postado em 13/05/2011 08:12
No dia em que a ministra da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Bairros, apresentou, em São Paulo, a campanha nacional contra o racismo Igualdade Racial é Pra Valer, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou dados preocupantes no levantamento Dinâmica Demográfica da População Negra Brasileira. Segundo o estudo, os afrodescendentes homens morrem mais de causas violentas do que os brancos. Quase 10% dos homens negros mortos anualmente têm idades entre 15 e 29 anos, número que não chega a 4% entre os jovens brancos na mesma faixa etária.Causas externas, como homicídios, acidentes de trânsito, afogamentos, suicídios e quedas ficaram em segundo lugar na lista dos principais motivos de mortes entre a população negra, e representam 24,3% do total, ficando atrás apenas das doenças cardiovasculares. Entre os brancos, as causas externas (14,1%) aparecem em terceiro lugar nas principais formas de óbito, atrás de enfermidades do aparelho circulatório (28%) e neoplasias (17,3%).
Ao analisar separadamente as causas externas, os números do Ipea apontaram as agressões como o motivo que mais matou negros no país (50%), seguida por acidente de trânsito (24%). A análise dos óbitos de homens brancos pela mesma causa mostra uma realidade inversa: acidentes de trânsito (35,3%) matam mais do que agressões (31%).
Para o secretário executivo da Secretaria de Promoção à Igualdade Social, Mário Lisboa Theodoro, que participou do lançamento do estudo, a quantidade mais elevada de homicídios entre negros se explica pela maior exposição à violência, derivada do preconceito e da discriminação.
;O Brasil ainda vive com racismo. São estatísticas com dimensões de um quase extermínio.; Para Theodoro, os números do Ipea revelam o desafio do governo em desenvolver políticas públicas mais eficientes. ;Se a população negra aumentar e esse tratamento destinado a ela for mantido, teremos ainda maior desigualdade. O estado terá que focar cada vez mais nessas pessoas para evitar um abismo social;, avaliou.
Tragédia
Alberto Júnior José Martins integra as estatísticas e fortalece a tese de vulnerabilidade da população negra. O atraso ao voltar para casa após buscar a irmã no colégio foi o estopim para agressões sofridas por ele e pela família. O jovem, que nunca acreditou nas ameaças de morte desferidas pelo pai, embora fosse vítima de agressões verbais e físicas, assim como a mãe e os irmãos, acabou sendo vítima da fúria do próprio progenitor. E foi morto aos 24 anos.
Passados dois meses desde a morte do filho, Elízia Martins, 49 anos, ainda não sabe explicar os motivos da tragédia. ;Ele (o marido) sempre nos ameaçava, mas pensávamos que era só para nos fazer medo, para impor respeito.; Alberto, atingido com um golpe de faca de cozinha no abdômen, não resistiu aos ferimentos e morreu no colo da irmã, que acompanhou tudo. ;Às vezes, fico pensando que poderia ter evitado. Falei com o pai dele por telefone antes e ele já estava muito alterado. Não devia ter deixado meu filho entrar lá sozinho;, desabafou Elízia.