Ricardo Daehn
postado em 01/09/2014 08:34
O cineasta Jorge Furtado já foi ;alvo; de uma publicação, ;na verdade, de um colunista; ; que associou seu sobrenome a favorecimento de verba (diante de alinhamento ideológico com ;petistas;). Depois de um processo (ganho), o diretor ressalta que não guarda ressentimento de quem o acusou: ;Não tem comparação com o massacre midiático que muita gente sofre;. Da sobreposição imprecisa entre fatos e o registro tornado verdade por jornais e revistas é que nasce o desacordo entre o cineasta e parte da imprensa.
[SAIBAMAIS]Ao traduzir, junto com Liziane Kugland, a peça O mercado de notícias, de Ben Jonson (1625),Furtado sentiu tamanha identidade com o texto, a ponto de ampliar pontos de vista e, num documentário, expôr as múltiplas visões de repórteres entrevistados sobre a profissão. O cineasta, que já aprofundou estudos nos campos das artes, da medicina e do jornalismo (sem direito a diplomas) e ainda foi diretor do Museu de Comunicação Social de Porto Alegre, dá extremo valor à informação. O resultado da incursão de Furtado pelo mundo das notícias será apresentado fora de competição na mostra paralela Panorama Mundi do III Festival Internacional de Cinema de Brasília (BIFF). Confira a programação completa aqui.
;Não interessa se o suporte do jornal é papel ou digital. Isso importa menos: o que vale é a permanência do jornalismo com credibilidade e feito com critérios;, acredita o também escritor que assina publicações como Um astronauta no Chipre e obras díspares como um livro infantil (Pedro Malazarte e a Arara Gigante) e um romance que traz adaptação moderna para Shakespeare (Trabalhos de amor perdidos). Seja qual for o estilo predominante, uma coisa é certa: Furtado se anima é com descobertas que tornem seu semblante algo pasmado, à altura da aloprada figura de O grito (de Munch) ou, como lembrado na promoção de O mercado de notícias, a santa inventada por Kurt Vonnegut: Nossa Senhora do Perpétuo Espanto.
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Confira trecho da entrevista com Jorge Furtado
O mercado de notícias trata da mídia. A internet contribuiu positivamente?
Meu filme é basicamente uma defesa da atividade profissional de jornalistas. Com a internet, num determinado momento, ficou parecendo que não precisava mais ter jornalistas, pois todo mundo é: tem Facebook, Twitter ; só que eu achei exatamente o oposto. Nesse momento é que a gente precisa de um profissional treinado, com critérios, que saiba checar a informação, que tenha fontes. Gente com compromisso até de se corrigir, num caso de erro. Ouvi uma frase que eu achei muito boa: ;Eu não tenho tempo para ler textos tão curtos;.
Há contraponto a este imediatismo?
Prefiro pegar um artigo de três páginas, entrevistas longas. Quero me aprofundar em alguma coisa. A internet tende a criar nichos. Quando eu leio, procuro ficar em dúvida: ela é que te faz mover para a frente.
No Brasil, a imprensa ainda pode ser marrom; e a elite, branca?
Sou otimista: nunca me senti tão bem informado quanto hoje. Tenho no meu bolso todos os jornais do mundo. Basta a pessoa querer ser bem informada. Antes tínhamos muito menos fontes de informação. Quanto ao papel, é triste chegar à banca de revista. Só tem o tal jornalismo endocrinológico, ao qual o Geneton Moraes Neto se refere no meu filme: tratam de como se emagrece, de como engordar; Quanto à elite brasileira, é totalmente branca. O Brasil é um país com metade da população negra e, num restaurante, você não vê negros ; exceto os garçons.
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