postado em 14/10/2014 19:49
Com 75% dos fertilizantes usados no país adquiridos no exterior, o Brasil enfrenta o risco de aumentar a cada ano a importação do produto se não forem feitos novos investimentos na produção nacional, disse hoje (14) José Carlos Polidoro, vice-líder da Rede BrasilFert, criada em 2009 pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para pesquisas na área. Para Polidoro, o Brasil precisa de uma política nacional sobre o assunto, como tem para outros setores do país, ;porque é um setor que requer altíssimos investimentos no processo de mineração e fabricação;. O vice-líder lembrou que, em 2010, o governo elaborou um Plano Nacional de Fertilizantes que, entretanto, não chegou a ser implementado. O plano abrangia ações para incentivar investimentos no setor, visando a ampliar a produção nacional. O Brasil consome atualmente em torno de 32 milhões de toneladas de fertilizantes por ano, das quais 75% são importados, segundo a média dos últimos cinco anos. Os demais 25% são produzidos no país, o que corresponde a cerca de 10 milhões de toneladas.
Polidoro explicou que a tendência é aumentar o percentual de importação se não houver investimentos, porque enquanto o mundo aumenta, em média, o consumo de fertilizantes, anualmente, em 2%, o Brasil aumenta 4%. ;Nós somos, hoje, o quarto maior consumidor mundial;. Pesquisador da Embrapa Solos, Polidoro informou que a Rede FertBrasil objetiva estimular e promover a inovação tecnológica em fertilizantes tanto no país, como na América Latina. Ele esclareceu que o incentivo ao aumento da produção cabe ao governo, por meio dos ministérios da Agricultura e de Minas e Energia, ;para fazer um plano nacional de fertilizantes;.
Para a Rede FertBrasil, ele acentuou que o mais importante é evitar desperdícios no uso dos fertilizantes na agricultura. O pesquisador diz que do total de fertilizantes aplicado hoje na agricultura, em torno de 40% são perdidos de várias formas no solo por falta de uma tecnologia adequada. Nesse sentido, a luta da Rede FertBrasil, em parceria com outros órgãos de pesquisa, desenvolvimento e transferência de tecnologia do Brasil, é aumentar a eficiência e o aproveitamento do fertilizante, seja ele importado ou não. Quanto maior for a eficiência, menor será o custo da produção agrícola no país. Outro desafio é zerar o desperdício. ;É um desafio muito grande, mas é a nossa meta;.
Polidoro destacou também que no Brasil existem várias fontes de nutrientes que não são utilizadas na indústria convencional de fertilizantes por limitações tecnológicas. Ele citou, entre elas, fontes minerais e orgânicas, como a cama de frango (resíduos da produção de frando de corte), que a Política Nacional de Resíduos Sólidos determina, inclusive, que tenham uma destinação correta e não sejam mais dispostas no ambiente.
A Rede FertBrasil busca superar esses entraves tecnológicos, com tencologias mordernas para viabilizar fontes alternativas para a produção de novos fertilizantes no país. Ele ressaltou que se todos os resíduos orgânicos e minerais fossem aproveitados para a produção de fertilizantes, isso reduziria a importação. ;Não diminuiria acentuadamente, mas em torno de 10% a 20% da demanda poderiam ser cobertos com esses novos fertilizantes;. Uma das matérias-primas de resíduos orgânicos é a cama de frango.
Segundo Polidoro, entre 8 e 9 milhões de toneladas de cama de frango são produzidos por ano no país. Se elas forem misturadas com outra parte de fertilizante convencional mineral, se produz um fertilizante organomineral granulado, ;que é um fertilizante ecologicamente correto, porque faz a reciclagem de resíduos;. A rede está procurando ainda desenvolver novas formas de produção de fertilizante convencional a partir de fontes minerais que não são aproveitadas atualmente na indústria brasileira. Entre essas fontes estão o potássio e o fósforo, minerais encontrados em várias regiões brasileiras. "É preciso que sejam viabilizados processos químicos e biológicos para desenvolver rotas tecnológicas que possibilitem o aproveitamento dessas rochas que são encontradas no país para a produção de fertilizantes", disse. Mapeamento feito pelo Ministério de Minas e Energia identificou que o Pará e Mato Grosso são estados que apresentam ocorrência dessas fontes minerais, mas necessitam de inovação tecnológica que viabilize a produção.
O Rio de Janeiro vai sediar a partir da próxima segunda-feira (20/10), o 16; Congresso Mundial de Fertilizantes. Será a primeira vez que esse evento ocorre no Brasil. Polidoro informou que 350 especialistas em fertilizantes do mundo, em várias áreas do conhecimento, participarão do congresso. Durante o evento, serão apresentados os trabalhos efetuados pela Rede FertBrasil e pela Embrapa Solos. ;Esse evento é um marco para nós porque, pela primeira vez, vai se discutir a inovação tecnológica, a ciência dos fertilizantes, em um país da América Latina;. A Rede FertBrasil tem 300 pesquisadores, sendo metade da Embrapa e 50% de outros institutos de pesquisa, universidades e fundações de apoio ao desenvolvimento agropecuário de todo o país.
Segundo o Ministério da Agricultura, há possibilidade de ser elaborado um novo Plano Nacional de Fertilizantes ou mesmo de se implantar o que foi feito em 2010.