A vacinação faz parte da rotina de milhares de pais no Distrito Federal. Até aqueles mais desatentos sabem da importância da imunização. A rede pública, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), disponibiliza 17 tipos de vacinas, além de 10 para grupos em condições clínicas especiais, como portadores de HIV e doentes crônicos. No entanto, ao longo deste ano, os estoques permaneceram boa parte dos meses zerados. A DTPa infantil (contra difteria, tétano e coqueluche acelular) está em falta desde janeiro. As crianças que precisam tomar a BCG (contra tuberculose) são submetidas a um agendamento prévio ; medida para regular a baixa reserva disponível desde março. Na rede particular, a Pentavalente, a Hexavalente e a Meningo B, que protegem da meningite e de outras infecções, também desapareceram das prateleiras. Várias clínicas estão com listagem de espera.
Dayane Corrêa, 22 anos, mãe de um bebê de apenas 2 meses, peregrinou por quatro unidades médicas até conseguir vacinar a filha recém-nascida. A menina esperou quase um mês para receber as doses da vacina BCG e contra hepatite B ; normalmente aplicadas na primeira semana de vida. ;Fiquei muito preocupada. Se na primeira (imunização) foi assim, imagina como será para manter o cartão atualizado. A maior chateação é o tratamento que a gente recebe do servidor público;, reclama Dayane, moradora da Quadra 13 de Planaltina.
Um auxiliar de enfermagem, que preferiu não ser identificado, diz que as maiores perdas estão relacionadas ao condicionamento inadequado ou a lotes vencidos. ;Este ano, uma pane elétrica fez com que centenas de vacinas fossem para o lixo. Mesmo sem esse problema, os postos enfrentam dificuldades com espaços inadequados e aparelhos de refrigeração muito antigos para o armazenamento;, revelou o servidor, que trabalha em uma unidade de saúde do Lago Norte. Segundo ele, junta-se a esses problemas, a falta de seringas do tipo 20x5,5 (espessura fina).
O Correio ligou para sete postos de vacinação de diferentes regiões administrativas. Entre eles, o Centro de Saúde n; 7, na QNO 10, em Ceilândia. Por telefone, a servidora informou que não há previsão para a normalização do serviço. ;Está faltando desde o início do ano. Se você estiver com pressa, pode procurar outro posto, talvez algum ainda tenha no estoque;, disse, ao explicar que, no local, a vacinação está suspensa.
Disputa
A rede particular também sofre com o desabastecimento. As unidades médicas consultadas pela reportagem disseram que não há previsão para a demanda ser atendida. Nas redes sociais, mães compartilham informações sobre os pontos que ainda têm vacinas disponíveis para compra. Apenas em uma clínica, na 716 Sul, Pentavalente, Hexavalente e Meningo B estavam disponíveis esta semana. O lote, porém, foi vendido em menos de duas horas, o que gerou uma lista de espera que conta com 150 nomes. Alguns pais preferiram deixar paga a segunda dose. O preço da vacina contra meningite, por exemplo, varia entre R$ 600 e R$ 1,3 mil.
Marta Pereira de Carvalho, especialista em doenças imunopreveníveis, atua no setor há mais de 20 anos e diz nunca thouve tamanho desabastecimento. ;O problema está ligado a dois fatores: o primeiro é a falta de princípio ativo; o segundo, a quantidade de laboratórios que atuam no Brasil. Em alguns casos, apenas uma marca fabrica a vacina;, explica. A expectativa do mercado é que em 2016 o problema seja resolvido. ;Existe a movimentação de algumas empresas para entrar no mercado brasileiro. Isso pode melhorar todo o sistema;, afirma Marta.
Substituição
O Executivo local não possui dados separados de vacinação entre crianças e adultos. No primeiro semestre de 2015, 1.540.859 doses foram aplicadas ; isso representa 75% do total em todo o ano de 2014, quando 2.039.866 pessoas se imunizaram. Com a falta das vacinas DTPa infantil e DTP adulta, a pasta substituiu os itens pela Pentavalente. ;O Ministério (da Saúde) vem enfrentando dificuldades na produção. Diante disso, a recomendação é utilizar essas temporariamente;, reconheceu, em nota, a Secretaria de Saúde do DF.
Sobre os desperdícios pelo acondicionamento incorreto, a Secretaria disse não ter como controlar as perdas. ;O controle das vacinas fica a cargo de cada unidade de saúde. Por isso, não sabemos onde ocorreram casos de vacinas vencidas e que foram descartadas;, informou a pasta.
O Ministério da Saúde garantiu, em nota, que as vacinas estão com distribuição regular. No entanto, ;problemas de produção mundial; da vacina DTPa infantil estão afetando a disponibilidade. ;O Programa Nacional de Imunizações (PNI) fez todo o planejamento de compra da vacinas no mercado internacional, já que não há produção nacional;, explica o texto. Segundo a autarquia federal, a recomendação é que crianças acima de 4 anos recebam a vacina DTPa para gestantes, apesar de alguns postos optarem pela Pentavalente.
A pediatra Cláudia Valente, da Associação Médica de Brasília (AMBr), diz que o risco de reação alérgica nas crianças é pequeno, mas critica a falta de organização das duas esferas de governo. ;É preciso ter um esquema forte de logística e planejamento para evitar esse tipo de problema;, afirmo.
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