DF

Aglomerações nas festas de fim ano começam a impactar nos números da covid-19 no DF

Impactos de festas de fim de ano são vistos nas estatísticas da covid-19 no DF. Enquanto casos crescem, especialistas projetam o peso da importância da vacinação imediata. "Uma morte por minuto de espera", calculam pesquisadores

Alan Rios
Cibele Moreira
postado em 07/01/2021 06:00
 (crédito: Material cedido ao Correio)
(crédito: Material cedido ao Correio)

Com a expectativa de vacinação contra a covid-19, a população vibra por um ano com mais motivos para comemorar. No entanto, especialistas e médicos alertam que a pandemia não acabou e os cuidados devem ser redobrados neste período de férias. O epidemiologista e professor da Universidade de Brasília (UnB) Walter Ramalho afirma que a segunda quinzena de janeiro deve ser marcada com a alta de casos, resultado das comemorações de final de ano e viagens. “Nossa maior preocupação são com as aglomerações, principalmente, em festas clandestinas, que temos visto ocorrer”, afirma Walter. Para ele, a população relaxou nos últimos meses com as medidas de proteção e com a chegada da vacina. “É um movimento muito preocupante, nós só podemos ter uma vida ‘normal’ quando todos estiverem vacinados. Não podemos baixar a guarda. Não temos a vacina, temos uma promessa de vacina para um grupo considerado de risco”, ressalta.

Pesquisadores de diferentes instituições do país, incluindo Tarcísio M. Rocha Filho e Walter Ramalho, da UnB, estimou o impacto da demora da aplicação de um imunizante contra a covid-19 no Brasil. “Nos perguntamos quanto custa, em vidas, atrasar o início da vacinação, e estabelecemos cenários a partir dessa dúvida. Utilizando como base a suposição de que as doses fossem aplicadas em 1º de janeiro e levando em conta a situação da taxa de crescimento que tivemos no fim de dezembro, chegamos ao número de 10 mil brasileiros a mais morrendo — no cálculo final da pandemia — a cada semana de atraso de vacinações. Isso significa uma morte por minuto de espera, dentro dessas projeções”, explica Tarcísio Rocha, físico do Núcleo de Altos Estudos Estratégicos para o Desenvolvimento da UnB.

Enquanto não começam as aplicações, quem trabalha nos hospitais da capital lidando diretamente com a pandemia percebe a resposta das confraternizações de dezembro. “É necessário entender que toda medida tomada, seja a exposição às aglomerações ou o fechamento de atividades, tem resultados depois de uns 14 dias. Hoje, os números de contaminados estão aumentando, e os reflexos das festas de fim de ano estão se fazendo presentes, algo que, bem provavelmente, vai piorar”, lamenta Hemerson Luz, infectologista do Hospital das Forças Armadas (HFA). No Natal, por exemplo, a Secretaria de Saúde contabilizou 329 novas infecções em relação ao boletim anterior, do dia 24. Ontem, foram 962 novos casos em relação aos dois últimos boletins.

Ao todo, o mês de dezembro apresentou um aumento de 41,85% no número de infectados em comparação a novembro, no Distrito Federal. Foram identificadas 22.555 pessoas com a covid-19 contra 15.901 infectados no penúltimo mês de 2020. Nas duas últimas semanas de 2020, o Plano Piloto registrou 1.219 notificações, a maior alta entre as regiões administrativas. Para janeiro, o índice deve subir mais. Hemerson vê, na prática, os motivos dessas estatísticas. “Um grande número de pacientes meus dizem que estavam em reuniões de família, e uma das pessoas que também estava lá adoeceu. Ou seja, esse é o momento de seguir ao máximo todos os protocolos de distanciamento e segurança, para evitar a circulação desse vírus que está presente. Ainda temos muitas pessoas suscetíveis à contaminação”, alerta.

O especialista avalia que a segunda onda tem mostrado um número de internações um pouco menor de pacientes que procuram atendimento, mas lembra que pode haver pressão no sistema de saúde se cada vez mais pessoas precisarem de unidades básicas e hospitais. Nesse contexto, outra preocupação é a capacidade de atendimento adequado aos casos graves. “A taxa de ocupação de unidades de terapia intensivas (UTIs) tem aumentado a cada dia. Quando esse índice está acima de 70%, percebemos que se aumenta a letalidade da doença”, ressalta Hemerson.

Ocupação e reuniões

O índice de ocupação dos leitos de UTI públicos e de hospitais conveniados bateu 85,21%, na tarde de ontem, de acordo com dados da Sala de Situação disponibilizados pela Secretaria de Saúde. Com a aproximação de um novo pico de casos da covid-19 e com a capacidade de pacientes em unidade de terapia intensiva alta, representantes do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) se reuniram com integrantes da secretaria para debater as estratégias de combate ao vírus neste ano. Entre os tópicos discutidos, a pasta apresentou o plano de reativação dos leitos de UTI em 14 unidades de saúde da capital. Ao todo, serão disponibilizados 382 leitos para pacientes com o novo coronavírus.

