Adriana Bernardes
postado em 28/11/2010 08:22
A cada três dias um motociclista se envolve em acidente com morte no Distrito Federal. Dados preliminares do Departamento de Trânsito (Detran) revelam que 2010 nem terminou mas já é o mais violento dos últimos seis anos, em se tratando de colisões e mortes envolvendo motos. Entre janeiro e outubro,131 acidentes resultaram na morte de 96 motociclistas, o que representa um crescimento de 22% e 19%, respectivamente, se comparado com o mesmo período de 2008, quando ocorreram 109 acidentes fatais com moto e 77 motociclistas perderam a vida.Nos últimos anos, a análise dos acidentes com motociclistas revela tendência de aumento e nem assim as autoridades conseguem conter o avanço. Os estudos do próprio órgão revelam que a causa para as tragédias é, na verdade, uma combinação de fatores: o crescimento acelerado da frota, a falta de fiscalização, a imprudência e a imperícia do motociclista. Para se ter uma ideia, em uma blitz realizada na noite da última terça-feira, o Detran apreendeu 96 motos. Metade dos condutores (48) não era habilitada e quatro estavam sob o efeito de álcool. O restante circulava sem os documentos de porte obrigatório, como Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo (CRLV ).
O que dá um certo alívio às autoridades de trânsito é a redução das estatísticas entre outubro e 21 de novembro. Depois de agosto ter alcançado a marca de mês mais violento dos últimos 10 anos, com 21 acidentes fatais com motos e 22 mortos, setembro teve 12 e 13 ocorrências, respectivamente, e outubro fechou com oito acidentes e oito mortos em ocorrências envolvendo motocicletas. Novembro também deve seguir a tendência de queda pois, até o dia 21, foram registrados três acidentes fatais e três mortos.
Fiscalização intensa
Na avaliação do diretor-geral do Detran, Francisco Saraiva, a queda dos números se deve à intensificação da fiscalização. Equipes extras foram formadas com a convocação de agentes que ocupam cargos de confiança e foram incluídos nos grupos que organizam e realizam blitzes nas vias do DF. ;Também colocamos equipes de plantão nos pontos considerados críticos e as estatísticas já revelam que nesses lugares não houve acidente fatal. É a prova de que estamos certos quando defendemos a necessidade de mais agentes;, destaca.
Presidente do Sindicato dos Motociclistas Profissionais de Brasília (Sindmoto), Reivaldo Alves concorda que muitos condutores são imprudentes e cobra do governo ; Detran e Secretaria de Transportes ; rigor na punição e mais campanhas educativas. ;Se o governo fiscalizasse, não tinha tanta gente matando e morrendo. A partir do momento em que o governo investir em blitzes, vai reduzir os gatos com feridos nos hospitais;, acredita.
Reivaldo aponta outros dois caminhos para conter as mortes provocadas por acidentes com moto: curso de pilotagem e direção defensiva para motociclistas profissionais e mudanças na formação do condutor de motos. ;Hoje, a pessoa tira carteira de moto sem dirigir no trânsito. O teste é em um circuito fechado. Apesar da mudança na lei, que determina que as aulas sejam no trânsito, isso não tem ocorrido;, destacou.
De acordo com o sindicalista, no Distrito Federal pelo menos 46 mil pessoas usam a moto para trabalhar e, desses, 18 mil estão cadastrados no sindicato. Atualmente, 840 motociclistas ligados ao Sindmoto estão concluindo um curso de pilotagem e a meta é formar 2 mil. As aulas estão sendo realizadas graças a uma parceria com o governo federal, que destinou R$ 2 milhões para a formação desses profissionais. ;Queremos diferenciar o motociclista profissional do usuário comum com o uso do colete, placa vermelha, faixa refletiva no capacete, no baú e com a instalação da antena anti-cerol. Para isso, precisamos que as autoridades nos deem condições para cumprir a lei;, cobrou.
OBRIGATÓRIO
É obtido quando o proprietário do veículo paga e recebe o Licenciamento Anual de Veículos. O documento deve ser renovado anualmente, sendo de porte obrigatório para todos os proprietários de motos, carros e caminhões.
Quase 5 mil feridos em 2009
No ano passado, os acidentes com moto deixaram 4.586 pessoas feridas, média diária de quase 12 pessoas. Em 18 anos de profissão, o mototaxista Luiz Carlos Garcia Galvão, 43 anos, escapou da morte duas vezes. O primeiro acidente, em 1997, rendeu uma fratura no fêmur da perna direita, seis meses de recuperação e uma sequela leve: passados 13 anos, ele ainda não consegue dobrar direito a perna.
Há cinco anos, ele se envolveu na segunda colisão, esta mais grave. A batida deixou Luiz Carlos em coma na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por 18 dias e a recuperação completa demorou oito meses.
A gravidade dos acidentes não foram suficientes para afastá-lo do trabalho sob duas rodas. Mas os motivos das colisões lhe renderam lições importantes. Galvão assume total responsabilidade pelo primeiro acidente. Diz que estava distraído conversando com um amigo que dirigia o carro ao lado. ;Os veículos da frente pararam no quebra-molas e eu bati em um Gol. Senti muita dor. No segundo, fui vítima da irresponsabilidade de um motorista. Caí e bati a cabeça no meio fio. O capacete rachou e o meu cérebro inchou muito. Em cima daquela maca, fiz minha qualificação profissional. Mudei meu pensamento e minha forma de conduzir a moto;, diz.
Hoje à frente de um sindicato, Luiz Carlos luta para conscientizar os profissionais mais jovens. ;Quando eu comecei, não havia ninguém para me mandar para uma sala de aula. Hoje, lutamos para preparar os novatos para a condução segura;, defende.
MAIS SEGURANÇA
Em julho, o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) editou a Resolução n; 356, estabelecendo requisitos de segurança para o transporte remunerado de passageiros e de cargas em motocicletas. A norma do Contran regulamenta a Lei n; 12.009, que trata do exercício das atividades de mototáxi e motofrete. Segundo a norma, para exercer a atividade, o profissional deverá registrar o veículo na categoria aluguel no Departamento Estadual de Trânsito (Detran). Para efetuar o registro, os veículos devem estar dotados de equipamento de proteção para pernas e motor, aparador de linha e dispositivo de fixação permanente ou removível para o passageiro ou para a carga.