Tarcila Rezende - Especial para o Correio
postado em 05/02/2019 06:40
Depois de receber mais de 170 mil pessoas em São Paulo, a mostra 50 anos de realismo ; Do fotorrealismo à realidade virtual finalmente chega a Brasília. Inaugurada nesta terça-feira (5/2) no Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília (CCBB), a exposição traz cerca de 90 obras que retratam a evolução do movimento nas últimas cinco décadas, com pinturas, esculturas, vídeos e instalações interativas de 30 artistas internacionais e brasileiros. Com uma programação completamente gratuita, a exposição fica na capital até 28 de abril.
A mostra resgata a pioneira geração de pintores da foto e do hiper-realismo, passando pela contemporaneidade dos retratos e esculturas, até chegar à realidade virtual. A exposição aproxima o público das obras, trazendo um desconforto ao confrontar o ser e o aparentar e o real. Além disso, a mostra expõe esculturas hiper-realistas, um dos maiores destaques da exposição, ao retratar a delicadeza e a proximidade com o corpo humano.
A historiadora e curadora responsável pela exposição, Tereza de Arruda, destaca que a mostra aborda a relação de identidade entre imagem e realidade, juntamente com a verdade e a realidade. ;Por essa aproximação, surge um certo estranhamento e desconforto no momento em que nos perguntamos o que é a realidade e qual sua importância na representação artística;, completa.
Destinada ao público em geral até aos mais especializados, a exposição tem vários níveis de leitura e nichos de interesse, em uma linguagem completamente moderna. ;É uma oportunidade incrível para quem quer conhecer mais sobre o segmento, porque até então não houve um recorte da representação do realismo como estamos trazendo, partindo do realismo até a realidade virtual;, convida Tereza de Arruda.
Colaboração de Londres
A mostra contou com a consultoria da especialista em arte hiper-realista Maggie Bollaert. Ela colaborou com a exposição com mais de 70 obras do acervo que tem em Londres, onde possui uma galeria com pinturas realistas. Maggie elegeu obras especificamente para o público brasileiro. ;Eu pensei que as pessoas do Brasil estão muito conectadas com a água pelo clima tropical. Tento buscar um ângulo em que a população do local onde há uma mostra possa se sentir mais identificada. Se eu trouxer tudo, e o visitante não tem nenhum tipo vivência ou conexão, não faz sentido;, completa Maggie.
Para a especialista, o título da mostra é perfeito, pois a exposição traz realmente um recorte da evolução do realismo durante esses 50 anos. ;Desde como o fotorrealismo representava a cultura americana dos anos 1960 até a chegada da obra digital. Eu acho que essa pequena exposição é uma oportunidade rara. Você não vai encontrar uma exposição tão balanceada quanto essa;, afirma.
Maggie enfatiza, ainda, que em exposições como essa não há espaço cometer erros. Ela explica que foi necessário fazer uma seleção especial de obras para essa mostra, já que o espaço que o CCBB oferece não é tão grande. ;Se fosse em local maior, caberia colocar uma seleção mais ampla de obras que representam o realismo, mas nem todas são boas, ou menos significativas. Mas essa não dá. Tem que ser o suprassumo, e é isso que o público vai encontrar;, comenta a especialista.
Evolução em etapas
A mostra será dividida em categorias de acordo com a temporalidade das obras. A primeira sala traz os pintores precursores do fotorrealismo e do hiper-realismo. O público vai encontrar obras de artistas como o inglês John Salt, que retrata as paisagens suburbanas ou parcialmente rurais da Inglaterra. Outro nome é o do norte-americano Ralph Goings, cujas obras a óleo e aquarelas frequentemente representam o estilo de vida da classe operária americana dos anos 1960.
Na segunda etapa da exposição, estão os artistas que se dedicam às linhas contemporâneas do hiper-realismo, com retratos do zimbabuano Craig Wylie, conhecido pela surpreendente profundidade psicológica de suas pinturas, e do inglês Simon Hennessey, que apresenta em suas obras detalhes do rosto humano.
Nesta etapa também será possível conferir trabalhos de natureza morta e paisagens urbanas, como as pinturas de grandes dimensões dos artistas ingleses Ben Johnson e Raphaella Spence. Há também a participação do pernambucano Hildebrando de Castro, que se dedica a representações geométricas inspiradas em fachadas de prédios modernistas. Na categoria natureza-morta é possível conhecer o trabalho do espanhol Javier Banegas e as obras do baiano Fábio Magalhães, que mescla retrato, natureza-morta e paisagem, nas quais a representação do corpo humano transmite desconforto, percorrendo o limite entre fotografia e pintura.
Um espaço da exposição também será destinado a obras tridimensionais de escultores de diferentes gerações do hiper-realismo: o paulista Giovani Caramello, único escultor hiper-realista brasileiro; o norte-americano John DeAndrea, pioneiro na criação de figuras humanas hiper-realistas; e o dinamarquês Peter Land, que usa o humor para explorar padrões humanos de comportamento.
Na última etapa, chega-se às novas tecnologias. A sala Multiuso do CCBB está inteiramente dedicada a obras de realidade virtual, expostas em monitores, projeções espaciais ou com o auxílio de óculos de realidade virtual. Entre os artistas estão o japonês Akihiko Taniguchi, a alemã Bianca Kennedy, a francesa Fiona Valentine Thomann, e a brasileira Regina Silveira, que traz um vídeo de animação digital, na qual utiliza mídias distintas em uma mesma obra, sendo pioneira na mescla de vídeo, fotografia, colagem, xerox e postais. Para todas as obras que necessitam de tecnologia, o CCBB estará disponibilizando os equipamentos, com monitores disponíveis para ajudar a manipular o dispositivo.
Conversas sobre realismo
Além da abertura da exposição, nesta terça a mostra contará ainda com um debate sobre realismo na contemporaneidade, às 19h30. O bate-papo, também com entrada gratuita, terá mediação da curadora da exposição, Tereza de Arruda, e contará com a participação de Maggie Bollaert, especialista em arte hiper-realista e consultora do evento, e dos artistas Hildebrando de Castro e Andreas Nicholas-Fischer. ;É um leque bem abrangente de participantes, e todos envolvidos nesse contexto da realidade. São pessoas que nunca expuseram juntos falando o que é a realidade, do uso da tecnologia, qual o papel dessa tecnologia para a criação dos trabalhos;, revela Tereza.
Serviço
50 anos de realismo ; Do fotorrealismo à realidade virtual
Centro Cultural Banco do Brasil Brasília (CCBB). De 5 fevereiro a 28 de abril de 2019. De terça a domingo, das 9h às 21h. Entrada gratuita. Classificação indicativa livre