O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, se rendeu à realidade e pediu demissão do governo. Esvaziado, a ponto de ser considerado um ministro zumbi na Esplanada, ele admitiu a interlocutores que não havia mais condições de permanecer à frente da chefia da equipe econômica. A perspectiva é de que, já na próxima semana, ele seja substituído. A presidente Dilma Rousseff está à procura de um nome forte para tentar convencer os investidores de que a saída de Levy não implicará em mudanças significativas na política econômica. Ela cancelou as viagens marcadas para hoje e se reunirá com líderes políticos, entre eles, o ex-presidente José Sarney.
Levy anunciou que está deixando o governo ao fim da reunião de ontem do Conselho Monetário Nacional (CMN). Ele surpreendeu os presentes ao dizer que, ;talvez, não esteja aqui em janeiro; para participar do encontro mensal do colegiado que, além do ministro da Fazenda, reúne o chefe do Planejamento e o presidente do Banco Central. Levy acertou seu desembarque do governo no último domingo com Dilma. O combinado, porém, era de que ele permanecesse no cargo até que seu sucessor fosse definido. Mas, ao tornar público o pedido de demissão, o ministro forçou a presidente a apressar a mudança.
As declarações de Levy no CMN se espalharam como rastilho de pólvora por Brasília e pelo mercado financeiro. Apesar de esperada, a demissão era dada como certa apenas em janeiro, com o nome do futuro comandante da Fazenda já digerido pelos agentes econômicos. Mas, desgastado e forçado pela família a evitar mais humilhação, ele confessou a amigos, na quarta-feira, que anunciaria sua saída ainda nesta semana. Segundo ele, não havia mais nada que pudesse fazer, diante da resistência do Palácio do Planalto em realizar um ajuste fiscal consistente.
;Levy mostrou muita tranquilidade ao se despedir de todos, aos quais desejou feliz Natal;, disse um dos presentes à reunião do CMN. ;Para todos que estavam ali naquele momento não restou dúvida de que a contribuição que ele vinha dando ao governo tinha chegado ao fim;, acrescentou. O temor, no Ministério da Fazenda, é de que o sucessor de Levy seja um político populista, que ajude a afundar ainda mais a economia. Não à toa, os principais subordinados do ministro, o secretário executivo, Tarcísio Godoy, e o secretário do Tesouro, Marcelo Saintive, também já estão de partida.
Desconfiança
Nesses quase 12 meses à frente da Fazenda, onde chegou com fama de superministro para colocar ordem nas contas públicas, Levy só colecionou derrotas. O discurso fiscalista se transformou em arma para os inimigos, sobretudo do governo, bombardeá-lo. Seus maiores embates se deram com o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, que, apoiado pelo PT e com livre trânsito com a presidente Dilma, minou qualquer possibilidade de as propostas de ajuste saírem do papel. Barbosa venceu a disputa para a redução da meta de superavit deste ano, de 1,1% para 0,15%, e depois para deficit de até R$ 119,9 bilhões, e convenceu Dilma a enviar ao Congresso proposta de Orçamento de 2016 com rombo de R$ 30,5 bilhões, que resultou na perda do selo de bom pagador do país pela agência de classificação de risco Standard & Poor;s (S).
O golpe de misericórdia ao ministro ;mãos de tesoura; ocorreu nesta semana, quando o Planalto enviou projeto ao Legislativo prevendo a redução da meta de fiscal de 2016, de 0,7% para 0,5%, com possibilidade de o superavit ser zerado. Levy foi contra a medida, mas, sem seu conhecimento, a proposta chegou ao Legislativo. O ministro do Planejamento garantiu que o colega da Fazenda sabia de tudo. ;Tudo no governo é discutido;, afirmou. O certo é que, com tal medida, a agência Fitch também tirou o grau de investimento do país. Assustado, o Congresso aprovou a meta de 0,5%, mas proibiu os abatimentos.
Segundo assessores de Dilma, foi o próprio Levy que criou as condições para deixar o governo. E isso ocorreu quando ele envolveu o Bolsa Família na discussão sobre o ajuste fiscal. Com a proposta no Congresso de corte de R$ 10 bilhões no programa social, Dilma passou a admitir não fazer economia nenhuma para o pagamento de juros da dívida em 2016. O ministro afirmou que ;ajuste fiscal era ajuste fiscal e o Bolsa Família era o Bolsa Família;. A presidente se irritou profundamente, pois viu nas declarações de Levy uma afronta ao governo e ao que ela defende. ;Ali ele caiu;, assinalou um ministro próximo a Dilma.
Opções
São vários os nomes que estão circulando no Planalto como possíveis sucessores de Levy. Entre eles, o do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, mas ele é rejeitado pelo mercado por ser fiel demais ao governo. Nas conversas com aliados, Dilma tem sido aconselhada a escolher um nome com peso político, que teria autoridade para negociar com o Congresso Nacional uma agenda de reformas. Entre os mencionados estão os do ministro do Desenvolvimento, Armando Monteiro (PTB-PB), e do senador Romero Jucá (PMDB-RR), que teria recusado as primeiras sondagens.
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