Diante do agravamento da crise política e da possibilidade considerada cada vez maior de afastamento da presidente Dilma Rousseff, o dólar votou a disparar ontem, chegando perto dos R$ 3,60 no momento de maior nervosismo do mercado. Temendo perder completamente as rédeas da situação, o Banco Central tentou, inicialmente, conter a disparada no gogó, com um pronunciamento do diretor de Política Monetária da instituição, Aldo Mendes. ;O preço do dólar está claramente esticado;, disse.
Segundo o diretor, ;o nível atual da taxa de câmbio está muito acima do que seria explicado pelos fundamentos econômicos do Brasil, mesmo considerando o delicado momento político do país;. ;Os agentes estão agindo com pouca racionalidade. Comprar a moeda nesses níveis pode representar um risco potencial de perda a médio prazo.; No fim da tarde, porém, o BC decidiu tomar uma providência mais concreta e anunciou que vai ampliar a intervenção no mercado por meio da maior oferta de contratos de swap cambial às instituições financeiras.
Os swaps cambiais são operações equivalentes à venda futura de dólares e vêm sendo empregados pelo BC desde agosto de 2013 para controlar as cotações da divisa. Neste ano, contudo, a instituição reduziu a colocação de novos contratos e diminuiu renovação dessas operações. No comunicado feito ontem, a autoridade monetária avisou que vai aumentar a oferta diária de contratos de 6 mil para 11 mil e elevar de 60% para 100% a rolagem dos vencimentos de setembro. Hoje, oferecerá até R$ 5 bilhões ao mercado. O temor do BC é que a disparada do dólar, ao provocar o encarecimento dos preços de bens importados e produtos de exportação, jogue ainda mais lenha na fogueira da carestia e o obrigue a elevar ainda mais as taxas de juros.
Turbulência
Antes que a notícia fosse divulgada, o mercado encerrou as operações com o dólar cotado a R$ 3,537, com avanço de 1,39% em relação ao dia anterior. Foi a sexta alta consecutiva da moeda, que atingiu maior cotação de fechamento desde 5 de março de 2003. Nas casas de câmbio, a moeda foi vendida entre R$ 3,75 e R$ 3,90. O euro chegou a R$ 4,11. A turbulência política não poupou também as ações. A Bolsa de Valores de São Paulo (BM) recuou 0,55%, para 50.011 pontos. Na semana, o Ibovespa acumula retração de 1,68% e, no ano, a variação é próxima de zero. O clima azedou também as negociações no mercado de juros futuros. Os contratos DI com vencimento em janeiro de 2016 subiram de 14,24% para 14,24% ao ano, e os com vencimento em janeiro de 2017 saltaram de 13,76% para 14,21%. A forte volatilidade do mercado fez com que o governo suspendesse, pela manhã, as negociações do Tesouro Direto, que só foram retomadas à tarde.
Paranoia
;O mercado está espelhando a instabilidade política do governo Dilma. As pessoas passam a acreditar que, apesar de não haver impeachment neste momento, não há mais capacidade de governar. O receio com a crise de governabilidade é crescente;, explicou o economista-chefe do banco de investimento Besi Brasil, Jankiel Santos. ;O que ocorreu no câmbio foi puramente reflexo da crise política. As derrotas expressivas do governo no Congresso, nesses últimos dias, e o fato de o vice-presidente da República (Michel Temer) fazer um apelo pela governabilidade e afirmar que a situação é grave mostram que o quadro atual é preocupante e deixam os investidores paranoicos;, afirmou. ;Mais uma vez, o recado dado pelo mercado é que o governo precisa agir e não apenas falar. Falta ação;, criticou.
Santos destacou que as declarações de Aldo Mendes não impediram novo recorde no dólar. ;Isso mostra que nem o BC tem mais força para convencer os mercados;, disse. Para o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, no entanto, parte do mercado entendeu o recado do diretor do BC. ;Ele sugeriu adaptar a atual política de rolagem dos swaps cambiais, o que pode moderar a trajetória do câmbio;, disse ele, acrescentando que o dólar cedeu um pouco e a alta, que chegou a 2,4%, diminuiu para 1,39% no fechamento.
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