postado em 20/03/2011 08:17
O marido da deputada Jaqueline Roriz, Manoel Neto, se valeu da influência das prerrogativas de sua mulher para empregar parentes na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) entre 2007 e 2010. Ele não foi o único, porém, a usar do expediente para beneficiar familiares. Celina Leão (PMN) aproveitou a condição de chefe de gabinete de Jaqueline para dar empregos à mãe, aos irmãos e à cunhada na estrutura da Casa. O Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT) recebeu um documento de 200 páginas com denúncias sobre a existência de servidores fantasmas vinculados ao gabinete da parlamentar. Além disso, há acusações de que alguns funcionários eram obrigados a devolver parte dos salários, que teriam beneficiado Manoel Neto e Celina.Um ex-servidor do gabinete de Jaqueline Roriz contou ao Correio como funcionaria o esquema. ;Eu e outros funcionários éramos obrigados a devolver parte dos salários, o que ocorria em parcelas para que não ficassem rastros dos saques nas contas. Essas devoluções ocorriam na garagem da Câmara Legislativa;, diz. Outro ex-funcionário do gabinete acusou Celina de ser conivente com a nomeação de servidores fantasmas. ;Ela tinha total conhecimento desses casos. Prova disso é que, como pessoa responsável pela administração do gabinete, Celina abonava a folha de ponto dos servidores.; Esses ex-funcionários aceitaram dar declarações ao Correio, mas preferiram não se identificar por enquanto para evitar retaliações. Eles afirmaram estar dispostos a contar tudo o que sabem ao Ministério Público e às autoridades competentes.
Celina foi nomeada no segundo dia de mandato da amiga com o cargo de natureza especial (CNE) 1, no valor de R$ 11,9 mil. Permaneceu na função por dois anos e três meses. Em seguida, assumiu a vaga Vera Lúcia de Sousa Ferreira. Segundo os ex-funcionários do gabinete de Jaqueline, Vera repassaria mensalmente o salário para Celina e ficaria apenas com R$ 700, valor referente ao auxílio-alimentação. A servidora teria trabalhado na campanha de Jaqueline e era mãe de outra contratada ; Gisele Ferreira de Oliveira. Segundo as denúncias, Vera não aparecia para trabalhar e serviria apenas como uma espécie de ;laranja;.
Dois irmãos de Celina também foram empregados na cota de indicações de Jaqueline Roriz. Antônio Abrão Hizim foi nomeado em 17 de janeiro de 2007 com o salário de R$ 9,1 mil e deixou o cargo dois meses depois para ganhar R$ 8 mil como secretário parlamentar do deputado federal Natan Donadon (PMDB-RO) ; que foi condenado no fim do ano passado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 13 anos de prisão, além de multa, pelo crime de peculato e formação de quadrilha. Para substituir Hizim, foi contratada Terezinha Zaratini Alevato, que, segundo as denúncias, também repassaria o salário ao antigo titular da vaga.
Redistribuição
José Vicente Leão Machado de Araújo foi outro irmão de Celina a passar pela Câmara. Ele assumiu em 1; de março de 2007 cargo com vencimento de R$ 9,1 mil, mas foi exonerado 11 dias depois. Para o posto, foi chamada a própria mulher, Vivian Rodrigues. José Vicente foi realocado e ganhou uma vaga na Administração do SIA.
Vivian permaneceu no cargo até o fim do mandato de Jaqueline, assim como fez a mãe de Celina, Maria Célia Leão Neto. A matriarca entrou na Casa em 3 de janeiro de 2007 e recebia salário de R$ 8,2 mil. Maria Célia também trabalhou na campanha de Jaqueline.
Mandato lucrativo
Durante os quatro anos como integrante do Poder Legislativo local, Jaqueline Roriz empregou uma filha, três enteadas e dois genros de Manoel Neto, entre 2006 e 2010. Ao longo de seu mandato, os salários de parentes de sangue ou por afinidade vinculados ao casal somaram R$ 1,56 milhão.