
O Banco Central (BC) inicia, nesta terça-feira (4/11), a penúltima reunião do ano do Comitê de Política Monetária (Copom), e o consenso entre analistas do mercado sobre a próxima decisão, que será divulgada na quarta, é de que não haverá surpresas, sem alteração da taxa básica da economia (Selic), atualmente em 15% ano ano.
Assim será a terceira vez consecutiva em que o colegiado opta por manter a Selic no maior patamar desde julho de 2006. A expectativa é de que o início da flexibilização ocorra no primeiro trimestre de 2026, com a maioria das apostas convergindo para a segunda reunião do Copom, em março.
Ou seja, haverá mais quatro meses de Selic elevada e juros reais (descontada a inflação) acima de 9% ao ano, para o terror do setor produtivo e alegria dos rentistas.
Especialistas ouvidos pelo Correio avaliam que o BC manterá o tom duro contra a inflação (hawkish, no jargão econômico) no comunicado que será divulgado logo após a reunião, sem mudança no trecho de que manterá a janela aberta para um eventual aumento dos juros, se for necessário.
Eles destacam que o fato de o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) ter anunciado uma pausa no corte dos juros norte-americanos na semana passada, demonstrando cautela no cenário externo, pode ser um fator a mais para o Copom continuar conservador.
Apesar de a perspectiva para a inflação deste ano ter recuado de 4,8% para 4,6% — acima do teto da meta, de 4,50% — desde a última reunião do Copom, o consenso entre eles é de que o BC ainda seguirá cauteloso pelo aumento de incertezas na área fiscal.
Os maiores credores da dívida pública, como os bancos e fundos, seguem cobrando mais prêmios de risco, ou seja, taxas mais altas, diante da perspectiva de aumento da necessidade de endividamento do governo.
"Os juros continuarão elevados não só no último Copom do ano, como no ano que vem. Vamos continuar com taxas de juros entre as maiores do mundo, em termos reais, neste ano, acima de 9% ao ano e, em 2027, em torno de 7,7%", destaca o economista e professor da Universidade de São Paulo (USP) Simão Silber.
Esse cenário de juros elevados é resultado do "círculo vicioso característico brasileiro", de acordo com o acadêmico.
"Com uma inflação renitente, o juro é alto. Com o juro alto, a economia cresce pouco, e, crescendo pouco, o problema fiscal se agudiza, porque a receita não cresce e a despesa financeira cresce, sim. E esse problema está, pelo menos, delineado até 2026, e, eventualmente, em 2027, pode-se ter um alívio. Mas aí está muito longe, e o desvio padrão da previsão é muito elevado. Acho que é prematuro fazer uma previsão para esse horizonte de planejamento", explica.
Boa parte dos analistas que esperavam a queda dos juros a partir de janeiro tem revisado as apostas para março, especialmente por conta da piora das perspectivas em relação ao quadro fiscal. É o caso do economista-chefe da XP Investimentos, Caio Megale.
"O Copom vai esperar um pouco mais para ter certeza para iniciar a flexibilização da política monetária. Apesar de o cenário macroeconômico continuar melhorando, eles devem ser um pouco mais pacientes", afirma.
A derrota do governo na aprovação da Medida Provisória (MP) 1.303/25, que previa compensação de receitas para o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), no início de outubro, fez analistas acreditarem que o governo não deverá fazer cortes de gastos neste ano, e, para isso, seguirá perseguindo o piso da meta, que permite um rombo fiscal de até R$ 31 bilhões, em vez de perseguir o objetivo de zerar o deficit fiscal.
Não à toa, na semana passada, conseguiu aprovar no Congresso um "jabuti" (emenda não relacionada à matéria) tratando do assunto no Projeto de Lei Complementar (PLN) 1/2025, que alterou a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e tornou permanente a vigência de benefícios no Imposto de Renda.
Essa mudança na LDO não é vista com bons olhos pelo especialista em contas públicas e diretor da Instituição Fiscal Independente (IFI), Alexandre Andrade, porque não vai ajudar a mudar a trajetória ascendente da dívida pública bruta.
"O piso da meta está longe de ser suficiente para estabilizar a dívida pública em proporção do PIB, que está crescendo nos próximos anos", alerta. Em setembro, conforme dados do BC, ela subiu para 78,1% do Produto Interno Bruto (PIB) no mês passado, cada vez mais do patamar de 80% no ano ultrapassado apenas em 2020, ano da pandemia da covid-19.
Logo, a perspectiva da falta de uma política fiscal mais austera do governo exigirá do BC um discurso mais duro contra a inflação, segundo especialistas.
Eles também destacam que os dados positivos do mercado de trabalho divulgados na semana passada, como a taxa de desemprego no menor patamar da história, de 5,6% no trimestre encerrado em setembro, confirmam que a atividade econômica ainda segue aquecida, apesar dos juros elevados.
Além disso, o crescimento de 5,5% da massa salarial no mês passado acende o alerta de que a inflação de serviços continua elevada e resiliente.
Contraponto
Por outro lado o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, considera que o cenário atual está caminhando para o Copom mostrar alguma flexibilidade na política monetária a partir de janeiro de 2026, porque será preciso uma antecipação pelo cenário eleitoral, que deverá limitar o tamanho desse ajuste.
"O Banco Central tem uma janela curta de queda de juros por conta do cenário eleitoral. Então, vai precisar tomar esse cuidado no ano que vem. Quanto mais tempo o BC levar (para iniciar o ciclo de cortes), mais, em tese, essa taxa cairia durante o processo eleitoral, e isso é um elemento de percepção de risco", destaca, ainda, o economista.
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Para ele, outro motivo que justificaria essa antecipação é o fato de que, no fim deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderá indicar mais dois diretores da autoridade monetária. "O BC precisará evitar que a nova diretoria composta somente por indicados de Lula tome uma decisão de queda de juros em cima do processo eleitoral", explica Vale.
Na mesma linha, a economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria, acredita que o BC deverá começar o ciclo de corte em janeiro. Para ela, no comunicado do próximo Copom, o tom duro será mantido. "Isso tem sido importante para a redução das expectativas de inflação, inclusive, para prazos mais longos", ressalta.

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