Rebeca Oliveira
postado em 08/06/2015 08:51
Cultura muito difundida em países como Estados Unidos, as plataformas de financiamento coletivo (crowdfunding) têm sido fórmula usada para que projetos saiam do papel sem a necessidade de vínculo com grandes corporações. Proposta que difere da época em que, tradicionalmente, o artista precisava escolher entre associar-se a um conglomerado que financiasse sua ideia (editoras e gravadoras, por exemplo), ou aventurar-se de maneira independente, por vezes, assumindo as despesas do projeto.
[SAIBAMAIS]A vida é troca e, na atmosfera artística, não seria diferente. A filosofia é adotada por Amanda Palmer, cantora, compositora e, agora, escritora. A americana reiterou a tese da fé no coletivo no livro A arte de pedir ; Ou como aprendi a parar de me preocupar e deixar que os outros me ajudem, um apanhado de memórias da artista, que, em 2012, bateu o recorde mundial de arrecadação pelo site Kickstarter. Ela pediu US$ 100 mil dólares para gravar um disco com a banda The Grand Theft Orchestra, Theatre is evil. Superou a meta em mais de 10 vezes, recebendo cerca de US$ 1,2 milhão em doações.
Pechincha, requisição, esmola. Chame como quiser. Para Amanda, não há nada mais importante do que pedir. Não pelos fins, e sim pelos meios. Aceitar ajuda a criar laços e estabelece conexões. ;Nós nos tornamos tão obcecados com ter e acumular bens materiais que nos esquecemos de que o processo de criação e compartilhamento é o que alimenta nossas almas;, filosofa a cantora e escritora em entrevista ao Correio.
Uma das recompensas foi um show exclusivo a quem colaborou. Na ocasião, desceu nua do palco e foi abraçada pelo público, enquanto era autografada pelos fãs com caneta hidrocor. Casada com o escritor Neil Gaiman (autor da obra-prima Sandman, entre outros best-sellers), Amanda contou com a ajuda do marido para a edição do primeiro livro. ;Ele me ajudou a finalizar a obra. Precisamos cortá-la quase que pela metade, e esse foi um ato de confiança. Ambos lemos e suavizamos o trabalho um do outro, uma coisa agradável sobre ser casada com um escritor;, explica Palmer, que também é ícone feminista.
Versão brasileira
Versão brasileira
No ano passado, a brasileira Bel Pesce pediu R$ 260 mil no Kickante para financiar palestras e divulgar o terceiro livro ; A menina do Vale 2, sequência de obra homônima que havia sido baixada 2 milhões de vezes na web ;, onde propagava ideias de empreendedorismo. Em um mês, conseguiu quatro vezes mais (quase R$ 900 mil) do que pediu com a ajuda de 5 mil internautas. Atingiu dois recordes: o maior valor e a maior quantidade de apoiadores no Brasil.
O que faz o público contribuir?
Financiar um projeto cultural não é simplesmente doar dinheiro, mas ter a oportunidade de participar da obra, vê-la em primeira mão, ter acesso a produtos únicos e, em alguns casos, conhecer o artista em questão. Segundo o Kickante, 30% das contribuições vem da base de amigos e familiares de quem pede. Em três dicas, Amanda Palmer, Bel Pesce e Rodrigo Lima norteiam quem pretende investir no modelo de financiamento. Entenda como ampliar as chances de atingir o objetivo.
;Não presuma que não há dinheiro livre lá fora, ou que Kickstarter ou qualquer tipo de financiamento público vai ajudá-lo a encontrar o seu público. É uma ferramenta para aproveitar o público que você já tem, não uma varinha mágica;, pontua Amanda Palmer.
;Permiti que os apoiadores pagassem R$ 35 para receber o livro autografado e participar de uma palestra, valor que é acessível. O boca a boca é um importante meio de divulgação. Outro fator essencial foi vender pacotes para empresas e também para pessoas físicas, atingindo diferentes públicos. Fazer algo que represente as pessoas é algo poderoso, desde que qualquer um tenha acesso. Para viralizar, não há regras. Essa foi a fórmula que usei. Mas há quem prefira o humor, ou um vídeo bem produzido;, acredita Bel Pesce.
;Todo tipo de banda pode fazer esse tipo de financiamento, não só as de punk e hardcore. Não sei se posso dar conselhos aqui, pois o Dead Fish está num patamar que muitas outras ainda não estão. O que eu posso aconselhar é: saiba se situar diante de suas possibilidades. Ser ousado e ter um bom projeto, boas ideias, atraem muito. O resto é ter uma boa divulgação, e até um pouco de sorte;, analisa Rodrigo Lima.
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