Helena Mader
postado em 18/07/2011 08:00
Tiros, facadas e socos levam a juventude brasiliense aos hospitais do Distrito Federal. No ano passado, 1.582 pessoas foram internadas depois de sofrerem agressões nas ruas da capital federal. E a maioria dos pacientes tinha entre 15 e 29 anos. A violência deixa marcas nos jovens agredidos e dá trabalho aos médicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem que atuam nas emergências e nos ambulatórios da rede pública. As agressões não têm hora para acontecer, mas boa parte dos casos ocorre nos fins de semana. O uso de álcool e de drogas é apontado por especialistas como o grande elemento causador da violência que leva os jovens feridos às unidades de saúde.
Antes de chegar à unidade de Ceilândia, a médica Adriana Portilho trabalhava no Hospital Regional de Taguatinga (HRT). Ela notou a diferença entre os dois pontos de atendimento. ;Aqui em Ceilândia, a gente recebe um número infinitamente maior de esfaqueados e baleados. E problemas como a falta de anestesistas na rede, por exemplo, agravam ainda mais a situação porque o paciente tem que ficar internado enquanto aguarda a cirurgia. Alguns passam até três semanas dentro do hospital;, comenta a médica. ;Outro agravante são as drogas. Há feridos que chegam aqui e que usaram vários tipos de droga. A gente tem dificuldade até para identificar o que eles usaram;, finaliza a chefe da emergência do Hospital de Ceilândia.
Pacientes importados
Entre as vítimas de violência que chegam aos hospitais do DF, muitos são moradores do Entorno. É o caso de Leonardo Pereira da Silva, 22 anos, atingido por quatro disparos de arma de fogo na Quadra 19 de Planaltina de Goiás. Era o dia de folga do jovem e ele saiu de casa para se divertir com os amigos. Depois de uma confusão próximo a um bar, um desconhecido disparou contra Leonardo, que foi atendido em um hospital de Brasilinha e, em seguida, transferido para o Hospital Regional de Sobradinho.
A vítima recebeu um tiro em cada braço e dois projéteis atingiram seu abdômen. O jovem, que trabalha na equipe de manutenção de um shopping center do Lago Norte, teve que ser submetido a exames e a uma cirurgia. ;Graças a Deus, a bala não ficou presa no corpo dele. Mas o Leonardo teve que fazer muitos exames, até agora ninguém sabe exatamente se ele teve alguma lesão dentro da barriga. No hospital, vários médicos tiveram que atender o meu filho porque o caso era complicado;, comenta a doméstica Maria Helena Pereira da Silva, 48 anos, que permanece ao lado do jovem na enfermaria do Hospital de Sobradinho.
O menino Caio Vítor Alves Barreto, 8 anos, foi atingido recentemente por uma bala perdida na rua onde mora, no bairro do Céu Azul, município goiano do Novo Gama. Ele foi levado às pressas para o Hospital de Santa Maria, onde fez exames como raios-X e tomografia. ;A sorte é que a bala não atingiu nenhum órgão;, comemora a mãe da vítima, a autônoma Joana d;Arc Santos Barreto, 23 anos.
[SAIBAMAIS]Apesar de já ter recebido alta médica, a criança ainda vai depender da rede pública por tempo indeterminado. ;Vamos ter que voltar ao posto de saúde para tirar os curativos. Além disso, acredito que o meu filho vai precisar ainda de atendimento psicológico porque ele está em pânico depois que levou a bala na barriga. Não tem coragem de brincar na rua e fica muito assustado quando ouve um barulho;, afirma a mãe do garoto.