postado em 15/01/2011 08:29
Cadernos, livros e apostilas dividem espaço com latas de cerveja. As carteiras viram mesas para copos e garrafas. Dessa forma, as confraternizações da Universidade de Brasília (UnB) seguem noite adentro. A maioria delas ocorre nos centros acadêmicos, redutos destinados ao convívio de estudantes de um mesmo curso. Apesar de não existirem proibições quanto ao consumo de álcool no câmpus, o problema começa quando os alunos passam a vender as bebidas ou se empolgam e aproveitam as salas e corredores para consumir drogas, como maconha.O comércio de bebidas alcoólicas no Instituto Central de Ciências (ICC) e em grande parte do perímetro da universidade é proibido (veja Saiba mais). A comunidade, no entanto, parece enfrentar as normas. Dentro do centro acadêmico (CA) de química, havia um verdadeiro cardápio etílico. Na lousa, letras escritas em giz exibem preços de cervejas, doses de cachaça e vodka e refrigerantes. Por volta das 18h, horário de aulas, estudantes abriam as primeiras latas, embalados por música em volume pouco acima do moderado.
A reunião prometia ir mais adiante. Cartazes em vários dos murais do ICC, o Minhocão, anunciavam uma festa marcada no mesmo local para mais tarde, com início previsto para as 22h30. A propaganda do evento tinha como ilustração a fórmula dos compostos moleculares do álcool. Pelos corredores, não é difícil encontrar um aluno que tenha participado de um desses eventos na UnB, independentemente do curso que o tenha promovido.
As confraternizações regadas a bebidas são antigas. Em junho do ano passado, o Correio divulgou que outro lugar da universidade, o chamado Corredor da Morte, era o campeão em festas de arromba. As paredes pichadas do local ; um conglomerado de pelo menos oito centros acadêmicos no subsolo da ala central ; tinham até uma carta de vinhos afixada com durex. Ainda assim, as reuniões com o som nas alturas continuaram ocorrendo.
Os alunos, inclusive, arrancaram as fechaduras de algumas das portas e colocaram trancas próprias, com cadeados. Todas elas estavam fechadas e aparentemente desativadas ontem. O prefeito do câmpus, Paulo César Marques, afirmou desconhecer os arrombamentos e disse que os demais centros acadêmicos do Corredor da Morte têm autorização para funcionar onde estão. ;Algumas salas já foram fechadas para o início da reforma;, explicou
Como a venda de bebidas e as festas cheias excessos se tornaram comuns, a direção da UnB decidiu apurar os fatos. A reitoria da universidade abriu ontem processo administrativo que vai investigar abusos cometidos em um evento realizado na última quinta-feira no Corredor da Morte, mesmo dia em que a UnB anunciou a reforma do local. Paulo César explicou que os alunos não tinham autorização para promover a atividade. ;Existem imagens que mostram até pessoas consumindo drogas. As coisas precisarão ser esclarecidas;, afirmou.
Happy hour
A festa marcada para o fim da noite de ontem acabou cancelada. O presidente do CA, que se identificou apenas como Daniel, disse que o encontro foi por água abaixo porque a autorização não saiu em tempo hábil. Segundo ele, o cardápio escrito a mão no quadro negro do local é resquício da administração anterior do centro acadêmico e, apesar das letras estampadas, não ocorre a venda de bebidas alcoólicas. ;Somos uma chapa nova e assumimos no início do ano. Ainda estamos nos adaptando ao espaço;, esquivou-se.
O consumo de bebidas alcoólicas em ambiente acadêmico não é encarado como um ato ilegal pelas autoridades da UnB. Muitos dos CAs ficam próximos a salas de aula. Os centros do Corredor da Morte, por exemplo, são vizinhos do laboratório de informática de desenho industrial. O reitor da universidade, José Geraldo de Sousa Júnior, afirma que o problema é quando o chamado happy hour, que normalmente começa no fim da tarde, gera muito barulho e atrapalha o andamento das aulas. ;A proibição é quanto ao comércio de bebidas e ao fumo. O CA é um lugar de convivência, mas os estudantes não podem se aproveitar desse espaço para outros fins;, ressalta.A resolução que regulamenta os tipos de festas permitidas e vetadas na universidade não prevê punições para infratores. O prefeito do câmpus adiantou que os dirigentes da UnB têm a intenção de rever o documento. ;Existe a proposta de revisão das normas para colocar algumas delas em discussão;, adiantou.
Reforma
O Corredor da Morte é um grupo de salas que eram usadas principalmente para aulas de biologia. O curso ganhou sede própria e a maioria das salas vazias foi ocupada por centros acadêmicos. O local passará por uma reforma nos próximos meses. Com o início dos trabalhos, os CAs serão retirados e realocados em outros pontos da UnB. De acordo com o prefeito do câmpus, depois da conclusão do serviço, as salas do local poderão voltar a receber atividades administrativas e até de ensino.
Eu acho...
;A venda de bebidas ocorre em todas as festas e nem todas elas têm autorização. Só as maiores, realizadas nas entradas do Minhocão, têm. Apesar de ser uma opção de diversão para os estudantes, é preciso ter limites. Muitos dos frequentadores das festas da UnB vêm de fora e são os principais causadores das bagunças.;
Luciana Negreiros, 19 anos, estudante da administração, moradora da Asa Norte
PARA SABER MAIS
Normas universitárias
A Resolução do Conselho de Administração n; 2, de 2003, proíbe festas que envolvam propagandas e a venda de ingressos ou de bebidas alcoólicas na UnB. O único local em que comemorações do tipo são permitidas é o Centro Comunitário Athos Bulcão, desde que tenham autorização prévia. No restante do câmpus, a norma considera adequados somente os eventos que proporcionem a ;integração entre os segmentos da universidade;, como recepção de calouros e reuniões de confraternização, espontâneas ou não. Nenhum deles pode perturbar a atividade acadêmica. Podem ocorrer reuniões internas dos CAs, das 8h às 22h30, de segunda a sexta-feira. Para ir além do horário, os eventos precisarão de autorização escrita do diretor de unidade responsável.