José Carlos Vieira
postado em 01/02/2012 12:50
O imponente pinheiro que ilustra a parte inferior desta página poderia fazer parte da paisagem de qualquer cidade do Paraná, de Santa Catarina ou do Rio Grande do Sul. Mas esse pinus ; de cerca de 12m de altura ; reina há 30 anos na Praça Epitácio Pessoa, na pequena Bananeiras, cidade incrustada nas serras do maciço da Borborema, na Paraíba. Com temperatura média anual de 20;C (os termômetros já registraram 15;C no inverno), a região vem ganhando ares e gostos europeus, além da crescente curiosidade dos turistas que agendam férias para o litoral paraibano e acabam migrando rumo àquela cidade em busca de um descanso ameno e sem ar-condicionado a todo vapor.Na cidade, localizada a 130km de João Pessoa e a 147km de Natal, o boom turístico começou na última década. Poder público, moradores e empresários perceberam que a vocação de Bananeiras e vizinhança (depois de terem vivido o auge econômico nos ciclos do café e da cana de açúcar) era o turismo. Investiram pesado na garimpagem das atrações naturais e arquitetônicas da região ; o Brejo, como é conhecida ;, acariciada todos os dias pela umidade dos ventos que vêm do Oceano Atlântico (a cordilheira é um grande muro que faz o sertão ficar privado de correntes de ar marítimas mais generosas). Esse investimento começou a dar resultados, como a recente inauguração (em março de 2011) de um campo de golfe de alta qualidade, padrão escocês, com nove buracos e 110 mil metros quadrados.
É nessa região do Brejo, a qual compreende pelo menos 10 municípios, que a Paraíba guarda um tesouro, uma tradição revelada antigamente a poucos iniciados: os Caminhos dos Engenhos, rota que começa a ser explorada pelos viajantes apreciadores do ritmo bucólico de vida, de casarões seculares da aristocracia da época e da boa aguardente. Para apresentar esse roteiro, é necessário o alerta: aprecie com moderação. Dito isso, vamos ao que interessa.
O primeiro engenho a ser visitado fica a poucos quilômetros de Bananeiras. É de lá que sai para o Brasil a clássica Rainha, uma aguardente para cabra macho, com teor alcoólico de 50%, um dos mais elevados do país (as demais oscilam entre 40% e 42%), mas de pureza e sabor irrepreensíveis. É produzida, desde 1877, próximo à reserva ecológica (de Mata Atlântica) de Goiamunduba.
Além de degustar doses generosas de Rainha, sempre com uma fruta da região como tira-gosto, o visitante pode apreciar as histórias de Josefa Teresinha da Silva ; mais conhecida como dona Teresinha ;, vizinha do engenho e cheia de causos, como a lenda do Sou Eu, uma entidade que habita as matas da região pregando peças e assustando os moradores.
;; A história do Sou Eu
Que é de arrepiar
Que faz cavalo dar coice
Da ferradura avoar
E fugir correndo depois
Para nunca mais voltar;
;. Esta história de espírito de lenda e de assombração que existe aqui no brejo e em qualquer região deixa o matuto com medo com aperto no coração;;
É o que conta dona Teresinha, de 78 anos, com olhar compenetrado e voz soturna, toda vez que mira a mata que cerca as pequenas casas feitas de adobe. Elas têm ao fundo os canaviais que, no meio do segundo semestre, começam a ser cortados para a produção de cachaça.
Saindo do Engenho Goiamunduba, o visitante tem outro encontro com o passado: é em Serraria, onde se produz a cachaça Cobiçada, feita com cana de açúcar selecionada e de maneira quase artesanal. O casario colonial do Engenho Martiniano data de 1872, e compreende, entre outros prédios, capela, casa de empregados e uma mansão bem cuidada, que guarda relíquias de várias gerações.
O engenho tem uma área de 318 hectares, onde os restos mortais de seus fundadores (Francisco Duarte e sua esposa, Josefa Duarte) estão enterrados na pequena capela da propriedade. A produção é vendida basicamente para os estados do Nordeste. Da colheita da cana ao engarrafamento, tudo é feito de maneira clássica, com cuidados e segredos que passam de pai para filho.
Entre tantas tentações etílicas, o viajante dos Caminhos dos Engenhos não pode deixar de visitar o alambique que produz a aguardente Volúpia, uma das mais premiadas da região. Ela desbancou as cachaças da Região Sudeste, chegando a ocupar o primeiro no ranking da revista Veja e ficar duas vezes entre as melhores da Playboy.
Com plantação orgânica e seleção manual das canas (as murchas e com fungos são descartadas), a Volúpia seduz os apreciadores da bebida tipicamente brasileira, que podem também saborear a boa culinária paraibana no restaurante Banguê, instalado no próprio Engenho Lagoa Verde, em Alagoa Grande, terra de ;São; Jackson do Pandeiro. A visita ao memorial do cantor é parada obrigatória entre um gole e outro.
Frio, boa comida e aguardente de primeira, paisagens inesquecíveis. Tudo isso com muita poesia, como a do paraibano Jessier Quirino:
Um forró de pé de serra fogueira milho e balão um tum-tum-tum de pilão um cabritinho que berra uma manteiga da terra zoada no mêi da feira facada na gafieira matuto respeitador padre, prefeito e doutor
os home mais entendido isso é cagado e cuspido paisagem de interior.
O repórter viajou a convite da PBTur
Atrativo a mais
Esse é o oitavo campo de golfe do Nordeste e está apto a sediar competições regionais. De acordo com o executivo responsável pela área, Sebastião Neres, o Golfe Clube pretende oferecer clínicas para iniciantes e desenvolver projetos destinados a golfistas semiprofissionais. O investimento no campo foi de cerca de R$ 4 milhões e os competidores e turistas terão como opção de hospedagem o Serra Golfe Apart Hotel, em Bananeiras, que conta com 55 apartamentos de alto padrão.