postado em 12/05/2011 08:07
O ímpeto dos brasileiros em gastar mais do que podem tem motivado uma onda de calotes no país. O indicador de inadimplência do consumidor, divulgado ontem pela Serasa Experian, registrou alta de 1,5% em abril ante o mês anterior, representando o maior avanço para o período desde 2002.O resultado não foi bem recebido pelos economistas da instituição, que esperavam queda no volume de dívidas.
As despesas com financiamento de veículos geraram grande impacto no índice, mostrando a falta de controle do brasileiro, que não pensa duas vezes antes de parcelar um carro novo e se esquece de que as despesas vão muito além das prestações ; incluem combustíveis, seguros e impostos.
Por causa disso, a expectativa é de que haja um aumento ainda maior nos calotes, com os bancos e as montadoras enchendo os pátios de veículos tomados dos inadimplentes. Também se espera uma desaceleração nos financiamentos de carros, pois a expectativa é de que o governo baixe novas medidas para conter o crédito e, por tabela, o consumo e a inflação. ;Ainda há uma procura grande por diversos tipos de financiamento. As regras que o governo adotou no fim do ano passado para tentar diminuir as vendas não surtiram tanto efeito;, disse o economista da Serasa Carlos Henrique de Almeida.
Mas o grande dilema enfrentado pelo governo é conseguir equacionar a diminuição dos índices inflacionários sem que isso afete o desenvolvimento do país. ;A grande dúvida é saber com que intensidade as autoridades planejam fazer o desaquecimento da economia. Reduzir a inflação gera impacto no crescimento;, lembrou Almeida.
Dificuldades
Após o crescimento da inadimplência em 3,5% no terceiro mês do ano, a expectativa era de queda no indicador. Mas, com a alta da inflação, que está tirando o poder de compra dos brasileiros, o calote avançou 1,5% em abril, mostrando que o brasileiro não está conseguindo mais encaixar as dívidas no orçamento doméstico. ;O custo de vida cresceu bastante, especialmente nos últimos três meses. Isso resulta em uma dificuldade maior para o pagamento das despesas;, explicou Almeida. O calote só não foi maior por causa dos feriados de semana santa.
;Com menos dias úteis em abril, a inadimplência deveria ter caído. E o pior resultado em nove anos mostra que há algo mais profundo do que o simples endividamento da população;, analisou. Porém a Serasa não acredita que o índice possa bater qualquer recorde ou fugir muito da previsão para o ano, de 8% do crédito total.
Na comparação com abril do ano passado, o calote do consumidor teve alta de 17,3%, registrando a décima segunda elevação consecutiva. No acumulado dos primeiros quatro meses, o avanço foi de 20,3%. Dívidas bancárias e não bancárias (contas de água, luz, faturas do cartão de crédito e outras despesas) representaram 87% dos atrasos de pagamento no período.
Cheque sem fundo de R$ 1.287
No acumulado dos primeiros quatro meses do ano, o brasileiro deixou de pagar, em média R$ 312,44 com as despesas gerais. Já o calote nos bancos atingiu valor médio de R$ 1.284,76. Os cheques sem fundos continuam sendo o principal motivo para dores de cabeça. De acordo com a Serasa Experian, em média, o brasileiro não honrou em ia R$ 1.286,89 nesta forma de pagamento.