Renato Alves
postado em 31/08/2016 09:31
No dia em que o Senado vota o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, é anunciado o fechamento do Piantella, restaurante em que políticos confabulavam acordos e traições que definiram os rumos da República nos últimos 40 anos. O dono do estabelecimento localizado na 202 Sul, o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, comunicou a decisão a colegas de profissão, por meio de um grupo de whatsapp.
Leia mais notícias em Cidades
Mais conhecido como Kakay, ele lamentou "profundamente" o destino daquele que considera "uma segunda casa para muita gente", um "patrimônio imaterial da cidade". Garantiu ter feito o possível para manter a casa, mas a crise financeira do país e as dívidas antigas do estabelecimento não deixaram.
Mais conhecido como Kakay, ele lamentou "profundamente" o destino daquele que considera "uma segunda casa para muita gente", um "patrimônio imaterial da cidade". Garantiu ter feito o possível para manter a casa, mas a crise financeira do país e as dívidas antigas do estabelecimento não deixaram.
"Hoje é um dia especialmente difícil. Depois de anos tentando salvar o Piantella, me vejo na obrigação de fechar as portas. Não tenho apego às questões materiais, o que me comove é que o Piantella era uma segunda casa para muita gente. Ali se trabalhou pela redemocratização, pelas Diretas Já, ali famílias se reuniram e viram o costume de estar lá. Simples assim, de geração para geração, era onde os amigos se encontravam. Era um patrimônio imaterial da cidade. Por isso, tentei tanto manter aberto nosso bom e velho Piantella. Tem horas, porém, que a realidade tem que ser enfrentada. Me despeço do Piantella como quem se despede de um amigo e me lembrarei das incontáveis noites, madrugadas, tardes que viravam notite, das cantorias ao pé do piano, e esta lembrança boa, divertida, alegre que me acompanhará pela vida toda. La vie cest pas un lonmg fleuve tranquille", escreveu Kakay, a um grupo de amigos advogados, em mensagem enviada pelo celular.
O último dia
Ao Correio, na manhã desta quarta-feira (31/8), Kakay confirmou o fechamento do Piantella. Afirmou que é o último dia de funcionamento do restaurante. Ele fez questão de ressaltar a importância histórica do estabelecimento. ;Optamos por fechar. O Piantella tem uma longa história. Bonita. De encontros políticos, familiares, de amores e namoros. Queremos lembrar só das coisas boas. Uma lembrança é a época do Diretas Já. O Piantella era o centro de tudo em Brasília, com almoços e jantares que não acabavam nunca. Ao piano, diversas composições políticas foram feitas por lá;, lembrou.
[SAIBAMAIS]O Piantella era o mais tradicional reduto de poderosos de Brasília, entre políticos e empresários patriarcas de famílias tradicionais. Entre os políticos, Ulysses Guimarães e Luís Eduardo Magalhães tinham mesas cativas ; há uma placa na parede em homenagem à mesa de Magalhães. O agora presidente interino Michel Temer, entre outros, também tinha mesa cativa no bar e no restaurante. O ex-ministro José Dirceu batia ponto no segundo andar, em sala reservada, para degustar vinhos com a cúpula do PT.
Dívidas e empréstimos
Kakay era dono do Piantella há mais de 17 anos. Em outubro de 2014, ele comprou os outros 50% de Marco Aurélio Costa, sócio e fundador. À época, o restaurante já acumulava dívidas astronômicas, apesar do cardápio com preços altos e da clientela poderosa e abonada.
Dívidas e empréstimos
Kakay era dono do Piantella há mais de 17 anos. Em outubro de 2014, ele comprou os outros 50% de Marco Aurélio Costa, sócio e fundador. À época, o restaurante já acumulava dívidas astronômicas, apesar do cardápio com preços altos e da clientela poderosa e abonada.
No ramo da gastronomia, o plano do casal é focar no outro restaurante, o Piantas, antigo Bistrô Expand, na 403 Sul. "Agora vamos tocar a vida com o Piantas, que é filho do Piantella", destacou o advogado. Como um dos criminalistas mais requisitados de Brasília, Kakay, 58 anos, defendeu e defende muitos nomes de peso do meio político nacional. Conseguiu livrar o publicitário Duda Mendonça das acusações no mensalão do PT e tenta o mesmo com o ex-senador Demóstenes Torres em seu envolvimento com o bicheiro Carlinhos Cachoeira.