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Theresa May busca mais poder de barganha para negociar o Brexit

Ao antecipar as eleições legislativas de 2020 para a próxima quinta-feira, a premiê Theresa May busca mais poder de barganha para negociar o Brexit. Em queda nas pesquisas, ela pode perder a maioria no Parlamento e se enfraquecer

Rodrigo Craveiro
postado em 04/06/2017 09:35
Ao antecipar as eleições legislativas de 2020 para a próxima quinta-feira, a premiê Theresa May busca mais poder de barganha para negociar o Brexit. Em queda nas pesquisas, ela pode perder a maioria no Parlamento e se enfraquecer
Na próxima quinta-feira, 45 milhões de britânicos terão o direito de ir às urnas para participar das eleições legislativas, convocadas pela primeira-ministra Theresa May com três anos de antecedência. A líder conservadora esperava utilizar os votos para preservar a maioria no Parlamento e se fortalecer no governo, galvanizando mais poder nas difíceis negociações sobre o processo de saída do Reino Unido da União Europeia (UE). ;O Brexit é uma oportunidade para moldarmos um futuro melhor e mais brilhante para o Reino Unido. Apoiem-me e trabalharei todos os dias para torná-lo um sucesso;, escreveu a premiê, no Twitter. O apelo soou como um pedido de socorro: os trabalhistas, encabeçados pelo esquerdista Jeremy Corbyn, ganharam fôlego nas pesquisas e reduziram a desvantagem de 20 pontos percentuais para apenas 3 pontos (veja arte). As sondagens apontam 42% das intenções de votos para os conservadores, 39% para os trabalhistas e 4% para o eurocético Partido pela Independência do Reino Unido (Ukip).

;Tive a coragem de fazer isso;, reconheceu May, em alusão à antecipação das eleições. A primeira-ministra pode ter dado um tiro no pé. São cada vez mais remotas as chances de ela manter o domínio sobre a Casa dos Comuns e a Câmara dos Londres. Em sua jogada de alto risco, ela sairia das urnas enfraquecida e com pouca credibilidade para dialogar com Bruxelas. Professor de inteligência e segurança internacional da Universidade de Leicester, a 167km de Londres, Rob Dover alerta que, caso May perca a maioria no Parlamento ou não obtenha ampla margem, estará em grande apuro. ;A ala mais à direita do partido a forçará a avançar com o Brexit sem fechar o acordo. Ela ficará refém dessa ala;, explicou ao Correio.

De acordo com Dover, a premiê deseja liberdade de negociação com a UE, sem interferência dos ;mais conservadores entre os conservadores; no Parlamento. ;May queria que os efeitos negativos do Brexit fossem sentidos por vários, antes das próximas eleições. Em 2020, teremos o choque econômico do Brexit, e May pode enfrentar um grande problema eleitoral;, observa. ;Eu posso ver por que May aceitou correr o risco: a oposição estava um caos e as pesquisas lhe davam 20 pontos de vantagem sobre Corbyn. A primeira-ministra está cometendo o último pecado de um político, ao se submeter a um referendo popular.;

Debates
Enquanto os conservadores pretendem que a votação seja sobre o Brexit, os trabalhistas querem colocar o foco em temas econômicos e sociais. A postura da premiê não tem sido útil para reverter a queda nas pesquisas: ela se recusou a participar de debates. ;Theresa May tem evitado um debate por saber que seu histórico de fracasso e de injustiça é indefensável;, alfinetou Corbyn, no Twitter. O político de 68 anos lançou um manifesto com propostas polêmicas, como o aumento de impostos e a estatização dos correios, das companhias energéticas e do sistema ferroviário. Dover reconhece que o programa trabalhista é ;radical;, mas admite que a renacionalização da malha ferroviária é popular, mesmo entre os direitistas do sul.

;É altamente improvável que os trabalhistas formem o próximo governo, mesmo com a reversão nas pesquisas;, aposta. O especialista de Leicester crê que, caso os jovens saiam às urnas em massa, os trabalhistas terão chance maior de sucesso. ;O partido de Corbyn foi o único a fazer um apelo a essa parcela do eleitorado, ao prometer educação superior gratuita.;

Professor do King;s College London e diretor do Departamento de História e Política, Andrew Blick sustenta que May tenta evitar uma resistência ao Brexit dentro de seu próprio partido. ;Isso traria entraves às negociações. Para justificar a vitória, ela precisa de maioria esmagadora, um resultado posto em xeque no momento. May pode concluir que ganhará o pleito, mas que não terá valido a pena realizar as eleições;, afirma à reportagem.

PONTO DE VISTA
Por Rob Dover

Queda sem recedentes
;O ataque em Manchester não é a origem da atual queda da primeira-ministra Theresa May nas pesquisas. Um declínio sem precedentes: ela liderava com 20% dos votos e hoje está à frente com entre 3% e 9%. A lei e a ordem ; principalmente quando há um ataque terrorista ou temas de imigração ; geralmente desempenham um bom papel para o Partido Conservador, já que seus políticos são vistos como mais contundentes em relação ao crime e às fontes de criminalidade. Mas essa tendência normal não tem sido refletida nas pesquisas de opinião desde 22 de maio. Isso se deve ao fato de o Partido Conservador ter se focado em May como um governo ;forte e estável;. No entanto, ela retrocedeu em iniciativas políticas cruciais, fortalecendo a noção de que May é fraca e instável.;
Professor de inteligência e de segurança internacional da Universidade de Leicester

Por Andrew Blick

Um tema secundário
;Não acho que o atentado de Manchester fará diferença substancial no resultado das eleições. Durante a campanha pelo referendo sobre a saída do Reino Unido da União Europeia, um parlamentar foi assassinado. Especulou-se que o crime pudesse ajudar a campanha pela permanência no bloco, mas o voto pela saída venceu. O terrorismo é um tema importante na política, mas não está definida a extensão que o ataque recente pode determinar sobre as eleições. Não se pode descartar que o terorrismo se torne um assunto ainda mais significativo durante as próximas campanhas eleitorais britânicas.;
Diretor de História e Política do King;s College London

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