Luciane Evans
postado em 16/04/2013 09:38
Belo Horizonte - Muito mais do que as sequelas deixadas no corpo, como a perda do útero, milhares de mulheres que se submetem a um aborto clandestino no Brasil enfrentam um outro problema de saúde: o de ordem emocional. Angústia, alto grau de depressão e transtornos mentais são, segundo especialistas, as marcas cravadas na alma que podem aparecer de imediato ou anos depois do procedimento. O gatilho para o desenvolvimento desses males é disparado, principalmente, pelo preconceito da sociedade, pela culpa de ter cometido um crime segundo as leis brasileiras e pelas questões religiosas. Por tudo isso, muitas delas se fecham no silêncio, postura considerada pelos especialistas perigosa para a saúde mental.
A psiquiatra e psicanalista Gilda Paoliello, integrante da Diretoria da Associação Mineira de Psiquiatria e professora da residência de psiquiatria do Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (Ipsemg), diz que "a conotação estigmatizante da ilegalidade do aborto coloca a mulher na condição de ré, provocando sentimento de culpa, muitas vezes irreversível, levando a uma autocondenação sem apelo." Segundo ela, essa posição de autocondenação relaciona-se com grande incidência a sintomas depressivos e a abuso de álcool e de outras drogas. "Elas vivem também o transtorno de estresse pós-traumático, com vivências de flashbacks do ato do aborto, vivências persecutórias e ideação suicida em torno de 40% dos casos. Muitas vezes, o sentimento de culpa compromete indelevelmente a vida afetiva da mulher, provocando ;gravidez de substituição;, com prejuízo nas ligações maternas posteriores", explica.