postado em 09/11/2016 06:00
Nova York ; O 45; presidente dos Estados Unidos foi escolhido em uma disputa marcada por vaivéns e guinadas desde o início, ainda em meados do ano passado, e que terminou em uma madrugada de angustiante montanha russa para os mais de 200 milhões de eleitores norte-americanos ; em especial para os militantes concentrados nas sedes montadas pelas campanhas de Hillary Clinton e Donald Trump para acompanhar a apuração dos votos, ambas em Nova York. Era mais de 1h30 de hoje na Costa Leste (3h30 em Brasília) e, embora faltassem projeções para os últimos estados em disputa, o controverso bilionário desmentiu, uma vez mais, os adversários: os principais jornais do país (e do mundo), analistas e cientistas políticos; o presidente Barack Obama, que o declarou repetidamente ;desqualificado; para ocupar a Casa Branca; em resumo, todo o establishment de Washington, incluindo os cardeais do Partido Republicano.
Hillary e os democratas ainda se agarravam às últimas esperanças na apertada disputa por Michigan e Wisconsin, dois dos estados que ajudaram Obama a vencer as duas últimas eleições. Em ambos, as pesquisas de opinião apontaram a democrata na dianteira durante toda a campanha, mas até os últimos votos a vantagem seguia com o republicano. A virada do magnata, que desafiou as elites políticas por um ano e meio, arrancou o grito de ;Trump presidente!” no hotel Hilton Midtown, em Nova York, o palco escolhido para a festa. Também na Big Apple, no Javits Center, estrategista, dirigentes e militantes democratas contemplavam, incrédulos, uma derrota que parecia impensável até poucas horas antes.
O magnata já tinha virado o jogo a seu favor na Carolina do Norte, mas começou a sentir o gosto do triunfo pouco depois da meia-noite, quando as tevês projetaram para ele os 29 votos da Flórida no Colégio Eleitoral. A partir desses resultados, a matemática da eleição indireta começou a se definir: praticamente, não restavam a Hillary caminhos para conseguir os 270 delegados necessários para selar a maoiria e chegar à Casa Branca.
Desde que as primeiras urnas foram fechadas, às 19h na Costa Leste (21h em Brasília), momentos de euforia e apreensão se sucederam no Javits Center, o centro de convenções escolhido pelo Partido Democrata. Nas primeiras duas horas de parciais, a rápida consolidação dos números na Flórida parecia antecipar uma noite triunfal, e os aplausos se sucediam a cada novo boletim. Do lado republicano, o hotel Hilton Midtown refletia a apreensão com o cenário: público menor e assessores com expressões carregadas, como a chefe de campanha, Kellyanne Conway. Ao jornal The New York Times, um estrategista admitia que só ;um milagre; daria a vitória ao magnata.
Os ânimos começaram a mudar por volta das 21h, quando o avanço da contagem em vários dos ;campos de batalha; ; como Carolina do Norte e Michigan, mas sobretudo a Flórida ; mostrava o magnata com desempenho acima do esperado com base nas últimas pesquisas de opinião. Duas horas mais tarde, a projeção de vitória republicana em Ohio, com 18 delegados no Colégio Eleitoral, levantou a torcida no Hilton. Em seguida, foi a vez de o Javits Center se recobrar do golpe: Hillary foi declarada vencedora na Virgínia, que lhe rendeu 13 votos no Colégio.
No tenso cenário montado para a ex-secretária de Estado, oradores se sucediam no palco repisando os ataques trocados ao longo de toda a campanha. ;O voto latino é um gigante adormecido que acordou;, disse a porto-riquenha Melissa Mark Viverito, integrante do Conselho Eleitoral de NY. Animada com a perspectiva de ver uma mulher eleita para a Casa Branca, ela tinha uma mensagem para Trump: ;Ele disse tantas coisas ruins sobre nós, mas agora vamos derrotá-lo;, acreditava. O prefeito de NY,Bill de Blasio, procurava infundir confiança aos correligionários: ;Nesta noite, vamos fazer história;.
Em meio aos altos e baixos, a cantora Katy Perry, uma das estrelas da campanha de Hillary na reta de chegada, antecipou sua aparição para a plateia ansiosa. Escalada para fazer o show de encerramento programado para um festa de vitória, ela tomou o microfone para convocar os eleitores democratas no oeste do país, onde a votação prosseguia. ;Se no seu estado as urnas ainda estão abertas, você deve ir votar por Hillary;, disparou a musa pop. Contou que ela própria tinha saído de casa pela democrata, enquanto os pais tinham votado em Trump. ;Mas vamos nos sentar à mesa juntos no Dia de Ação de Graças;, emendou, em um apelo à reconciliação do país ao fim de uma campanha corrosiva, que expôs as divisões da sociedade americana ; por raça, gênero e grau de instrução.
;Trump presidente!”
Coro dos militantes republicanos no Hilton Midtown de Nova York
Sem o voto de George W. Bush
Nem Hillary Clinton, nem Donald Trump. O ex-presidente George W. Bush optou pelo protesto e ontem, na cédula eleitoral, marcou ;nenhuma das opções acima;, segundo o seu assessor pessoal, Freddy Ford. Bush havia dito que pretendia se abster do pleito quando o seu irmão mais novo, Jeb Bush, ex-governador da Flórida, foi derrotado nas primárias do Partido Republicano para as eleições deste ano. A mulher dele também se absteve no pleito. A família não teve peso significativo na disputa pela Casa Branca, mas o ex-presidente George H.W. Bush, o Bush pai, teria dito a amigos, em caráter privado, que votaria na candidata democrata.