Adriana Izel
postado em 10/09/2015 07:30
A vida de Pablo Emilio Escobar Gaviria se mistura com a da Colômbia e também com o surgimento do narcotráfico como empresa no mundo. Existe um país antes do traficante e depois dele. No entanto, essa narrativa evidencia o surgimento do narcoterrorismo, com o uso de muita violência e intimidação por parte dos traficantes àqueles que se opunham às suas exigências e ainda a milhares de inocentes.Pablo Escobar, que morreu em 1993 após uma operação em conjunto entre a Colômbia e os Estados Unidos, sempre será lembrado como uma figura controversa. Até hoje há pessoas na cidade de Medellín, que mantêm quadros com o rosto do narcotraficante. Essa é a parte da população que se beneficiou com o jeito ;populista; do criminoso, que criou um conjunto habitacional conhecido como Medellín sem favelas (e hoje batizado como bairro Pablo Escobar), em que entregou centenas de casas para os moradores miseráveis da região de Moravia.
O mesmo Pablo Escobar que mandava matar pessoas, entregava muito dinheiro para seus protegidos e mostrava amor incondicional família. Esses diferentes lados do ;Patrão;, como ficou conhecido, costumam fascinar roteiristas e escritores, que querem preencher as lacunas do que sabem dessa rica história de ação.
[SAIBAMAIS]O exemplo disso é a série Narcos, criada pelo norte-americano Chris Brancato (Arquivo X) e dirigida pelo brasileiro José Padilha (Tropa de elite), da Netflix. A trama estreou em 28 de agosto na plataforma e, desde então, tem roubado a cena no Brasil e nos Estados Unidos ; lá na Colômbia a trama não foi tão bem recebida pela população.
No seriado, que contém 10 episódios, Pablo Escobar é vivido por Wagner Moura. O ator precisou engordar 20kg, aprender espanhol e chegou a passar uma temporada em Medellín. Se o sotaque em espanhol vem sendo bem criticado, a atuação de Moura como Escobar é exatamente o contrário. O brasileiro conseguiu passar uma mistura de empatia e antipatia ao personagem, além de ter incorporado até trejeitos do traficante como o famoso ;andar de pato;.
;É um personagem importante para o bem e para o mal. O fato de se ter outras produções sobre Pablo Escobar só representa a importância que ele teve na Colômbia, além de sua questão maligna, que não dá para ignorar. Ele passava essa ideia de bandido bom que ajudava a comunidade. Até hoje há lugares em Medellín em que ele é cultuado. Mas, como ator, eu tinha que pensar nele primeiro como ser humano. Pablo foi uma das pessoas mais malvadas do mundo, mas era um homem apaixonado pela família, um bom marido, um bom amigo, carismático e tinha esse discurso populista;, analisa o ator Wagner Moura.
Outro ponto de vista
É esse amor pela família que está exposto no livro Pablo Escobar meu pai ; As histórias que não deveríamos saber, lançado neste ano no Brasil e escrito pelo filho do traficante, Juan Pablo Escobar. Na obra, Juan destaca o carinho do pai com os familiares, mas também relata os crimes violentos do patriarca, que o levou a precisar mudar de nome (hoje ele se chama Juan Sebastían Marroquín Santos) e fez com que sua mãe e irmã precisassem lidar com os maiores traficantes do mundo, como os integrantes do Cartel de Cali, inimigos do Cartel de Medellín chefiado por Escobar.
;Este não é um livro de repreensões e julgamentos; é um livro que propõe profundas reflexões sobre a configuração da pátria colombiana e de suas políticas, e sobre por que figuras como meu pai podem surgir em suas entranhas. É a redescoberta de um homem, com todas as suas virtudes, mas também com todos os seus defeitos. O que faço aqui é explorar de maneira pessoal e profunda as entranhas de um ser humano que, além de meu pai, chefiou uma organização mafiosa de proporções que a humanidade nunca havia visto. Peço perdão publicamente a todas as vítimas que meu pai fez, sem exceções;, diz Juan Pablo Escobar na apresentação de Pablo Escobar meu pai.
Diferentes narrativas
Mena
De Doug Liman. Com Tom Cruise. O filme em fase de produção contará a história do piloto norte-americano Barry Seal, que trabalhou para Escobar levando drogas aos EUA. Ainda não há previsão de lançamento.
Narcos
De Chris Brancato, Eric Newman, Carlo Bernard e José Padilha. Com Wagner Moura, Pedro Pascal e Boyd Holbrook. A série estreou em 28 de agosto na Netflix com 10 episódios. Uma segunda temporada está confirmada.
Pablo Escobar meu pai ; As histórias que não deveríamos saber
De Juan Pablo Escobar. Tradução de Miguel Del Castillo e Bruno Mattos. Editora Planeta, 477 páginas. Preço médio: R$ 44,90.
Escobar ; Paraíso perdido
De Andrea Di Stefano. Com Benicio Del Toro (foto), Josh Hutcherson e Claudia Traisac. Longa lançado em junho deste ano sobre os últimos dias do traficante.
Pablo Escobar: O senhor do tráfico
De Carlos Moreno. Com Andrés Parra (foto), Angie e Nicolás Mondero. Série exibida em 2012 na Colômbia e disponível na Globosat no Brasil. Ao todo, 74 episódios de média de 40 minutos.
Pablo Escobar ; Ascensão e queda do grande traficante de drogas
De Alonso Salazar Jr. Editora Planeta, 361 páginas. Preço médio: R$ 29,90.
Pecados do meu pai
De Nicolas Entel. Com Sebastian e Maria Isabel Santos. Um documentário narrado pelo filho e pela viúva de Pablo Escobar. Duração de 1h34 min.
Quem matou Pablo Escobar?
De Pablo Galfré. Uma série documental sobre uma das versões da morte de Pablo Escobar. Disponível na Netflix.
Trechos do livro Pablo Escobar meu pai
"Esta aproximação à história de meu pai me levou a conversar com personagens que por muito tempo permaneceram escondidos, e que só agora se dispuseram a contribuir para esse livro, para que o meu juízo e o da editora não fossem parciais. E, sobretudo, para que ninguém, nunca mais, herde ódios como os que existiram"
"De cara surgiu um problema muito sério, porque meu pai adquiria uma grande quantidade de imóveis e outras possessões, mas as escrituras não estavam em seu nome. Era preciso recuperá-las. Havia muitas em meu nome e no de Manuela, mas já estavam em processo de extinção de domínio no Ministério Público"
"- Eles sabem muito sobre o assunto, e surgiu uma oportunidade para eu mencionar sua teoria sobre a traição de seu tio, de que tanto falamos. Então, é verdade! Eu não conseguia acreditar quando eles me confessaram que seu tio de fato colaborou diretamente na morte do seu pai.
- Viu como eu tinha razão? De outro modo, como explicar que os únicos exilados da família de Pablo Escobar sejamos nós? Roberto continuou vivendo tranquilamente na Colômbia, minhas tias também, sem ninguém sequer tocar neles ou ir atrás deles"
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