Dizem que as janelas da alma revelam sentimentos inconfessáveis. Entre eles, um dos mais temidos é a inveja, emoção considerada pecado e facilmente percebida nos olhos de quem a carrega. De tão assustador, o olhar do invejoso parece até carregar poderes mágicos, capazes de causar mal àqueles que estão em sua mira.
A crença no mau-olhado remonta a tempos imemoriais: por meio de inscrições cuneiformes em placas de argila, os sumérios já contavam que a deusa do submundo podia aniquilar a divindade do amor com um relance mortal. Habilidade semelhante tinham demônios babilônicos, capazes de ferir homens desprevenidos que se aventuravam em desertos e cemitérios. Mas, embora essas lendas e as superstições que originaram tenham um componente sobrenatural, o economista Boris Gershman garante que a origem do também chamado olho gordo não é de outro mundo. Tem explicações bem terrenas e, ao longo da história, ajudou na formação da economia como existe hoje.
Pesquisador da American University, em Washington (EUA), Gershman é um dos especialistas que se dedicam à crescente área de estudos sobre as origens de instituições e tradições culturais, mais especificamente a uma vertente conhecida como direito e economia da superstição. Nessa linha de estudo, busca-se explicar racionalmente como certas crendices surgiram e persistiram na história. Sua teoria sobre o mau-olhado foi publicada recentemente na revista especializada Journal of Economic Behavior & Organization.
Segundo ele, o surgimento da crença está fortemente ligado a condições de desigualdade. Sociedades em que alguns tinham muito mais que outros eram as mais suscetíveis a essa cultura. Prescrições para ;evitar o mau-olhado; apareceram como uma defesa contra rebeliões, especialmente em populações agropastoris nas quais a distribuição de riqueza era desigual e a manutenção de bens ; como gado ou estoques de cereais ; era frágil.
;O mau-olhado foi um mecanismo de defesa cultural, e evidências de sociedades pré-industriais de pequena escala mostram que há, de fato, uma associação positiva entre a incidência da crença e a desigualdade de riquezas;, explica o pesquisador norte-americano. Gershman analisou o perfil de 186 sociedades pré-industriais de todo o mundo, e essa relação foi observada em todos os continentes, com a intensidade variando de acordo com a região e a cultura (veja mapa abaixo).
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