Tetê Monteiro
postado em 19/12/2010 08:00
Os brasileiros mais ricos são também os mais altos. Fruto somente da genética? Não. A combinação é mais um efeito da desigualdade econômica do país que, segundo aponta o estudo Growth and Inequalities of Height in Brazil (Crescimento e Desigualdades de Altura no Brasil), interfere na estatura dos homens nascidos no território nacional. A pesquisa constata que 20% dos brasileiros adultos mais abastados são, em média, seis centímetros mais altos que os 20% mais pobres.;Estudamos as relações entre o crescimento econômico e as desigualdades na altura da população;, explica o pesquisador e coordenador do Núcleo de Estudos de Política Monetária do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), Cláudio Shikida, que desenvolveu o trabalho em conjunto com o pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), Leonardo Monasterio, e o professor da Universidade de Brasília (UnB), Luiz Noguerol.
Segundo o pesquisador, as diferenças registradas na altura dos brasileiros podem ser explicadas por fatores econômicos, como a desigualdade de renda e o PIB per capita no estado onde o indivíduo morou durante a infância. ;Essa variável mede o efeito da alimentação na altura. Uma boa nutrição na infância está diretamente associada à altura. A proposta (da pesquisa) não é aumentar a estatura das pessoas, mas corrigir a nutrição na infância. Estudos científicos comprovam que uma má nutrição compromete o desenvolvimento intelectual;, afirma.
Ronaldo X Pelé
Conforme Shikida, se a diferença de renda pode resultar em seis centímetros a mais para os mais ricos em relação aos mais pobres, é porque altura e soma da riqueza do país são siamesas. ;A altura do brasileiro e o Produto Interno Bruto (PIB) andam juntos. Quando se observam os gráficos, os dados quase colam;, afirma o pesquisador.
Dois dos maiores ídolos do futebol nacional podem ser um bom exemplo para ilustrar essa ;consanguinidade; entre PIB e tamanho do brasileiro. Ronaldo Luis Nazário de Lima, o Ronaldo Fenômeno, tem 1,83 metro. Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, 1,72 metro. A estatura de ambos foi usada pelos autores do estudo em um congresso internacional sobre desigualdades econômicas. O objetivo era mostrar a outros pesquisadores presentes que o tamanho dos brasileiros evoluiu com a economia interna. Detalhes: Ronaldo nasceu em 1976 e Pelé, em 1940. Dos anos 40 até 1980, o PIB por renda per capita no país cresceu 3,2% ao ano, em média. Portanto, as quase quatro décadas de diferença resultaram em 9 centímetros a mais na altura do jogador corinthiano.
O estudo dos pesquisadores brasileiros atravessou fronteiras e tem capítulo no livro Living Standards in Latin American History: Height, Welfare, and Development, 1750-2000 (Os padrões de vida na história da América Latina: Altura, bem-estar e desenvolvimento), publicado pela Universidade de Harvard (EUA). Na pesquisa, Shikida e os dois colegas analisaram dados de 40 mil homens entre 21 e 65 anos de idade, usando como base os dados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) de 2003, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Diferenças
Altura (em cm) dos brasileiros levando-se em conta a
renda familiar per capita
Por região
Mais pobre Mais rico
Norte 165,15 170,20
Nordeste 165,44 170,95
Centro-Oeste 168,40 172,95
Sudeste 168,71 172,91
Sul 170,04 173,82
Por cor
Mais pobre Mais rico
Amarelo 164,33 168,52
Branco 167,12 173,03
Índio 162,96 170,86
Pardo 165,69 171,05
Preto 166,47 172,74
Fonte: Growth and Inequalities of Height in Brazil