Nahima Maciel
postado em 22/09/2011 08:39
Graciliano Ramos publicou Angústia aos 44 anos. Já trazia na bagagem Caetés e São Bernardo, mas a história do funcionário público solitário e frustrado fincou uma estaca na trajetória do autor. Haveria o antes e o depois de Angústia. Antonio Candido avaliou o personagem como um dos mais dramáticos da literatura brasileira e Alfredo Bosi elenca o romance como o mais moderno da trajetória de Ramos. O motivo do espanto com que o livro foi recebido quando publicado era simples: muitos procuravam na verborragia rancorosa do protagonista alguma conexão com a crítica social dos romances anteriores. Não encontraram porque ali o autor exercitava outro tipo de narrativa. É para falar da atualidade de Angústia que o simpósio Graciliano Ramos ; 75 anos de Angústia percorre o Brasil desde terça-feira e desembarca hoje na cidade com um time de críticos literários provenientes de São Paulo, Belo Horizonte, Maceió e Brasília. Organizado pela editora Record ; que acaba de publicar uma edição comemorativa com direito a fortuna crítica no final ; o encontro ocorre em cinco capitais e pretende esmiuçar o romance 75 anos depois de ser publicado. ;São cinco diferentes perspectivas sob as quais os autores vão discutir o livro;, explica Elizabeth Ramos, que teve a ideia de realizar o simpósio enquanto reunia as críticas da edição comemorativa. ;Eu vou falar sobre o espaço na construção de Angústia, mas alguns vão falar de angústia sob a perspectiva freudiana e outros sob um olhar político.; Além da própria Elizabeth, que é professora da Universidade Federal da Bahia e neta de Graciliano Ramos, participam Erwin Torralbo Gimenez, da Universidade de São Paulo (USP), Wander Melo Miranda, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belmira Rita da Costa Magalhães, da Universidade Federal de Alagoas, e Hermenegildo Bastos, da Universidade de Brasília (UnB).
Convidado para a palestra de abertura em São Paulo na terça-feira, Antônio Candido levou uma coleção de dedicatórias do autor e analisou Angústia de dois pontos de vista. Em um, se colocou como um simples leitor. No outro, assumiu a postura de crítico e lembrou o conteúdo do primeiro texto que fez do romance, em 1936. ;A coisa mais honrosa que aconteceu na minha vida foi ter sido convidado por Graciliano Ramos a escrever a introdução de sua obra. Foi uma surpresa porque ele era comunista e eu,um socialista;, disse Candido, ao lembrar a disputa entre as duas correntes de esquerda. ;Ele ficou totalmente acima disso. Uma prova de integridade e de independência memoráveis.; Durante a abertura, o crítico também contou que já leu São Bernardo ;umas 20 vezes; e que lê poucos autores contemporâneos. Prefere os clássicos.
Candido não vem a Brasília, mas é considerado o maior estudioso de Ramos do Brasil. Quando lançado, o romance causou incômodo por causa das repetições que permeiam o texto. Críticos como Candido diziam que era cheio de gorduras. Elizabeth enxerga nas repetições da narrativa uma atitude voluntária do avô: ;Para mim, são propositais porque essas gorduras aumentam a angústia, são quase uma figura de estilo para intensificar o sentimento de angústia, que é transferido para o leitor.;
Para Hermenegildo Bastos, a atualidade do livro está na perspectiva histórica que ele é capaz de oferecer. É preciso lembrar que o autor, comunista militante, estava preso e que corria o governo de Getúlio Vargas quando Angústia foi publicado. ;São cinco visões diferentes e essa é a ideia: possibilitar a variedade de leituras de um romance que tem uma história muito rica;, avisa o professor de literatura brasileira na Universidade de Brasília (UnB).
GRACILIANO RAMOS ; 75 ANOS DE ANGÚSTIA
Com Elizabeth Ramos, Wander Melo Miranda, Hermenegildo Bastos, Erwin Gimenez e Belmira Magalhães. Hoje, das 10h às 12h e das 16h às 18h, no Auditório 4 do Instituto de Biologia da Universidade de Brasília. Entrada franca.