numa luta de capoeira. Os europeus acrescentaram o gorro vermelho e o cachimbo.
Aqui só entra Saci
Na Escola Classe 114 Sul, os mitos da cultura popular do país, em especial o Saci, viram temas de aulas, trabalhos, brincadeiras e outras atividades. Lá, nem se ouve falar muito de Halloween. Vitor Gabriel Inácio e Enzo Bernardo Severo, 7 anos, Amanda Feitosa, Ana Luiza Marques e Henrique Sousa, 8, Karoline Barbara Rocha, 9, e Matheus Alves, 10, sabem muito sobre o travesso jovenzinho. Karoline deixa claro que é fã do Saci:
; Ele usa gorro vermelho, fuma cachimbo, é negro e perdeu uma das pernas lutando capoeira. Uma das coisas que ele mais gosta de fazer é colocar sal na comida doce e açúcar nos pratos salgados para irritar as pessoas. Prefiro o Dia do Saci do que o Dia das Bruxas porque o Saci é sapeca, engraçado e não me dá medo.
Henrique conhece as piores travessuras do ser mitológico:
; Ele rouba e também esconde as coisas dos outros, como celular, panela e garrafa da Tia Anastácia. Ele não é nem do bem nem do mal. O folclore brasileiro é muito mais legal que o americano.
Amanda tem certeza de que o Saci já existiu:
; Acho que ele era um cara que morava na floresta, mas já deve ter morrido. Agora, o que contam são histórias sobre o que ele fazia no passado. Eu acho legal o fato de ele andar num redemoinho.
Perto de 31 de outubro, Ana Luiza fica pensando em guloseimas.
; É só tirar o gorro do Saci que ele vira miniatura e perde poderes. É assim que os caçadores conseguem prendê-lo numa garrafa. Ele faz coisas ruins, como puxar o rabo do gato. Tudo isso é bom, mas o Halloween também é divertido por causa dos doces.
Vitor não gosta de bruxas, mas também não aprova o comportamento do Saci:
; Ele fuma, mesmo sendo criança, entra nas casas enquanto as pessoas dormem e faz bagunça. Ele captura e espanta os animais.Eu também faço coisas erradas como ele: já joguei o celular do meu irmão no vaso e dei descarga, por exemplo. Eu tenho medo de bruxas, mas gosto do Saci.
[SAIBAMAIS]
Bruxinhos
Na Casa Thomas Jefferson do Lago Sul, a meninada aprende inglês e conhece mais sobre a cultura americana. Todo ano, a escola fica decorada com abóboras e seres aterrorizantes. Isabela Defeo e Carolina Bueno, 11 anos, Torgan Gomes e Vítor Barroso, 10, Clara Fidelis e Júlia Beatriz Taffner, 9, e Alonso Taffner, 8, são fãs da festa do terror americano e se preparam para comemorar o Dia das Bruxas. Para Carolina, esta é até uma tradição familiar:
; Minha mãe me leva para pedir doces na casa da minha avó e dos meus tios. Já me fantasiei de bruxa três vezes para festas na Thomas Jefferson. Aqui, a gente pede doces na cantina, é muito legal.
Na ;Semana do saco cheio;, Isabela foi conhecer a Disney:
; Nos Estados Unidos, a tradição é muito forte. Fui numa festa de Halloween em Orlando e, lá, eles comemoram a sério. É um dos tipos de festa de que mais gosto, mas, às vezes, fico com medo das múmias.
Para Torgan, a festa dos mortos já foi mais divertida no passado:
; Eu gosto do Halloween, mas vai perdendo a graça. Agora, não tenho mais medo das criaturas mágicas, como vampiros. Sou de Belém e, lá, eu corria atrás das minhas amigas para elas me darem doces. As guloseimas são a melhor parte!
Clara acha que o folclore brasileiro não é para assustar:
; A Yara, o Saci e outros seres do folclore brasileiro não dão medo. É tudo coisa de ;princesinha;. Já tive medo do Saci e da Cuca quando era pequena, hoje eu acho que eles são bobos. Prefiro os sustos do Halloween. Na festa, já me vesti de princesa do terror.
Alonso gosta mesmo é do que dá medo:
; Nunca fui a uma festa de Halloween, já vi em filmes e vou na festa da Thomas Jefferson esse ano. Acho que vai ser legal, eu gosto de zumbi e lobisomem, e também da Yara. O folclore dos Estados Unidos é melhor que o nosso porque tem mais monstros.