postado em 22/06/2012 07:27
Um inquérito policial militar do Conselho de Segurança Nacional (CSN) de 1969 detalha as ações de roubo a bancos do Comando de Libertação Nacional (Colina) em Minas Gerais e ;enquadra; a então revolucionária Dilma Rousseff como integrante da organização por ter cedido a casa para encontros do grupo e coordenar ações de doutrina ideológica nas escolas. O documento que se tornou público esta semana está sob a guarda do Arquivo Nacional. O inquérito lista o nome dos 16 integrantes da Colina que tinham participação direta nos assaltos e foram presos à época da ditadura, relação da qual Dilma não faz parte. Os demais participantes do Colina em Minas Gerais também são listados no denominado ;enquadramento;, e no perfil revolucionário de Dilma traçado pelo CSN ela é descrita como agente de suporte intelectual da organização.
O documento do CSN de monitoramento das ações de roubo a bancos em Minas Gerais confirma as declarações da presidente Dilma Rousseff, que sempre negou ter participado de ações efetivas de grupo armado. ;Não tive nenhuma ação armada. Se tivesse, não receberia condenação de dois anos. Cumpri três anos de cadeia, mas fui condenada a dois;, disse em abril de 2010, logo após deixar a Casa Civil para disputar a Presidência, negando em uma entrevista em Porto Alegre que tenha pego em armas.
[SAIBAMAIS] Os ;delitos; de Dilma listados pelo inquérito policial militar são: pertencer à ;organização clandestina e revolucionária de cunho marxista-leninista;; fazer parte da célula política da organização na Faculdade de Medicina; integrar o setor estudantil da organização, ;encarregada de coordenar as ações nas escolas;; realizar reuniões de ;caráter subversivo em seu apartamento;; participar de congresso da organização em Contagem (MG); convidar dois integrantes (Ageu Henriger Lisboa e Marcos Antonio de Azevedo Meyer) para entrar na organização; receber contribuições mensais para a organização; e utilizar ;sua residência; para realizar reuniões da organização. No mesmo documento, outro integrante do Colina ; Irani Campos ; tem os delitos de roubo de um carro da Secretaria de Fazenda do Estado e assalto à mão armada de um banco na Avenida Pedro II descritos em seu ;enquadramento.;
O inquérito lista assaltos cometidos pelo comando em Belo Horizonte, Sabará, Ibirité e Uberaba. Além do trabalho de acompanhamento que os militares fizeram, identificando carros utilizados pela organização e o modus operandi dos assaltos, o depoimento de Afonso Celso Lana Leite, o Ciro, tomado em 21 de fevereiro de 1969 descreve as ações do Colina.
Os carros utilizados nos assaltos eram roubados e trocados com frequência, para não chamar a atenção da polícia. À época, os integrantes da organização diretamente mobilizados para os roubos monitoravam as cidades, optando por instituições que tivessem grande circulação de dinheiro e esquema de segurança de menor porte. O município de Sabará, que atualmente integra a Região Metropolitana de Belo Horizonte, era um dos alvos favoritos. Nos relatos, os militares identificaram que a má conservação das estradas desmotivou o grupo, que passou a mirar em alvo maior: bancos em Uberaba. Os 16 presos do Colina por assalto a bancos em Minas Gerais tinham entre 21 e 24 anos. As armas utilizadas eram revólver calibre .38 e bombas coquetel molotov.
Na organização revolucionária, os destacados para fazer roubos dos carros utilizados para assaltar os bancos pertenciam ao chamado ;setor de expropriação;. Em um dos maiores roubos relatados, a organização levou 100 mil cruzeiros de um banco, o equivalente hoje a R$ 147 mil. Com o dinheiro dos roubos, o Colina comprava armas e aumentava o número de ;aparelhos;, alugando casas e sítios, para não manter o mesmo endereço, despistando os militares.
Gráfica
A abertura dos documentos do período militar também trouxe a público relatórios das superintendências da Polícia Federal em Minas Gerais e no Paraná, que abrigam informações sobre a atuação de Dilma no Colina. Em ficha do Departamento de Vigilância Social da Secretaria de Segurança Pública de Minas Gerais, uma foto original de Dilma está anexada a despacho do juiz Mauro Seixas Telles em que informa que ela está presa ;para ser interrogada no processo que responde; em Juiz de Fora. O documento é de 3 de julho de 1972.
Dez anos depois, Dilma ainda era monitorada pelos militares. A polícia do Paraná elaborou relatório sobre a atuação política da militante e de Carlos Franklin Paixão de Araújo, com quem foi casada. Os militares descobriram que Dilma registrou em seu nome a gráfica do marido, a ;Impremato;, usada para imprimir panfletos políticos. ;Carlos Franklin é sócio da referida gráfica, embora no registro da mesma não conste o seu nome, e sim o de sua concubina Dilma Vana Rousseff Linhares, ex-militante da Var-Palmares e ex-mulher de Galeno;, traz o documento de agosto de 1982.
Governo não vai reabrir o caso Herzog
O governo brasileiro reafirmou que não irá reabrir o processo criminal para apurar os responsáveis pela morte do jornalista Vladimir Herzog, em 1975. A resposta foi dada à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), que notificou o Brasil com uma denúncia apresentada pelos familiares do jornalista e pelas organizações Centro pela Justiça e o Direito Internacional (CEJIL); Fundação Interamericana de Defesa dos Direitos Humanos (FIDDH); Grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo; Centro Santo Dias de Direitos Humanos da Arquidiocese de São Paulo. De acordo com o governo federal, o Supremo Tribunal Federal decidiu manter, recentemente, a validade da Lei da Anistia. Com isso, o país fica impedido de abrir o processo criminal. Para a família, o Estado deveria investigar, processar e sancionar os responsáveis pelo assassinato de Herzog. ;No caso do meu pai, queremos um pedido oficial de desculpas e o reconhecimento, em novo atestado de óbito, de que ele não se suicidou;, afirmou o engenheiro Ivo Herzog.