Cidades

A cada quatro dias, um jovem morre em acidente de trânsito no DF

Dados do Detran apontam que 81 pessoas entre 18 e 24 anos perderam a vida no ano passado, um aumento de 9,5%

Luiz Calcagno
postado em 24/01/2012 06:35
Manuel, que perdeu o filho de 19 anos em acidente na BR-020, pede mais consciência à juventude
A cada quatro dias, um jovem morre em acidente de trânsito no Distrito Federal. Ao longo do ano passado, o número de vítimas com idade entre 18 e 24 anos aumentou 9,5%. Nessa faixa etária, houve pelo menos 81 mortes, contra 74 ao longo de 2010. Em parte dos casos, as tragédias vieram acompanhadas da combinação de imprudência e da falta de habilidade ao volante. O condutor de 19 anos do carro envolvido em colisão com seis mortes no fim de semana, por exemplo, não tinha Carteira Nacional de Habilitação (CNH).

O diretor-geral do Departamento de Trânsito (Detran), José Alves Bezerra, credita as mortes e os acidentes com jovens a uma combinação de fatores. ;Temos uma geração que começa a beber e a dirigir muito cedo, às vezes, com a conivência dos pais;, explica. Aliado a isso, falta ao Estado estrutura para fiscalizar. Segundo Bezerra, o deficit de servidores no Detran é de pelo menos 800 funcionários, metade deles, do quadro da fiscalização. ;Até o fim do ano, devemos chamar 100 servidores do concurso público que está em curso. Além disso, vamos investir pelo menos R$ 18 milhões em campanhas de educação para o trânsito e em grandes campanhas de publicidade;, adiantou.
[SAIBAMAIS]
Apesar de as mortes entre jovens ter aumentado, os acidentes fatais estão em queda. Foram 104 em 2011 contra 116 em no período anterior. Em relação ao ano passado, o Detran apurou que, em sete casos, os condutores apresentavam sintomas de alcoolemia. Pelo menos cinco não eram habilitados para dirigir.

Crime

As causas do acidente do fim de semana na BR-070 continuam em apuração. O laudo do Instituto de Medicina Legal (IML) deve ficar pronto até sexta-feira. Segundo a polícia, os peritos adiantaram que o veículo seguia pela faixa da esquerda e, por volta das 5h, foi bruscamente para a direita em alta velocidade, saiu da via, bateu no chão e em um poste e capotou diversas vezes. Seis jovens entre 15 e 19 anos perderam a vida.

Agentes da 24; Delegacia de Polícia (Ceilândia Norte) investigam se o eletricista Aliésio Hipólito da Silva, 59 anos, tinha o hábito de ceder o carro para o filho de criação, o porteiro Espedito Sirqueira da Silva Júnior, 19, que conduzia o veículo na hora da tragédia. Se ficar provado que o garoto tinha o consentimento do pai, Aliésio poderá responder pelo artigo 310 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB). O eletricista, no entanto, disse à polícia que o filho pegou o carro sem autorização. ;Nós já instauramos inquérito e estamos apurando as causas do acidente e, se há crime, é no caso de o Aliésio saber que o filho pegava o veículo e consentir;, disse o delegado responsável pelo caso, Amado Pereira.

Dados do Detran apontam que 81 pessoas entre 18 e 24 anos perderam a vida no ano passado, um aumento de 9,5%

Três perguntas para - Rosana Laurinda do Couto

38 anos, mãe de Duanny do Couto Veras, vítima do acidente na BR-070

Qual é a mensagem que a senhora gostaria de deixar aos pais após essa tragédia?
Eu deixo esse alerta para os pais ensinarem aos filhos a dar valor à vida e a honrá-los. Muita gente culpa os governantes, mas os próprios pais deixam de dar bons exemplos. Precisam ter mais consciência. Hoje, existe muita facilidade, muita tentação, em um mundo onde tudo acontece muito rápido. A Duanny era uma ótima filha, foi criada com os ensinamentos de Deus e nunca me deu trabalho. Ela não bebia, não usava drogas. Mas ela não resistiu a um convite. Não soube dizer ;não;. Por isso, ela estava no lugar errado, na hora errada. Espero que os pais aprendam com a minha dor.

A senhora sente raiva ou mágoa?
Não. Prefiro pensar que Deus a tirou de mim para evitar que algo ainda pior acontecesse a ela, algo que talvez eu não fosse capaz de suportar. E também não quero ficar pensando muito e questionando as pessoas que estavam lá. Quem sou eu para julgar? Agora, ela está em um lugar maravilhoso, descansando ao lado do Senhor.

Como será a vida da sua família daqui para a frente?
Eu vou sempre sentir a falta dela, não tenho como substituí-la. Mas acho que um pedacinho dela vive na Nicole (filha de Duanny, de 1 ano e 8 meses). Elas são iguais, cada detalhezinho que Deus deu à Duanny deu à Nicole. E eu vou me concentrar em criar a minha neta e o meu filho, Kaio, de 1 ano e 5 meses e ensiná-los os bons valores e a escolher bem o caminho deles. O futuro só Deus sabe como será.

"Dor imensa"

A realidade das famílias dos jovens mortos no trânsito é repleta de sofrimento. ;Uma dor imensa, que vou carregar até o fim da vida;, conta o corretor de imóveis Manuel Costa Filgueira, 50 anos. O filho dele, Diego, 19 anos, morreu após uma capotagem na BR-020, em 2007. O garoto voltava com amigos de uma festa em Formosa quando o motorista perdeu o controle da direção. O condutor estaria sob o efeito de bebida alcoólica e em alta velocidade. Diego, que, segundo o pai, não bebia, morreu na hora. O que estava ao volante, cinco dias depois. ;Eles (jovens) acham que nada vai acontecer se beberem. A nossa juventude precisa se conscientizar,; afirma.

A experiência do vendedor Lúcio Marcos de Almeida, 39 anos, é semelhante. O filho, Bruno Fonseca de Almeida, 15 anos, morreu no início do ano em um acidente na Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia). O jovem estava no banco de trás de um Corsa, que fazia um retorno na via, próximo à Feira dos Importados. Ademir Vogel Ferreira, 39 anos, seguia em um Palio e, em uma tentativa de ultrapassagem, invadiu a faixa de aceleração e bateu na traseira do Corsa. Bruno não resistiu aos ferimentos e morreu. Ademir teria apresentado sinais de embriaguez. ;A mistura de álcool e direção acabou com a minha família. A minha mulher sonha com o filho e acorda chorando. A única solução é educar para que isso não se repita;, diz.

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