Ingrid Soares
postado em 18/10/2017 06:00
O Correio entrevistou o empresário Flávio Gurgel Rocha, presidente da Riachuelo, que participou de um almoço de grupo de líderes empresariais (Lide Brasília), no hotel Kubitschek Plaza, na manhã desta terça-feira (17/10). Ele se mostra animado com a retomada da economia, que se recupera de forma gradual.
Como você vê a retomada da economia?
Existe uma retomada positiva em curso depois de 24 meses consecutivos de uma enorme recessão, os meses de abril e maio de 2016 foram o fundo do poço. Em abril deste ano, tivemos o primeiro número positivo e vem se desenhando uma trajetória ascendente, prometendo um quarto trimestre melhor. No ano, deve ter um crescimento no varejo em torno de 4% a 5%. Para novembro e dezembro, índices do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV) também mostram uma trajetória progressiva.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) elevou a previsão para este ano do crescimento da economia para 0,7%. Para o ano que vem, a previsão é de 1,5%. Acha que esse índice pode ser maior?
É um número razoável. Será um retomada puxada pelo consumo e o investimento deverá vir num segundo instante. O varejo ainda é frágil no Brasil. Enquanto que em países mais desenvolvidos têm varejo de 30% a 35% do Produto Interno Bruto (PIB) em volume de vendas, no Brasil, mal chega a 20%, ainda com grande incidência de um varejo precarizado pela informalidade. De 2003 a 2014, o Brasil cresceu 40%, o varejo cresceu 120%, mas o varejo de alta performance que são as redes de varejo, que eram praticamente incipientes no começo do milênio, chegaram a crescer de 800 a 900 mil por cento. Isso é bom, pois mostra a formalização e a profissionalização da economia. Gera maior produtividade.
As eleições tendem a dificultar a economia por conta das incertezas no cenário político?
Acho que vai influenciar positivamente, como já está acontecendo. A perspectiva de deixar para trás esses capítulos ruins, gera boas reações no mercado, que se traduzem em melhoria palpável da economia, apesar de toda a crise política. É uma eleição histórica porque o Brasil vai decidir, talvez com 50 anos de atraso, que modelo de país quer ser. O mundo aprendeu que prosperidade é binômio de democracia e liberdade econômica. No Brasil, existem ventos liberalizantes soprando muito fortes. Imagino que o perfil do próximo presidente seja reformista e liberal.
Na sua opinião, o aumento dos impostos PIS/Cofins poderá ser maior para equilibrar as contas públicas?
Não existe espaço para aumentar impostos no Brasil. Existe um teto, um ponto de saturação de carga tributária que já superamos. Pode até aumentar nominalmente as alíquotas, mas se fizer isso, a arrecadação cai, porque aumenta a informalidade, aumenta a sonegação. É necessário fazer um estado brasileiro que caiba no PIB, o estado já está maior que a capacidade de tração de economia. Aumento de impostos e o fechamento do cerco burocrático só trarão a clandestinidade econômica.
Como está a retomada de consumo das classes A, B e C? Qual é a previsão?
Em todos os segmentos há uma volta ao consumo, graças à queda da inflação, à queda da taxa de juros e à queda do desemprego. Atendemos da base ao topo da pirâmide, todo o tipo de consumidores. A perspectiva das reformas também trazem esse cenário e precisam continuar. A previsão para o consumo também é de crescimento.
Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), os juros básicos da taxa de Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic) caíram para 8,25% (com projeção de fechar o ano com 7%), menor nível desde outubro de 2013, quando estava em 9% ao ano. Acha que esse número é suficiente?
É bom o suficiente, mas ainda tem mais espaço para baixar. Quando olhamos para o quadro anterior, já é uma ótima evolução, mas se levarmos em conta a queda da inflação, de 2,5%, ainda existe um juro real muito alto, que quase não oscilou. Tem espaço para baixar, acredito que podemos sonhar com juros abaixo de 5 a 6%.
O Banco Central agiu de forma conservadora? Deveria ter baixado esses índices antes?
Sim, mas do ponto de vista nominal, ainda temos as taxas de juros mais altas do mundo.
Este é um momento ideal para novos investimentos? Pretendem abrir novas lojas? E em outros segmentos?
É um momento para investir. Pisamos por dois anos nos freios, porque a prioridade era preservar o caixa. Mas agora, a ordem é acelerar o programa de expansão física. Serão inauguradas 15 lojas este ano. Para o ano que vem, nossa maior conta de investimento será a renovação de 40 lojas, ao mesmo tempo expandindo fisicamente o número de unidades. Atravessamos a crise sem ter perdido vendas ou fechado lojas, sempre crescendo. Acabamos de completar 70 anos, estamos focados na moda, que é uma poderosa arma de inclusão.