É preciso fé para escrever um poema. Tal qual no sacerdócio, se não houver a crença no intangível, todo o resto fica comprometido. E não há nada mais intangível que as palavras quando usadas para traduzir o sentir. É um pouco assim que se deve chegar a O amor e depois, o sétimo livro de Mariana Ianelli, 33 anos e certamente um dos expoentes da jovem poesia paulistana. Neta do pintor Arcângelo Ianelli, mestre em literatura, crítica literária e duas vezes finalista do Prêmio Jabuti, Mariana faz da poesia um instrumento de compreensão do mundo e do humano, mas se engana quem estiver em busca do óbvio.
A poetisa não é moderna, não tem medo de falar de sensações e não é direta. ;Depois da bruma que seduz o erro/Depois da grande decepção e do escrúpulo/Mesmo que te doendo como um animal/Perdido, arremessado no vazio de um campo,; escreve. Nem sempre o tema do poema se apresenta e, assim como a autora durante o processo da escrita, o leitor precisa de fé para mergulhar no universo subjetivo. Se os versos não revelam de imediato, eles fisgam pela delicadeza. ;Acho que todo escritor, todo poeta, para escrever, antes lê as coisas ao seu redor. O que depois aparece para a crítica como tema, motivo poético ou característica marcante de um livro nem sempre são aspectos que moveram o autor ou que ele teve a intenção de priorizar;, explica Mariana. ;Vejo, por exemplo, leituras de O amor e depois mencionando o tema do amor, o que para mim não deixa de ser intrigante, porque, na verdade, à parte o poema-título, o amor não está presente ali senão como um consentimento maior, algo ligado a um sentido de esperança diante das coisas destruídas, devastadas, aparentemente extintas.;