O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, parece determinado a levar até as últimas consequências a purga após a tentativa de golpe. Depois de prender 6 mil militares, demitir 9 mil policiais e suspender 3 mil juízes, o governo anunciou a renúncia de 1.577 decanos de universidades, o afastamento temporário de 15.200 funcionários do Ministério da Educação e a revogação da licença de 21 mil professores de escolas particulares. ;Nosso ministério está realizando esforços extensivos, dirigidos aos funcionários públicos nos distritos centrais e rurais que tenham conexões com Fet;.
A partir de hoje, 15.200 servidores públicos foram suspensos, e investigações foram lançadas sobre eles;, declarou o ministério, por meio de comunicado publicado nas redes sociais. Em quatro dias, mais de 50 mil pessoas foram alvos de punições. O vice-premiê Numas Kurtulmus confirmou que 9.322 militares, magistrados e policiais são alvos de procedimentos judiciais.
;Vamos bani-los de tal forma que (;) nenhum outro traidor, nenhuma organização terrorista clandestina ou grupo terrorista separatista terá a audácia de trair a Turquia;, declarou o primeiro-ministro, Binali Yildirim, em alusão ao Movimento Hizmet, do opositor exilado Fethullah Gulen (leia a entrevista). Mais cedo, em pronunciamento no parlamento, Yildirim tinha descartado um ;espírito de vingança;. ;Uma coisa assim é absolutamente inaceitável no Estado de direito. (;) Esta nação tira sua força do povo, não dos tanques;, frisou. Kurtulmus chegou a afirmar que não existe diferença entre os gulenistas integrantes das Forças Armadas ; como chama os golpistas ; e os jihadistas do Estado Islâmico. ;Mas não atuaremos como este grupo. Faremos tudo dentro dos limites da lei;, prometeu.
Apoio
O presidente norte-americano, Barack Obama, falou ontem com Erdogan por telefone e ofereceu ajuda nas investigações. Ancara garante ter repassado a Washington evidências sobre o envolvimento de Gulen no movimento golpista. Durante a conversa, Obama defendeu que a apuração dos fatos contemple métodos que ;fortaleçam a confiança do povo nas instituições democráticas e preservem o Estado de direito;.
Em entrevista ao Correio, Mustafa Goktepe, presidente da organização não governamental Centro Cultural Brasil-Turquia (CCBT) ; inspirada no Movimento Hizmet ; vê as recentes decisões de Erdogan como uma ;perseguição que podemos chamar de Holocausto;. ;É uma ação generalizada, que começou muito antes. Tudo indica que havia um fichamento há tempos. É impossível listar mais de 50 mil pessoas em dois ou três dias;, disse.
De acordo com o jornal Hurriyet, Erdogan se reunirá hoje com o gabinete e com o Conselho de Segurança Nacional, antes de divulgar uma ;importante decisão;. Rumores se espalharam pelas redes sociais dando conta de que o líder turco deve anunciar a realização de referendo sobre a chamada ;presidência executiva; e sobre a restauração da pena de morte.
;Eu acho que o golpe ainda não acabou. Ninguém sabe o que Erdogan quer, mas ele está com medo;, afirmou ao Correio um engenheiro de 33 anos, morador de Istambul, sob condição de anonimato. ;Não direi meu nome, porque Erdogan é como Hitler. Alguém poderia me matar. Eu apenas quero viver livre, como todas as pessoas. Quando Erdogan partir, isso será possível;, acrescentou. Também ontem, as autoridades removeram as concessões das redes de televisão e de rádio aliadas a Gulen.
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