Economia

Cuidado com empréstimos: juros estão caindo, mas ainda são muito altos

Juros estão caindo, mas ainda são muito altos e podem levar à inadimplência

postado em 13/08/2017 08:00

Taxas de juros podem fazer com que o orçamento familiar se deteriore

Desde que o Banco Central começou a reduzir a taxa básica de juros, a Selic, os encargos cobrados de quem toma empréstimos no mercado financeiro estão em queda, mas ainda são altíssimos. O consumidor precisa ter cautela para não se endividar em excesso. Em questão de meses, as taxas podem fazer com que o orçamento familiar se deteriore, e levar o devedor à inadimplência. Segundo especialistas, é preciso buscar a melhor alternativa de financiamento e fugir do perigos dos juros.

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A atendente de telemarketing Damiana Batista, 38 anos, pegou um empréstimo pessoal de R$ 5 mil no banco, com o objetivo de fazer a festa de casamento, mas, como perdeu o emprego, não conseguiu pagar duas prestações. Com o atraso nos pagamentos, as taxas aplicadas à dívida elevaram o valor das prestações de R$ 200 para R$ 395. Além disso, a instituição financeira aumentou o número de parcelas para que dívida pudesse ser quitada.

[SAIBAMAIS]


;Nós tínhamos um acordo que eu quebrei, sim, mas tentei renegociar e eles não quiseram. Eu tive que aceitar da maneira deles e me senti extremamente lesada;, queixa-se Damiana. ;Em quatro anos, a dívida dobrou e só terei condições de pagá-la se conseguir me manter no meu novo emprego. Mesmo assim, será difícil;, acrescenta.

Esse é um cenário ainda comum entre os brasileiros. A inadimplência do consumidor dá sinais de queda, mas os índices permanecem elevados. Em julho, as linhas de crédito pesquisadas pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) registraram diminuição nas taxas. O juro geral para pessoa física caiu 0,06 ponto percentual no mês e 1,62 ponto percentual no ano. O índice médio, de 140,31% ao ano, é o menor desde dezembro de 2015.


Devedores

Mesmo assim, desde o segundo trimestre de 2016, o número de devedores se mantém elevado. No final de julho, 59,4 milhões de pessoas estavam negativadas no país, segundo levantamento do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil). Em relação a junho, houve uma queda de 400 mil inadimplentes. Durante o ano, o recuo foi de 5,53%.

Marcela Kawauti, economista-chefe do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), explica que a taxa Selic baseia todos os juros do mercado. Desde outubro de 2016, quando estava em 14,25% ao ano, a taxa vem caindo. Hoje, é de 9,25% ao ano. ;No ano passado, os bancos estavam com taxas elevadíssimas, porque a inadimplência era grande e, com o desemprego, o risco de créditos era muito maior;, diz a especialista.

A Selic estava no patamar de 14,25% ao ano porque o Banco Central precisava controlar a inflação, que era elevada na época. Com o alívio na carestia e o recuo da taxa básica, as instituições financeiras puderam repassar a queda para os encargos cobrados dos consumidores. No início, o repasse foi pequeno e os juros do mercado só começaram a cair com mais força neste ano. Hoje, com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) abaixo de 3% no acumulado em 12 meses, o BC tem liberdade para cortar ainda mais a Selic, influenciando novas quedas dos juros cobrados pelas instituições financeiras.

;O repasse com menos intensidade e ritmo menor faz parte de um processo normal. Os bancos estão avaliando o risco do crédito. A situação do consumidor ainda está muito difícil. A inadimplência precisa dar sinais de melhora mais consistente;, diz Marcela Kawauti. Segundo ela, está mais fácil conseguir crédito no mercado, mas a situação ainda não está normalizada. ;Começou a destravar, mas ainda não é hora de abrir a torneirinha, porque o risco é muito grande, e o cenário econômico e político, de muita volatilidade;, completa.

Cuidados

Ozeias Ribeiro, 38 anos, trabalha com desenvolvimento de sistemas. Neste ano, ao viajar com a família, ele fez uma despesa de R$ 11 mil no cartão de crédito. Na primeira fatura, Ozeias pagou o valor mínimo e deixou para quitar o resto nos meses seguintes. No entanto, ele se surpreendeu com o aumento da dívida. ;O que era R$ 11 mil ficou quase R$ 15 mil três meses depois. Eu tentei negociar com o banco para pagar depois, mas não quiseram. Há mais de quatro meses tento resolver isso;, afirma.


Os especialistas alertam que os juros do cartão de crédito são os maiores do Brasil, com uma média de 363,3% ao ano. Ao lado do cheque especial, o rotativo é um financiamento mais fácil de adquirir, mas não é o que tem as melhores condições. ;Veja o exemplo do cheque especial, do qual a taxa é de 322% ao ano. Comparando com o consignado, que é de 30% ao ano, o financiamento é 10 vezes mais caro. Bem pior;, analisa Marcela.

Desde abril, uma mudança nas regras do cartão de crédito impede que as pessoas físicas fiquem mais de um mês no rotativo. Quando a fatura não é paga integralmente, o consumidor é obrigado a quitar ou parcelar a dívida no mês seguinte, usando outra linha de financiamento fornecida pelo banco. Apesar de ter juros menores, o parcelamento custa, em média, 157% ao ano. ;Se as pessoas não cuidarem das dívidas, o parcelado vai se tornar o novo rotativo. Os bancos vão aumentar os juros, porque o risco de crédito terá subido;, alerta a economista do SPC Brasil.

A funcionária pública Idhlaine Xavier, 34, descobriu isso da pior forma. Ela não pagou a fatura do cartão e ficou um mês no rotativo. Ao fazer a negociação para parcelar a dívida, o montante, que era de R$ 2.200, foi para R$ 5 mil no final do período de pagamento. Ela tentou quitar antes, mas, depois de um mês, teria que pagar R$ 2.800 no total. ;Eu tentei quitar, mas os juros são absurdos. É uma coisa assustadora. Não é possível resolver a dívida depois;, lamenta.

A coordenadora da Proteste, Maria Inês Dolci, diz que, para ser abusiva, a taxa precisa parecer ;não justificável;. ;É preciso comparar com os juros do mercado. Quando está muito acima do parâmetro e dá para perceber uma abusividade, a pessoa deve procurar um órgão de defesa do consumidor;, sugere.

O consumidor também deve ter cuidado quando vai solicitar crédito para financiamento, seja imobiliário ou de veículo. Vitor Hernandes, sócio idealizador da Jornada do Dinheiro, explica que é necessário ter controle exato dos gastos e das condições finais do negócio. ;A pessoa precisa ter certeza de que vai conseguir honrar todo o pagamento, senão a dívida vai virar uma bola de neve;, diz. ;Para quem já se endividou, o conselho é procurar pagar as pendências que têm juros mais altos, como o rotativo e o cheque especial. Uma possibilidade é trocar essas dívidas por outras mais baratas, como o crédito consignado;, indica.

O educador financeiro Adriano Severo afirma que é necessário pesquisar em vários lugares antes de fechar acordo. ;Assim que a negociação couber no orçamento, a pessoa precisa verificar outras opções, para garantir a mais benéfica, mas é importante que tenha condições de pagar. Não adianta encontrar juros baixíssimos se não tem condições de arcar com os custos;, declara. Hernandes alerta: ;Mesmo os bancos baixando os juros, eles ainda estão entre os mais altos do mundo. A pessoa precisa manter o controle;.

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