Paulo Silva Pinto
postado em 24/11/2013 06:09
O empresário Olacyr de Moraes, conhecido até os anos 1990 como o rei da soja, ainda não desistiu de buscar novas oportunidades de prosperar. Aos 82 anos, e afirmando ser hoje um ;homem rico, mas sem dinheiro;, aposta todas as fichas em jazidas de terras raras ; minerais estratégicos dos quais o país é importador e cuja produção pode ser dobrada com a liberação de suas minas. ;A burocracia existe para atrapalhar e não para ajudar;, protesta, cobrando licenças ambientais para áreas na Bahia e em São Paulo.
Nesta entrevista ao Correio, o ex-agricultor e ex-banqueiro revela que, embora esteja mais comedido, não abandonou o hábito de ter belas e jovens mulheres em sua companhia. Morando sozinho, ele conta que sem elas morreria. Mas descarta o folclore criado em torno de sua figura, de exibicionismo na sociedade paulista. ;Nunca gastaria R$ 50 mil numa noite, como esse tal de rei do camarote;, brinca.
Como o senhor avalia a atual situação econômica do Brasil?
O momento é preocupante. Quem é consciente está apreensivo com o que está ocorrendo, a exemplo da possibilidade de redução na nota de crédito do país. É tudo um contrassenso; vivemos uma situação de pleno emprego, mas com baixo crescimento. Somos gigantes, mas enfrentamos uma máquina pública paralisante. A burocracia existe para atrapalhar e não para ajudar. Há seis anos, descobri dois minerais de terras raras em Barreiras (BA) e em São Paulo, mas o licenciamento ambiental não sai.
Os ambientalistas e órgãos de controle apontam riscos à biodiversidade. O senhor discorda?
Se a minha mina começasse a ser explorada poderia levar grande progresso para a região. É a mesma dificuldade enfrentada na construção de hidrelétricas na Amazônia.
O senhor começou a se dedicar a agropecuária em Mato Grosso durante o regime militar?
Foi em 1966, nas franjas da Amazônia. Não se produzia nada lá. Era preciso levar os garrotes de caminhão para engordar em São Paulo. Se fossem pelo chão perdiam metade do peso. Quando cheguei à Chapada dos Parecis, nem capim se podia plantar lá. Morreram 2 mil cabeças de gado da fazenda, em razão da acidez e da falta de micronutrientes na terra, hoje uma das melhores do país. Descobri uma jazida de calcário e começamos a usá-lo para corrigir o solo. Quando passei a produzir grãos, o problema era o escoamento da safra, que até hoje representa um custo muito alto.
Por aí que o senhor decidiu construir uma ferrovia?
Quando comecei a fazer a Ferronorte, chamaram-me de louco, que não teria carga. Hoje, a ferrovia está lotada todo o tempo. Meu plano era chegar até Porto Velho (RO), de um lado, e a Santarém (PA), do outro (o trecho mais novo, inaugurado há dois meses, chega a Rondonópolis, a 200km de Cuiabá). Com a ferrovia até Santarém, os grãos embarcariam muito mais perto de mercados consumidores da Europa. O produtor brasileiro ainda paga US$ 100 para chegar ao porto e o dos Estados Unidos, US$ 10.
Por que a ferrovia não deu certo? Acredita que ela será feita?
Claro. Quem vai abastecer de alimentos esse mundo todo senão o Brasil? Assinei um contrato com o governo em 1989 em que ele se comprometia a construir, com recursos da Sudam (Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia), uma ponte sobre o Rio Paraná. Fiz 200km de ferrovia e ainda recuperei o trecho paulista, que não era usado havia 40 anos. O governo levou oito anos para fazer a ponte. A Sudam não liberou um centavo. Preferiu fazer política, pulverizou o dinheiro. O governo me deve pelo menos R$ 1 bilhão. Nem sequer me pagou pela participação na obra da Usina de Xingó (SE).
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