Agência France-Presse
postado em 03/07/2012 09:23
Londres - O escândalo das manipulações do Libor - o índice que fixa as taxas de juros dos empréstimos interbancários em Londres, custou nesta terça-feira (3/7) o cargo do diretor-executivo do banco britânico Barclays, Bob Diamond, convertido em símbolo dos excessos do mundo das finanças.
"A pressão exterior sobre o Barclays alcançou um nível que colocava em perigo a empresa e isso nós não poderíamos permitir," disse o diretor norte-americano para explicar sua demissão surpresa. "Estou muito decepcionado porque os acontecimentos da semana passada dão uma imagem do Barclays e de seus empregados que não poderia estar mais distante da realidade", afirmou Diamond. Na quarta-feira passada, o Barclays anunciou que terá que pagar ao todo 290 milhões de libras - 360 milhões de euros - por manipular o Libor e seu equivalente europeu, o Euribor.
As taxas de juros interbancários definem o preço através do qual os bancos emprestam dinheiro mutuamente, mas também, de maneira indireta, o preço dos créditos aos particulares e as empresas. O presidente do conselho de administração do Barclays, Marcus Agius, anunciou na segunda-feira sua demissão para tentar acalmar a opinião pública e os políticos britânicos. Agius continuará sendo presidente até que se encontre um novo diretor, disse o Barclays nesta terça-feira. O governo britânico aprovou a mudança de direção do banco.
[SAIBAMAIS]"É a decisão correta para o Barclays e para o país", disse o ministro de Finanças, George Osborne, em declarações à rádio BBC. "Espero que seja o primeiro passo por uma cultura de responsabilidade no setor bancário britânico", completou. Bob Diamond, que na quarta-feira terá que comparecer ante o Parlamento britânico para dar explicações, estava sob muita pressão e o líder da oposição trabalhista, Ed Miliband, pediu sua demissão. Desde sua entrada no Barclays em 1996, Diamond se converteu no responsável pelas atividades do banco de investimento, posto que ocupava quando aconteceram as manipulações das taxas de juros.
O dirigente, apontado como "o banqueiro das 100 milhões de libras" por seus saldos estratosféricos, havia se convertido no símbolo dos excessos e da arrogância do mundo das finanças, em um país que sofre com o desemprego e a recessão. Com a saída de Diamond, o escândalo, no entanto, ainda não está encerrado, porque continuam abertas em vários continentes investigações por tentativa de manipulação do Libor e do Euribor. Outros bancos, como o Royal Bank of Scotland (RBS), também estão envolvidos no caso.
Além das sanções regulamentares, as autoridades britânicas também poderiam aplicar sanções penais contra os banqueiros. O primeiro-ministro britânico, David Cameron, anunciou na segunda-feira o lançamento de uma comissão de investigação parlamentar sobre o caso. "Esta história terá claramente outras repercussões em todo o setor, mas (Diamond) já é uma vítima significativa e deixa aberto o problema da sucessão na cabeça do banco", disse Mike McCudden, diretor da área de derivativos do Interactive Investor.