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Após ataque químico, Síria sofre aumento no nascimento de bebês natimortos

Quase nove meses depois do ataque químico contra Ghouta, subúrbio de Damasco, hospitais da Síria registram incidência elevada de nascimento de bebês natimortos e com graves malformações congênitas

Rodrigo Craveiro
postado em 16/05/2014 06:00
Morador de Ghouta chora sobre corpo de criança, após ataque químico que teria deixado ao menos 1,4 mil mortos, em 21 de agosto

No lugar do nariz, duas grandes fendas. O rosto gigantesco, os olhos parecendo dois rasgos e a boca deformada. Fatma Abdul Ghaffar nasceu assim no dia 6, em Douma, na região de Ghouta, subúrbio de Damasco. Nove horas depois de vir ao mundo, teve a morte apressada pelos médicos, que consideraram inviável mantê-la viva. Os pais da menina creem que as malformações foram provocadas pelo ataque químico de 21 de agosto passado ; a nuvem de gases letais teria matado pelo menos 1.400 pessoas. Médicos sírios confirmaram ao jornal britânico The Telegraph que a incidência de bebês natimortos em uma clínica para refugiados supera um em cada 10 nascimentos.

;Quando o ataque químico aconteceu, Marwa, minha mulher, inalou o gás e ficou doente. Nós a levamos a um posto médico, onde ela recebeu um banho e melhorou. Nosso bebê nasceu de um modo muito ruim e morreu na manhã seguinte;, lamentou Mahmoud Abdul, 26 anos, pai de Fatma, que rejeita outra explicação para a tragédia que abateu sobre a família. Também na terça-feira, Jood, uma bebê de 4 meses, morreu em um hospital de Idlib. Ela havia nascido sem a metade da perna esquerda e sem vários dedos. A mãe da criança estava com dois meses de gestação quando ficou exposta a gases em Homs, em julho.



Christine Gosden, professora do Departamento de Medicina Molecular e Clínica do Câncer na Universidade de Liverpool e uma das mais renomadas especialistas sobre armas químicas, afirmou ao Correio estar ;profundamente preocupada; com o possível aumento de anormalidades em recém-nascidos sírios. ;Com o auxílio de médicos iraquianos, britânicos e americanos, estudei os efeitos dos ataques de agentes químicos no norte do Iraque e em Halabja. Nossa equipe encontrou um aumento na incidência de graves defeitos congênitos em filhos de sobreviventes;, admitiu ela (leia o Três Perguntas Para).

De acordo com sírios consultados pelo Correio, ataques com o gás cloro teriam sido lançados sobre diferentes regiões do país no mês passado. ;O último deles ocorreu em Harasta, a oeste de Douma, matando pelo menos seis pessoas. Os médicos acusaram as forças de Bashar Al-Assad de usarem a substância, que causa tremores, dificuldades de respiração e problemas neurológicos;, comentou Tariq Al-Damishqi, voluntário em um hospital de campanha de Ghouta. Ele contou que, recentemente, filmou um bebê morto por inanição. O ativista Maa;moun Abu Saqr, 25 anos, baseado em Ghouta Oriental, confirmou que Fatma nasceu em Douma, mas não soube dizer se o caso estaria relacionado ao ataque químico de nove meses atrás. ;Não houve qualquer relatório médico oficial baseado em análises laboratoriais. Cerca de 70% das malformações congênitas ocorrem por razões desconhecidas;, admite. ;Como Ghouta está sitiada há mais de um ano, a desnutrição de gestantes tem levado muitos bebês à morte.;

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