Atualmente, a rede oferta 172 leitos de UTI para tratamento da covid-19, 25 estão vagos. O plano de mobilização prevê o atendimento exclusivo para pacientes com a doença na UTI do Hospital Regional de Samambaia (HRSam). A unidade terá 27 leitos para a covid-19. Vinte foram disponibilizados nesta primeira fase de reativação. Tais medidas vão ocorrer paliativamente para o controle da doença, enquanto a vacinação não chega para todos.

Logística

Diferentes órgãos do Governo do Distrito Federal (GDF) se movimentam para ações de logística e planejamento para o começo da imunização da população. A Secretaria de Saúde encaminhou à Secretaria de Segurança Pública (SSP) um ofício pedindo apoio das forças de segurança da capital na escolta das vacinas contra a covid-19 que chegarem a Brasília. De acordo com a Saúde, a solicitação está prevista no Plano Estratégico e Operacional, para garantir a segurança das doses, dos trabalhadores e dos usuários. O secretário da Saúde, Osnei Okumoto, assinou o pedido ressaltando que o Núcleo de Rede de Frio, responsável pelo recebimento, armazenamento e distribuição dos imunizantes, por vezes chega a ter R$ 10 milhões fármacos e insumos, sem considerar a vacina contra o covid-19, mas “conta apenas com um vigilante patrimonial desarmado por turno, que faz a segurança de todo o prédio e dos bens que nele se encontram”.

O apoio das forças da SSP tem como objetivo evitar qualquer “situação mais grave que possa vir a ocorrer por meio de um assalto, ou talvez de algum usuário mais exaltado”, como detalha o documento. Na manhã de ontem, em cerimônia no Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib), Osnei Okumoto rebateu preocupações quanto ao estoque de seringas da capital. “Temos uma ata de registro de preços em andamento. Até 10 de janeiro, devemos ter 3 milhões de seringas no DF. Fizemos o empenho e solicitamos as que estamos com a ata para disponibilizarmos ao setor de imunização na atenção primária”, disse o secretário.

Mais leitos de UTI

Com o intuito de atender toda a demanda de pacientes graves com o novo coronavírus e preparar as unidades de saúde para a segunda onda de infecção, a Secretaria de Saúde divulgou um plano de reativação de leitos em unidades de terapia intensiva. A disponibilização de mais leitos será feita em fases, de acordo com a demanda. Em um primeiro momento, serão 151 vagas para casos graves da doença. Ao todo, a pasta vai ofertar 382 leitos de UTI para covid-19. Serão ativados também leitos com suporte de ventilação mecânica e de enfermaria.

O Hospital de Campanha de Ceilândia receberá pacientes com o novo coronavírus. A Secretaria de Saúde informou ao Correio que a unidade ganhou os equipamentos que estavam no Hospital de Campanha do Mané Garrincha, e, atualmente, a unidade de Ceilândia se encontra na fase de contratação de recursos humanos. A expectativa é que até o final deste mês, a instalação esteja apta a atender a população.

Para reforçar o atendimento aos casos graves, o pronto-socorro da clínica médica do Hospital Regional de Samambaia (HRSam) será exclusivo para pacientes com covid-19. A mudança, no entanto, não interfere nos serviços de emergência obstétrica e de cirurgia geral. De acordo com o último boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Saúde ontem, Samambaia contabiliza 15.234 casos notificados da doença em moradores da região, sendo que 335 perderam a vida por complicações do vírus.

O Hospital Regional do Guará será o único a não internar pacientes com o novo coronavírus. O local manterá um espaço covid, na emergência, para atendimento inicial e, depois, vai direcionar os pacientes diagnosticados para outras unidades. O Hospital de Base ficará voltado para casos de alta complexidade da covid-19. Todas as unidades de pronto atendimento (UPA) deverão manter uma ala pequena para fazer o primeiro acolhimento de pessoas com sintomas do novo coronavírus.

Na avaliação do epidemiologista Walter Ramalho, a equipe de profissionais da saúde está mais preparados para atender a demanda de pacientes com o vírus. “Temos médicos e enfermeiros mais experientes, que já estão habituados a lidar com a complexibilidade da doença. Com isso, a taxa de letalidade deve cair. Pacientes mais graves, vão receber um tratamento precoce e mais assertivo”, avalia Walter. Ele ressalta que, apesar de todo o preparo para tratar o vírus, a melhor forma de combater a contaminação são as medidas de higiene pessoal, o uso de máscara e distanciamento social.

» Colaborou Samara Schwingel

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