Nahima Maciel
postado em 05/07/2011 09:42

O processo de extração da borracha serviu apenas de introdução para a fotógrafa. Na verdade, Regina estava interessada no cotidiano da comunidade e nas mudanças ocorridas desde 1990, quando um decreto do governo federal criou a reserva após anos de conflito entre fazendeiros e seringueiros. ;Hoje eles podem caçar para consumo próprio, têm uma área de manejo para plantação de arroz e outros produtos e vivem da extração da borracha e da castanha. Minha intenção era mostrar que eles conseguiram o intuito deles, que era proibir a invasão e o desmatamento;, destaca a fotógrafa.
Hevea Brasil, uma referência ao nome científico da seringueira, reúne 100 fotografias realizadas durante a vivência do cotidiano dos seringueiros da reserva. Para destrinchar esse dia a dia, Regina dividiu o livro em cinco capítulos, cada um incumbido de apresentar um aspecto da vida diária da população. O primeiro é dedicado à floresta, fonte de subsistência e origem desse povo. Mas é apenas uma introdução. A lente da fotógrafa quer mesmo dar ênfase ao modo de vida.

Assim, Regina conduz a câmera pelos interiores das casas, pelas expressões de apaziguamento, pela simplicidade na manutenção de convenções sociais e pela tradição do trabalho. Um casamento com buquê de flores de plástico lembra que a pompa pode não estar presente, mas o fundamental na união de duas pessoas basta para a festa. Na infância da reserva, os brinquedos são outros, fornecidos pela floresta, e a caça, base da alimentação, é objeto de reverência e cuidado. Nos rostos fotografados em close ; imagem sempre presente nos ensaios de Regina ;, paira a tranquilidade de quem vive do fruto de luta consistente e vencida.
O recorte é deliberado. A fotógrafa quis, intencionalmente, revelar um cotidiano de satisfação e bem-estar. ;Hoje eles têm um cotidiano muito tranquilo e a ideia era mesmo mostrar a beleza daquele povo, que sobreviveu e hoje vive superbem, com qualidade de vida.; Se a religiosidade ganhou destaque naturalmente em algumas fotos ; ;ela é muito forte para eles; ;, a tradição foi insistência de Regina. Ela queria registrar uma poronga, a antiga lanterna com chama de querosene usada pelos seringueiros para trabalhar durante a madrugada quando o sistema de defumação da borracha exigia que a coleta fosse feita antes do dia nascer. ;Quase que não consigo encontrar;, conta a fotógrafa. ;Hoje a defumação é química e eles não precisam mais sangrar tão cedo, então não usam mais a poronga.; As imagens encerram o livro ao lado de técnicos em processo de instalação de postes de luz.